Mara coloca relíquias em quadros para narrar histórias de famílias
Cansada de ver lembranças familiares guardadas, Mara teve a ideia de transformar itens em decoração
Durante a vida, Mara Fechner de Pina foi reunindo objetos da família e, sem coragem de doar ou jogar fora, guardou cada peça. Cansada de ver as “relíquias” nas gavetas, a arquiteta teve a ideia de transformar os objetos e memórias em histórias contadas em quadros.
“A gente vai guardando alguns objetos e o nosso coração não deixa se desfazer, ficamos com dó e deixamos ali. O problema é que ninguém curte as lembranças com elas na gaveta, mas ao mesmo tempo não é automático pensar que isso pode se tornar uma decoração”, conta Mara.
Olhando o que havia em casa, ela narra que memórias de infância foram ativadas e percebeu que tudo aquilo era importante demais para ser deixado para lá. “Têm coisas que só essas fotos, esses objetos trazem de novo e pode ser qualquer item. Às vezes é uma caixa de ferramenta, um documento, um pingente, tudo isso dá para ter uso”.
A partir de um tema principal, Mara começa a pensar em quais itens formam uma narrativa e, em casa, escolheu fazer uma caixa de costura sobre a mãe, Eulina Fechner de Pina, e outra com os caminhos do pai, José Dorilêo de Pina.
Se aprofundando, a arquiteta explica que uma das principais características da mãe era o amor pela costura. “Minha mãe aprendeu a costurar quando tinha entre 7 e 8 anos, então nunca deixou isso para trás. Ela fazia de tudo um pouco, era uma das suas coisas favoritas”.
Devido à história da costureira ter começado cedo, a filha decidiu que a figura de uma menina costurando iria completar bem o quadro de memórias.
No quadro da mãe, Mara explica que exceto a figura, tudo foi deixado pela dona Eulina. “Os carretéis são da máquina que era dela e a tesoura também é de costura. Ela gostava muito de fazer crochê, de bordar, então sempre guardei esses que ela fez”.
O quadro ainda conserva alfinetes, botões e uma foto da juventude de Eulina. De acordo com Mara, o retrato foi feito pouco antes do casamento com José e permaneceu guardada durante toda uma vida.
“Minha família sempre foi cuidadosa com as coisas, nós sempre tivemos o hábito de guardar e conservar. Tenho tanta coisa dos meus pais, mas precisei selecionar alguns itens para compor esses quadros iniciais”, conta.
Já no de José, o que conta a história são itens do Exército e vínculos com a época em que trabalhou na Campanha Nacional de Alimentação Escolar. “Meu pai foi capitão do Exército, mas teve um problema de saúde e o aposentaram. Ele não queria de jeito nenhum ficar sem trabalhar e, depois de se formar como professor, foi trabalhar à frente da merenda escolar. Era um orgulho para ele”.
Sobre as aves, os pássaros que acompanham em figuras são lembranças do gosto que José tinha pelos bichos. “Ele adorava ter por perto, então quis colocar aqui também porque era uma parte dele”, diz.
Além das lembranças deixadas pelos pais, Mara também aproveitou sapatinhos sociais do filho. “Meu filho usava demais, me lembro que ele não queria tirar por nada, falava que era ‘sapato de homem’. Eu fiquei com dó de me desfazer e agora coloquei no quadro também”.
Com esse exemplo, ela comenta que as possibilidades são imensas e para construir a decoração só é necessário puxar as lembranças e relatar. “Eu converso com os clientes, eles me contam as histórias e juntos montamos”.
Para encontrar Mara e pensar no seu próprio projeto, é necessário ir até a Feira Bolívia no segundo domingo do mês ou no Bosque da Paz, que é realizado aos terceiros domingos.
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