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Consumo

Kombi que já pegou fogo é xodó e ateliê de Kassandra, que ama viajar

As viagens pararam pela pandemia, mas o amor continua por Kombi que até já pegou fogo

Letícia Ávila | 22/03/2021 06:17
A Kombinando é o xodó automotivo da professora de educação física Kassandra (Foto: Arquivo Pessoal)
A Kombinando é o xodó automotivo da professora de educação física Kassandra (Foto: Arquivo Pessoal)

Kassandra cresceu vendo seu pai, amante de carros antigos e mecânico, consertar e trocar carros. O fascínio do pai passou para a filha, que começou a frequentar eventos de autos antigos e logo comprou sua paixão, a Kombi com a qual ela viajava para todos os cantos de Mato Grosso do Sul. Se a pandemia dificultou para as viagens acontecerem, a professora de educação física Kassandra Creto Fernandes espera por tempos melhores para poder voltar a vender seus artesanatos e viajar pelo país.

“Meu pai sempre foi um paizão; me levava para rios, passeios e fazendas a bordo das máquinas maravilhosas sobre quatro rodas”. Pelo amor dele, Kassandra aprendeu a amar também os eventos de carros antigos, e saía de Rio Brilhante para todos os estados pelos eventos. “Fotografava os carros e levava as fotos pra ele, nossa, ele ficava até emocionado”.

Kassandra e o pai acompanhavam o mesmo amor pelos carros de época (Foto: Arquivo Pessoal)
Kassandra e o pai acompanhavam o mesmo amor pelos carros de época (Foto: Arquivo Pessoal)

Um dia, em um evento aberto ao público, Kassandra teve a ideia de levar seu pai em um de seus muitos carros. “Meu pai tinha muitos carros antigos, mas não restaurava. O que ele mais usava era um Impala”. Pois foi justamente esse o carro que, com os amigos, Kassandra resolveu levá-lo ao evento.

O carro estragou três vezes no caminho, mas veio”, lembra.

Professora de educação física, Kassandra não tinha muitos amigos com o mesmo gosto pelos carros antigos e começou a ir aos eventos acompanhada de seu irmão. “O mundo automobilístico ainda é muito reservado ao homem, devido à sociedade não ter evoluído tanto no quesito machismo”.

Kassandra viaja o país com a sua Kombi "Kombinando" (Foto: Arquivo Pessoal)
Kassandra viaja o país com a sua Kombi "Kombinando" (Foto: Arquivo Pessoal)

Ela então embarcou na história, indo de carona acompanhando os eventos mesmo sem ser dona de um carro antigo. “Sempre quis comprar uma Kombi, mas minha família não era a favor”. Kassandra foi até o Paraná atrás de um anúncio de kombi, mas quando chegou lá, infelizmente era um golpe. “A minha sorte era que eu estava com meu irmão”.

Um dia, dois irmãos pedreiros estavam vendendo uma Kombi que estava parada há muito tempo. “Comprei a tal da Kombi. Já está comigo há cinco anos”.

Engana-se quem pensa que o companheirismo de Kassandra e da Kombinando, como ela chama, seria 100%. A Kombi estragava tanto que dava até um “ar misterioso”, pois nunca era vista. “Ela ficava mais nas oficinas do que comigo mesma, tinha problema mecânico, elétrico, de tudo quanto é coisa”, lembra.

Kombi já deu muito trabalho mas também continua garantindo orgulho à dona (Foto: Arquivo Pessoal)
Kombi já deu muito trabalho mas também continua garantindo orgulho à dona (Foto: Arquivo Pessoal)
Kassandra vende e fabrica vários tipos de artesanato (Foto: Arquivo Pessoal)
Kassandra vende e fabrica vários tipos de artesanato (Foto: Arquivo Pessoal)
Produtos voltados para amantes de carros são destaque na loja (Foto: Arquivo Pessoal)
Produtos voltados para amantes de carros são destaque na loja (Foto: Arquivo Pessoal)

A professora então acompanhava os eventos dos autos antigos pelo país não mais de carona, mas com a Kombi, do ano de 1975 e última edição de fabricação do modelo corujinha, com os dois parabrisas dianteiros.

Em 2019, além de viajar para acompanhar os eventos, ela criou a Kombinando Komig, sua loja na Kombi, onde começou a vender artesanatos, camisetas, objetos decorativos e lembranças pela estrada. “Como artesã, eu confeccionei artes, tiaras, estojos, almofadas e outros materiais para vender nas viagens. Coloquei cortinas, arrumei todo o interior com estantes de caixotes e decorei”.

Pelo menos, ela tentava acompanhar as viagens. “A Kombi já fundiu o motor chegando no evento, já foi puxada de corda… Já me ofereceram motor emprestado para poder voltar, já ficou na cidade, estragou no meio do caminho...”.

Mesmo com perrengues, Kombi segue ativa (Foto: Arquivo Pessoal)
Mesmo com perrengues, Kombi segue ativa (Foto: Arquivo Pessoal)

Apesar das dificuldades, a Kombi segue sendo o xodó e o orgulho de Kassandra. “Perrengue a gente vive demais, mas não abre mão de ter o carro. Não é pelo carro, mas pela atmosfera que ele nos proporciona”.

Ela até mesmo pegou fogo. “Foi um susto muito grande pra mim. Em agosto de 2019, ela começou a pegar fogo comigo dentro”. Sensação de impotência: foi como Kassandra descreveu. Com a Kombi lotada de mercadoria e o tanque cheio de gasolina, a professora ficou presa pelo cinto. Quando conseguiu sair, o extintor de incêndio não funcionou.

Kombi sobreviveu ao incêncio, que guarda muito história sobre quatro rodas (Foto: Arquivo Pessoal)
Kombi sobreviveu ao incêncio, que guarda muito história sobre quatro rodas (Foto: Arquivo Pessoal)

“No dia seguinte, ela estava toda acabada. Porém, foi um milagre. Não tinha uma peça queimada das mercadorias, estava tudo intacto”. A parte elétrica e o motor foram severamente danificados, mas com muita parceria, os amigos de Kassandra logo foram ajudar.

“Fizeram uma vaquinha e logo eu tinha dinheiro pra refazer tudo o que precisava. Deus foi muito poderoso em minha vida, meus amigos e família me ajudaram muito, e logo parti pra estrada”.

Como vendedora na Kombi, Kassandra se inspirou em outras pessoas que também vendiam nos eventos. Como artesã, ela resolveu produzir suas próprias peças e trazer outras novidades para a venda. “Eu vi que tinha Kombi vendendo várias coisas, mas ninguém com a minha ideia. Eu queria muito entrar pra esse mundo, sou apaixonada”. Porém, com a pandemia, os eventos foram cancelados e ela teve que ficar em casa.

Produções são feitas à mão, com destaque para a Kombi (Foto: Arquivo Pessoal)
Produções são feitas à mão, com destaque para a Kombi (Foto: Arquivo Pessoal)

Sem garagem para a Kombi e segurança para armazenar os produtos, Kassandra resolveu fazer da própria casa, sua própria loja. “Comecei a vender on-line. Como algumas pessoas tinham necessidade de ver fisicamente os produtos, também abri a loja física. Sempre com proteção, usando álcool em gel e máscara. Além de sobreviver trabalhando, temos que nos cuidar”, ressalta.

Hoje, ela vende seus próprios produtos, feitos à mão, como almofadas, jogos de cortinas para Kombi, camisetas com apliques e detalhes artesanais e todo tipo de lembrança que os amantes dos carros, e principalmente das Kombis, também vão gostar.

Quem quiser saber mais sobre o trabalho da Kombinando Komig, pode acessar seu perfil no Instagram.

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