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Consumo

Quando falta de grana bateu à porta, professora fez as próprias roupas

Professora de História hoje aposta no reaproveitamento de tecido para criar roupas novas no dia a dia

Thailla Torres | 23/05/2021 07:10
Camiseta feita por Dayane usando tecidos que não tinham mais uso. (Foto: Arquivo Pessoal)
Camiseta feita por Dayane usando tecidos que não tinham mais uso. (Foto: Arquivo Pessoal)

Na colação de grau do curso de História, em 2017, que Dayane Pereira Bento queria usar algo especial, mas não tinha dinheiro para comprar roupa nova. Foi quando ela pegou a máquina de costura da mãe e uma saia que usou na festa de conclusão do ensino médio e arriscou fazer uma peça nova para sua formatura.

“Pensei que seria um símbolo usar o tecido da saia que eu não usava mais para fazer um cropped. Fiz uns cortes e costurei do jeito que achava que ia funcionar, foi na coragem mesmo. Ficou usável e teve um significado super especial pra mim”, conta.

Dayane adorou a ideia da ressignificar tecidos e desde então não parou de costurar. As dificuldades financeiras também foram motivo extra pra ela se jogar na costura e criar as próprias roupas. “A ideia inicial surgiu da escassez. Tinha acabado de começar a trabalhar como professora, recém formada, dinheiro era uma coisa que eu não tinha. Mas eu tinha um desejo bem forte de me expressar com as minhas roupas. E no armário tinha algumas roupas que ninguém usava, ou seja, matéria prima barata”.

Conjuntinho super descolado para o dia a dia ou ocasião especial. (Foto: Daivison Pedrê)
Conjuntinho super descolado para o dia a dia ou ocasião especial. (Foto: Daivison Pedrê)

Dayane foi atrás de cursos gratuitos e vídeo aulas no YouTube de costura e modelagem, foi assim que descobriu várias outras costureiras que reaproveitavam retalhos e roupas para fabricar produtos.

“Existem várias informações de costura e detalhes para enfeite que as costureiras fazem na hora da confecção da roupa. Preservar ao máximo as características originais na hora de desenvolver algum produto é também uma forma de valorizar esse serviço que já foi feito. Sendo assim meu trabalho é agregar valor para a peça, dar um novo significado, com cada corte ou nova costura que faço. Ou até mesmo usando a pintura ou o bordado para isso. Faço a mesma coisa com os retalhos e o resíduo têxtil”.

Dayane já trabalhou no ateliê de costura da Central de Comercialização da Economia Solidária e lá junto com as colegas de trabalho desenvolveram duas coleções usando o reaproveitamento criativo. “Uma de camisetas feitas com retalhos dos cortes de uma camiseteria em 2019 e outra de pochetes feitas com tecido de guarda-chuva e sobras de malote no começo de 2020. Foi uma experiência ótima e pude trabalhar ao lado de pessoas maravilhosas que foram importantíssimas pro meu desenvolvimento como artista”.

Outro modelinho fruto da costura criativa da professora.  (Foto: Daivison Pedrê)
Outro modelinho fruto da costura criativa da professora. (Foto: Daivison Pedrê)

Atualmente ela oferece o re-design também como um serviço e desenvolve junto com o cliente uma roupa ou até mesmo acessórios a partir das roupas que eles levam até ela. “É importantíssimo que as pessoas saibam que as roupas e até mesmo os lençóis já usados têm potencial para se transformar e continuar em uso como outra coisa. Porque não transformar um lençol em sacolas de tecido reutilizáveis, ou saquinhos para guardar ou dar de presente. Porque não pegar duas camisetas com avarias e transformar em uma só, retalhos podem virar uma saia, ou até aquela camiseta do seu ex pode virar um conjunto de top e saia maravilhosos. As possibilidades são infinitas”.

Dayane explica que a importância de seu trabalho é a redução de descarte de tecido. “Já sabemos que a indústria têxtil é muito poluente além de ser uma das que mais explora mão de obra, e tudo isso para entregar produtos muito baratos ao mercado. Essa lógica de produção acelerada causou danos terríveis e nós estamos sendo afetados, algumas pessoas pagam com suas vidas.  Fora que são toneladas de resíduo têxtil descartado por dia no Brasil, sendo assim o tecido mais ecológico para usar é esse mesmo que está indo pro lixo”.

A movimentação que o reaproveitamento criativo causa na moda não é de hoje, mas se intensificou com a pandemia, afirma. “E eu acho ótimo por que vários re-designers têm ganhado visibilidade com seus trabalhos, a indústria da moda ter voltado seu olhar para isso é mais do que obrigação, até porque o descarte é um erro de design”.

Em casa, sua mãe sempre a influenciou a fazer as coisas com as próprias mãos. “Ela é uma artesã de mão cheia e sempre aproveitou várias coisas de maneira muito criativa. Ela está sempre fazendo um vaso de cimento, pintando uma parede. Gastando pouco e se divertindo no processo. Não tem como negar que essa vontade e inspiração veio dela”, finaliza.

Quem quiser ver mais do trabalho ou ter acesso a peças feitas por Dayane pode segui-la no Instagram (clique aqui).

Pochetes que fizeram no ateliê Iraúna para o Carnaval do ano passado. Foram feitas de tecido guarda-chuva encontrados nas ruas e de doações. (Foto: Arquivo Pessoal).
Pochetes que fizeram no ateliê Iraúna para o Carnaval do ano passado. Foram feitas de tecido guarda-chuva encontrados nas ruas e de doações. (Foto: Arquivo Pessoal).

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