O olhar mais humano por trás das lentes tirou a fotografia do estúdio
A luz, a paisagem, os componentes que a própria natureza oferece. A brisa, o foco, o olhar, a criatividade guiada pela sensibilidade. O toque que vai além do clique e do ajuste no flash. Um olhar mais humanizado tirou o sorriso do estúdio e deu lugar à espontaneidade das ruas e de cenários do cotidiano. Estilo ou tendência, o fotografado se tornou protagonista não restrito a quatro paredes e por trás das lentes, o trabalho que leva não só a técnica, como a subjetividade de quem clica.
O sorrir, a sensação, o sentimento que sucede ou o que antecede o momento das fotos. As imagens hoje conseguem transmitir mais do que a comemoração da data, a história de uma vida. Desde que os ensaios fotográficos ganharam asas e eventos que antes obedeciam o protocolo, tiveram as correntes quebradas, é que se vê pelas redes sociais, cada vez mais, fotos de um cotidiano à sua maneira. Um trabalho que não é de agora, mas que vem despertando a paixão pela arte em que faz ou admira a fotografia.
Muitas vezes a gente até é pego de surpresa, como se vivesse a felicidade dos noivos depois do 'sim' ou compartilhasse do frescor do sorriso sapeca de uma criança. Gente que nunca se viu na vida, mas que parecia tão perto, pela fotografia.
Allan Kaiser, 23 anos, abandonou Engenharia pela Fotografia. Priscila Mota, 26 anos, encontrou a Fotografia no Jornalismo. Os dois desenvolvem trabalhos Campo Grande afora e são alguns dos profissionais que vem trabalhando a sensibilidade pelas lentes. Dando a gente 'comum', aquele ar de foto de revista.
Ele ganhou a primeira câmera em 2010 e começou por conta própria a estudar e fazer cursos. Como sempre gostou de moda, achou que fosse seguir a vertente, mas entrou de cabeça nos casamentos. O momento mais importante da vida das mulheres. Numa mistura de sentimento de fotografar e documentar artisticamente, viu o trabalho despontar, à época pelo Orkut. Depois da publicação de ensaios, começaram a surgir pedidos de orçamento até que a demanda chegou ao casamento.
Para não recusar serviço, ele de pronto, disse que fotografava casamentos. O primeiro deles, foi de bicão, Allan passou pela Perpétuo Socorro e entrou vestindo camisa polo para fotografar. Subiu até no altar e foi embora antes que o olhar crucial do fotógrafo contratado pela noiva o fuzilasse. a experiência estava apenas começando.
Hoje o trabalho é visto e divulgado pelo Facebook e o jovem já acumula no currículo, um casamento fotografado na Inglaterra. Com o trabalho da fotografia mais acessível, basta uma olhada no portefólio que as pessoas já pedem orçamento. Vivendo há um ano e meio como profissional, o foco das lentes está nos casamentos e sessões de família, mas sem descartar a paixão pela foto de rua, do cotidiano, de gente.
"A minha fotografia eu defino como foto sentimental e artística. Às vezes a noive está entrando na igreja e eu pego o olhar de alguém para ela. Meu foco não é simplesmente a noiva, é contar um pouco da história que às vezes está em personagens secundários que estão olhando para ela de modo incrível", retrata. O gosto por contar histórias leva o jovem a fazer até 3 mil fotos em um único 'sim'.
Se é tendência ou não, ele prefere acreditar que a fotografia como é feita hoje foi uma descoberta que sempre existiu e que as pessoas que ainda não sabiam.
O trabalho que começou nos corredores da Universidade Católica Dom Bosco até a agenda de casamentos concorrida em São Paulo. Jornalista por formação e fotógrafa por talento e paixão, Priscila Mota descobriu o que queria na faculdade e seguiu o foco das lentes depois que formou.
As imagens revelam a riqueza dos detalhes construídos na simplicidade que vem dos próprios 'modelos'. A iluminação, o ângulo e cenário produzem, no conjunto, uma foto conceitual e artística. Mas no fundo, no fundo, o que ela faz mesmo é resgatar os valores pelos cliques.
"Hoje em dia a fotografia é uma forma de terapia, de registrar aquele momento ou aquilo que ela até tinha se esquecido que tinha e que está precisando ser resgatado", descreve.
Na sala de casa, nas ruas, no gramado, nos parques. O olhar da fotógrafa está nas pessoas e no que elas são. Fator que contribui para a escolha do cenário que vai compor a arte final. "O local tem que ter uma relação com a pessoa, de modo que ela fique à vontade para registrar o que ela é. A composição não tem uma regra é a partir do que a pessoa é, do que eu conheço dela", aprofunda.
Com a proposta de um trabalho íntimo e muito próximo é de se olhar as fotos e também querer fazer igual. "Depois que fazem, amam o resultado e acabam se perguntando porque não fizeram antes. A pessoas às vezes não se enxerga mais como ela é". Esta aí, a fotografia que saiu do estúdio talvez veio para devolver a gente que se perdeu por aí.