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Comportamento

Voo AF-447 ficou na memória de quem buscou 228 corpos no oceano

Coronel aviador da FAB publicou livro sobre o acidente aéreo que parou o Brasil e a França em 2009

Jéssica Fernandes | 29/03/2022 09:03
Silvio segura o 1º livro da carreira sobre o AF-447. (Foto: Arquivo Pessoal)
Silvio segura o 1º livro da carreira sobre o AF-447. (Foto: Arquivo Pessoal)

No dia 1º de julho de 2009, o chefe da divisão de busca e salvamento da FAB (Força Aérea Brasileira) foi informado sobre o desaparecimento de um avião com 228 pessoas a bordo. A partir daquela ligação, que seria somente mais uma na rotina de trabalho, a história de Silvio Monteiro Jr, de 51 anos, se entrelaçou definitivamente com a do voo Air France 447.

A experiência dele coordenando a operação, os bastidores e detalhes da investigação sobre o caso são alguns dos temas que Silvio traz na obra “Voo Air France 447: Desmistificando o maior acidente aéreo brasileiro”. O livro de nove capítulos, que é resultado de dois anos de pesquisa do autor, será lançado na quarta-feira (30), a partir das 18 horas, na Sweet Confeitaria.

Após 12 anos, Silvio lembra os detalhes do acidente aéreo e os 26 dias de buscas pelos corpos das vítimas e os destroços do Airbus A330, que decolou do Rio de Janeiro rumo à Paris. “Eu aconteci no meio desse evento”, afirma Silvio. As primeiras informações que recebeu sobre o caso pareciam atípicas, porém longe de revelarem a dimensão do que estava por vir. “Naquele momento, Brasil e Senegal chegaram a conclusão de que esse avião estava atrasado e que seria necessário abrir uma operação de busca e salvamento. Aí, eu sou acionado”, lembra.

Durante a operação, navios e aviões ajudavam nas buscas. (Foto: Arquivo Pessoal)
Durante a operação, navios e aviões ajudavam nas buscas. (Foto: Arquivo Pessoal)

A princípio, as autoridades não sabiam, mas a aeronave havia caído no Oceano Atlântico, no ponto denominado como “Tasil”, que é o limite entre as regiões de busca e salvamento entre ambos os países. “Até aquele momento, a gente sabia que o avião tinha voado, mas depois dali, não podíamos afirmar com certeza que ele tinha voado”, explica.

O coronel aviador relata o período onde o acidente ganhou um significado palpável e o momento no qual a operação de busca e salvamento precisou ser encerrada. “Os primeiros destroços foram localizados no terceiro dia e os primeiros corpos só no sexto. Com 26 dias, chegou-se a conclusão que não tínhamos mais condições de encontrar mais corpos e destroços, porque a corrente que passa no oceano vai espalhando e os levando para lugares diferentes”, justifica. Nesse intervalo, dos 228 corpos, entre passageiros e tripulantes, somente 154 foram encontrados no mar.

Mesmo com anos de carreira na FAB, Sílvio revela que, em 2009, não saiu ileso do impacto causado pelo desastre do AF-447. “Dois dias depois do acidente, o ministro da Defesa fez uma apresentação e eu entrei no saguão onde estavam os familiares antes da apresentação. Você começa a conversar com as pessoas, entende a dor delas e aquilo te afeta. Eu já tinha 15 anos de experiência e não tinha como agir como se nada tivesse acontecido”, afirma.

Equipe da FAB durante a chegada dos corpos das vítimas. (Foto: Arquivo Pessoal)
Equipe da FAB durante a chegada dos corpos das vítimas. (Foto: Arquivo Pessoal)

A ideia de publicar o livro - Depois do encerramento da operação, o chefe da divisão não perdeu o envolvimento com o AF-447. De 2009 a 2012, ele participou como representante brasileiro no processo de investigação do acidente e, posteriormente, foi convidado a ministrar palestras no país sobre o tema.

Por essas e outras razões, Silvio resolveu iniciar o projeto que resultou na obra. Durante a pandemia, o autor fez o levantamento de dados e documentos sobre o caso com o apoio de um amigo, o Eneias Teixeira Gomes, que em meio ao processo, faleceu em decorrência da covid-19. "Isso foi um tapa na cara, eu continuei o processo de escrever o livro, porque também devia isso a ele", relata.

O trabalho, segundo ele, procura oferecer uma experiência nova ao público. "O livro tem uma pegada meio contemporânea, a ideia é entregar uma experiência diferente ao leitor. Ele tem QR code, você vai poder usar seu celular e assistir simulações, vídeo de apresentação”, revela.

Os leitores também podem conferir na obra a forma como esse acidente mudou a história da aviação no Brasil e no mundo, além de entender detalhes do voo, da operação e o que causou a queda do Airbus A330. Com capítulo de perguntas e respostas, Silvio explica as principais dúvidas do público em relação ao caso.

O lançamento acontece amanhã (30), a partir das 18h, na Sweet Confeitaria, localizada na Rua Catumbi, 159. Após o evento, a obra pode ser adquirida no site da Life Editora.

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