Cadeira de balanço feita com orelhão é uma das criações de mostra de design
Criatividade e sustentabilidade não estão só nas roupas da Bocaiúva Moda Criativa e Design de MS, instalada na antiga estação ferroviária de Campo Grande para mostrar o que de bom é produzido aqui. Há também peças de decoração e mobiliário que seguem esses requisitos, algumas delas com resultado surpreendente.
No vagão escolhido por Gabi Dias para a instalação artística "Repaginário", a cadeira de balanço é de ar romântico, mas tem uma história dura. Foi feita a partir de uma orelhão depredado, recolhido por catador de recicláveis e doado à artista. O arrendondado da peça foi revestido de tecido colorido e ganhou uma estrutura de ferro como suporte, para garantir um merecido balanço.
A "Casa de Vidro", de Bonito, trabalha no lema “vidro não é lixo” e reutiliza garrafas descartadas para produzir novos utensílios. A ideia surgiu de uma maneira interessante, história já contada aqui no Lado B. Carlos Cardinal é arquiteto e era dono de restaurante, teve a ideia de fazer os copos da garravas que iam para o lixo, aprendeu a cortar vidro e assim surgiram muitos outros modelos.
Dez anos depois, a empresa já consegue reciclar cerca de 80% do vidro descartado na cidade de Bonito e o transforma em potes para a cozinha, abajur ou lustre. Tudo é reaproveitado, de recipientes de remédio aos garrafões de vinho. Os copos mais simples custam R$ 2,00.
Na mostra, há muitas ideias expostas, algumas bem comerciais, outras experimentais. Várias deram certo, outras nem tanto, mas valem como inspiração por não seguirem o padrão de lojas convencionais.
Laura Rosa apresenta mudas plantadas em rolhas. Aos 52 anos, ela gosta de vinho e pensou como poderia aproveitar aquela rolha que sempre jogava fora. Moradora de uma chácara, procurou recursos naturais em casa mesmo para montar os pequeninos arranjos.
Quem conta a história é a artista plástica Indianara Obregon, de 34 anos, que cuida da participação nas feiras, enquanto a mãe fica com a criação dos arranjos vivos, feitos também com cascas de árvore, materiais reutilizados e espécies de plantas suculentas, que não precisam nem de muito sol e nem de muita água.
“Ela é apaixonada pela natureza e sempre pensa em reciclar tudo, reutilizar. Ela começou fazendo mudinhas nas caixinhas de leite. É tudo reciclável e bom para quem tem apartamento”, conta a filha. As peças vão de R$ 15,00 a R$ 50,00 de acordo com o tamanho.
Indianara já gosta de trabalhar a arte com o pincel. Ela pinta peças de gesso e cuida dos detalhes. Uma coruja com aspecto envelhecido, por exemplo, ganhou aplicações de miçangas de pérolas. As peças custam de R$ 10,00 a R$50,00, mas Indiara, com muita simpatia, sempre está aberta a negociação. "Gosta dessa parte de conversar e conhecer pessoas", explica.
Para quem curte uma decoração que valorize a cultura hip hop, o "Viva Rua" tem um pouco dos grafiteiros daqui. São desenhos feitos em telas, portas de armários, garrafas e vinis. O trabalho é de Rafael Marreco, João, Pedro Ópio e Diego Verme, que imprimem arte geralmente nos muros.
Os "Maninhos" são ideias bem legais. São “bonequinhos” feitos em latas de tinta vazias que vira suvenires, por R$ 30,00. “Eles tem os detalhes desenhados, o capuz e as roupinhas todas no estilo”, comenta a produtora Lidiane Lima, integrante do Viva Rua.
Em um estilo completamente diferente, a artesã Marly Sanshik, de 60 anos, produz com fibras. Ela faz cestos tradicionais, mas também espelhos e flores usando palha de bananeira e de milho.
“Quando eu fui morar em chácara, vi quanta diversidade nós tínhamos em fibras regionais e sementes. Comecei a trabalhar com eles”, relata. Com alegria Marly é apaixonada pelo que faz já há 10 anos. As peças custam de R$ 1,50 a R$ 120,00.
A Bocaiúva Moda Criativa e Design de MS termina neste sábado na antiga Estação Ferroviária de Campo Grande, ao lado da Feira Central. O portão é aberto às 16h.