Após pedir demissão, Lu viu sonho funcionar 1 mês e dívida acumular
A pandemia fechou a casa de cultura que começou como no vagão da Orla Ferroviária, e funcionou apenas 1 mês no novo endereço
Depois de pedir exoneração do cargo que ocupava como auxiliar bucal na prefeitura para investir no Laricas, Lu levou aquela puxada de tapete do coronavírus. A pandemia fechou a casa de cultura que começou como "Laricas da Lu" lá no vagão da Orla Ferroviária, e funcionou apenas 1 mês e 10 dias no novo endereço levando o nome de "Laricas Cultural". Com dívidas a pagar e precisando do sustento para a família, uma vaquinha on-line foi criada para ajudar a liquidar o saldo.
Luana Peralta tem 34 anos, é mãe de quatro filhos, e uma das figuras que mais tem se destacado no cenário independente das artes na Capital por não desistir. Sem apoio do poder público, ela incentiva artistas a usarem o espaço que começou com a gastronomia, mas se encontrou, de fato, na cultura.
"Foi uma puxada de tapete e tanto. Pedi exoneração do meu concurso no final de janeiro. Inauguramos dia 8 de fevereiro, e na primeira semana de março a gente parou de funcionar. Ficamos 1 mês e 10 dias. Está sendo bem difícil, porque a gente tem dívidas da inauguração, e é a minha única renda", conta Lu.
A vaquinha on-line dá a chance para o público ajudar, contribuindo com o valor mínimo de R$ 25,00, você concorre a prêmios das colaboradoras do Laricas, que abriga oito lojas de mulheres empreendedoras, com brindes como camisetas, canecas, vale brechó e uma tatuagem de Letícia Maidana no valor de R$ 300,00.
O Laricas surgiu há quase 2 anos, no vagão da Orla Ferroviária, em frente à Morada dos Baís. Foi um dos únicos a vingar na proposta de transformar o espaço em corredor gastronômico graças a persistência de Lu.
"Era para ser um vagão gastronômico, mas foi caminhando para o lado artístico, porque a gente sentia que as pessoas tinham necessidade de demonstrar seu trabalho de alguma forma, e não tinha espaço. Começamos a fazer sarau às terças, e em seguida apareceram músicos, teatro, dança, poesia, muita coisa envolvendo as artes, então a gastronomia foi ficando de lado e fomos focando na parte artística, para fomentar a cultura de Campo Grande de forma independente", descreve.
O trabalho no Laricas também foi o caminho que Luana encontrou para estar mais presente na vida dos quatro filhos, além de ser uma maneira de fazer aquilo que ela gosta. O marido também havia pedido demissão, ainda em 2019, para tomar conta do Laricas. "A gente não esperava que viria essa pandemia. Devemos, mais ou menos R$ 10 mil de aluguel, fornecedor, água e luz. É um espaço grande e com contas altas", detalha.
Fechar as portas foi um momento difícil para Lu, que sentiu a impotência diante de um vírus que tem tirado vidas todos os dias, além da frustração de ter aberto mão de tantas coisas para seguir no sonho. "Era num vagão, a gente conseguiu trazer ele para a Antônio Maria Coelho, e ampliar com muita dificuldade, sem grana, com ajuda de pessoas que doaram tinta, artes, trabalho, mão de obra", relata.
O último dia de casa aberta foi em 15 de março, quando o Laricas sediou um debate da Casa Satine. "Foi muito triste, porque eu tento fazer isso há muito tempo. Não é um bar, é um espaço de cultura, onde a gente agrega tudo o que faz parte da cultura, onde qualquer intervenção artística é bem vinda", contextualiza.
Questionada do porquê não abrir já que decretos já têm liberado o funcionamento com capacidade reduzida de espaços assim, Lu explica que primeiro é pela situação financeira. Por estar devendo fornecedores, água e luz, não é possível nem abrir as portas. E segundo, pelo que ela considera responsabilidade. "A gente teve 23 casos em apenas um dia da covid-19, é muito irresponsável abrir as portas neste momento. Está sendo bem difícil para nós, mas a prioridade é a nossa saúde. Para tudo voltar ao normal, a gente deveria estar nessa quarentena", avalia.
Quando tudo voltar ao "normal", Luana quer fazer uma festa junina. Já tem em mente até quem vai abrir a noite, o Mandacaru, um grupo de forró de meninas. Enquanto isso não acontece, a vaquinha segue e ela também vai agilizar para nesta semana começar a vender marmitex e lanches. "Alguma coisa para tentar suprir a sobrevivência, eu tenho o contrato, não posso desvincular do prédio assim, e também não pretendo desistir do Laricas tão fácil", enfatiza.
No sábado que vem, uma das artistas que começou no espaço vai fazer uma live, Beca Rodrigues, e parte da arrecadação será destinada ao Laricas.
"A primeira coisa que eu vou fazer quando reabrir é chorar. Está sendo bem difícil também porque sinto uma falta muito grande da galera. Meus clientes não são apenas clientes, são amigos. Aqui parece um churrasco de domingo, tem um quintal, todo mundo se conhece, dialoga, é muito legal", finaliza Lu.
Para ajudar na vaquinha, clique aqui.
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