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Consumo

Camisetas são busca por resistência e independência de coletivo

Campanha está sendo realizada para apoiar o desenvolvimento de coletivo formado por mulheres kadiwéu

Aletheya Alves | 22/08/2023 07:21
Projeto "Traços Essenciais" tem como foco investir e valorizar coletivo de mulheres. (Foto: Divulgação)
Projeto "Traços Essenciais" tem como foco investir e valorizar coletivo de mulheres. (Foto: Divulgação)

Localizada em Porto Murtinho, a aldeia Campina abriga um conjunto de mulheres kadiwéu que sonha com a independência através de sua arte. Estruturado no coletivo Galetà/Exonaga, o grupo já realiza trabalhos e encontrou apoio através de uma campanha coletiva de venda de camisetas para captar recursos para desenvolver oficinas de arte e cultura.

Em parceria com uma ação nacional, a La Luz Brasil, 100 camisetas serão produzidas e, com parte dos valores arrecadados, o grupo de mulheres kadiwéu poderá desenvolver oficinas de arte e cultura com meninas e mulheres da aldeia. Especificamente sobre o coletivo, as mulheres enfocam a transmissão da cultura por meio de pinturas, objetos de design, peças de moda, tapeçaria e outras manifestações artísticas em conexão com a natureza.

Designer, professora e mestranda em Antropologia Social pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Benilda Kadiwéu explica que a ideia surgiu como um convite para apoiar as mulheres do coletivo Galetà/Exonaga da aldeia Campina. Já conhecendo as integrantes, ela narra que essa é mais uma iniciativa para que os espaços sejam conquistados.

“O pessoal do La Luz Brasil viu meus trabalhos e fizeram esse convite para eu participar com eles na campanha. O projeto envolve camisetas e parte dos valores obtidos vão para as meninas do grupo Galetà, que faz apresentações com dança e arte”, comenta Benilda.

Explicando sobre o cenário, a artista detalha que o coletivo funciona como um modo para que as integrantes consigam ser cada vez mais independentes. Neste caso, a campanha vem para financiar oficinas de arte e cultura Kadiwéu.

Por isso, como um todo, Benilda defende que a ideia é tanto fortalecer a cultura quanto gerar renda. “Elas têm muita força de vontade pensando na independência, mas precisam desse auxílio. Nós temos sim voz, mas precisamos de oportunidade para exercitar”.

Ao todo, 100 camisetas serã enviadas através da campanha. (Foto: Divulgação)
Ao todo, 100 camisetas serã enviadas através da campanha. (Foto: Divulgação)

Ela mesma sendo um exemplo de como o incentivo é necessário, a artista conta que tem se dedicado a não evoluir individual, mas sempre coletivamente. Seguindo a tradição Kadiwéu, Benilda começou a aprender sobre modelagem de cerâmica aos 7 anos.

“O indígena começa desde o berço, cada família começa a incentivar as crianças e aos 7 anos é iniciado na modelagem de cerâmica. Você vai fazendo bichinhos para brincar e comecei assim, com minha mãe me ensinando. Minhas tias eram ceramistas e elas sempre me apoiaram muito”, explica a artista.

Inicialmente, os trabalhos eram feitos por amor e carinho pela cultura localmente, mas a artista percebeu que poderia sair de sua aldeia para estudar na Capital e unir as esferas. “Quando cheguei na cidade, escolhi fazer o curso de Design e me encantei porque ali falava minha língua no sentido de aprender um pouco sobre o respeito que a universidade teve ao me ouvir”.

Arte foi desenvolvida pela designer Benilda Kadiwéu para o projeto. (Foto: Divulgação)
Arte foi desenvolvida pela designer Benilda Kadiwéu para o projeto. (Foto: Divulgação)

Hoje, integrando a Subsecretaria de Políticas Públicas para Povos Originários, ela explica que se viu podendo fazer mais. “Com o Design, comecei a fazer telas e outros produtos, vi a possibilidade de pensar no segmento artístico comunitário sempre que tenho oportunidade. Nós fazemos oficinas, parcerias, tento levar sempre uma kadiwéu comigo quando vou viajar”, diz.

Pensando nesse contexto, para a artista, a realização de ações como a Traços Essenciais significa abrir caminhos e espaços. “Hoje, também pensando no mestrado, eu tenho ainda mais vontade de fazer a defesa e proteger a questão cultural e ambiental da minha cultura. Quero contar para as pessoas sobre a nossa realidade porque as pessoas sabem que existimos, mas falta o espaço igualitário para fazer com que nossos direitos sejam colocados em prática”.

Disponíveis até o dia 3 de setembro, mais informações sobre as camisetas podem ser conferidas através do perfil no Instagram @laluzbrasil.

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