No Salão Azul, equipe trabalha junta há décadas, desde os anos de fama
O tempo médio dos funcionários no Salão Azul é de 20 anos. Não há mocinhos no lugar, só senhoras e senhores (muitos de cabelos brancos) com uma simpatia exemplar no contato com os clientes e intimidade de família entre equipe. Situação rara em salões de beleza que pipocam por Campo Grande, a maior parte com uma rotatividade de profissionais incrível.
Quase todos passaram a maior parte da vida cortando cabelos ou pintando unhas no Salão azul, juntos, ali no Centro da cidade, lugar que há décadas servia de ponto de encontro de políticos e o mais antigo em funcionamento em Campo Grande.
Em 1990, o prédio foi destruído em um incêndio, mas em 12 dias voltou a funcionar na cor original, o azul. O glamour acabou, mas a clientela continua grande no endereço da Cândido Mariano. Em plena segunda-feira, o entra e sai é surpreendente.
Apesar de tantos anos no mesmo emprego, no lugar ninguém sabe ao certo a idade do salão, nem o motivo do nome. “Tem gente que diz que é porque antigamente entravam aqui e diziam: Tudo azul?”, lembra o barbeiro Antônio Pereira Torres, de 59 anos, o Toninho.
Mas o colega Ademir tem uma história mais convincente: “É porque sempre foi assim: as paredes azuis, o piso azul, até os móveis eram de fórmica azul”. A primeira passagem dele pelo local tem quase 40 anos. Trabalho em 74, depois em 77 e agora está no serviço desde 1995.
Os motivos do batismo parece não importar muito, o que os funcionários gostam mesmo é de lembrar pessoas famosas que já atenderam. A cabeleireira Celina Vilalba, de 62 anos, exibe fotos do casal Nicette Bruno e Paulo Goulart. “Fiz o cabelo dela, uma pessoa simples. Era assim, quando artista aparecia aqui, vinha para a gente fazer uma escova. Até a Ana Botafogo já sentou nesta cadeira”.
Na lista de famosos, comprovada em fotografias, também aparecem o pagodeiro Netinho, jogadores de futebol, a atriz Laura Cardoso e o falecido João Paulo, da dupla com o sertanejo Daniel. “Ele apareceu aqui 8 meses antes de morrer”, conta a cabeleireira Terezinha Gonçalves.
Ao lado, funcionava o Rio Hotel e na esquina de cima o Hotel Campo Grande, o que rendia muitos clientes ao Salão Azul. Os dois fecharam e as celebridades sumiram.
Os políticos das antigas também costumavam se encontrar no salão para conversar. Lúdio Coelho é um dos lembrados com mais carinho, assim como o ex-governador Wilson Barbosa Martins, que só agora deixou de aparecer. “Ele está muito velhinho, mas até quando era governador vinha direto cortar o cabelo”, diz o barbeiro Toinho.
Nos tempos de glória, o salão chegou a ter uma filial na Barão do Rio Branco. “mas o Plano Cruzado acabou com tudo”. Da segunda loja, ficaram as cadeiras de ferro e alguns móveis, usados para repor o que se perdeu no incêndio.
Desde a criação, há mais de 50 anos, quatro proprietários já assumiram a empresa, mas foi José Tomaz Rangel de Aquino o patrão mais duradouro.
Hoje, ainda é possível cruzar no Salão Azul com alguns deputados, desembargadores, o presidente da OAB, Leonardo Duarte e o juiz federal Odilon de Oliveira, que de 15 em 15 dias aparece para dar um trato nas unhas, sempre com a manicure Aparecida Maria da Silva, há quase 30 anos no Salão Azul. “Atendo ele há mais de 20 anos. Já apareci com o Odilon em revistas, na TV. Não tenho do que reclamar, meus clientes são meus amigos, fiéis”.
Unhas dos pés e das mãos são feitas da mesma maneira desde que começou: de molho na água. “Não uso aqueles cremes, gosto do que dura. Uma minha fica até 2 semanas intacta”, garante a manicure exibida, com todo o direito de quem nunca deixou a clientela na mão.
“Eu não ‘me acho’, só sei que nunca parei de trabalhar porque as pessoas gostam do meu serviço. Sustentei meus filhos assim, comprei casa, assim como todo mundo que construiu a vida aqui. Somos uma família que cresceu graças a este salão”.
Com as eleições, a expectativa é de mais movimento ainda, já que o espaço é tradicional e conta pontos para quem quer chegar à prefeitura. “É sempre assim, a gente já fica esperando”, comenta o proprietário Nilo Taira, que há comprou o salão quando voltou de uma investida no Japão.
Mas também não há decadência. Os clientes fiéis prendem cabeleireiras, barbeiros e manincures no Salão Azul. Thiago Russo Nantes, hoje com 27 anos, corta o cabelo desde criança no Salão azul, sempre com Toinho. “Vinha com minha mãe e meu pai. Daí cresci e agora também faço a barba aqui”, detalha sentado mais uma vez na cadeira do barbeiro.