Recebidos com cerejas, casal daqui conta a experiência de conhecer a Eslovênia
Surpreendente desde a recepção. Ao desembarcar em Maribor, segunda maior cidade da Eslovênia, eles foram recepcionados com cestas de cerejas, colhidas há pouco, direto do pé, no fundo de casa. A acolhida não é só por se tratar da chegada dos familiares que moram no Brasil, é uma forma de dar as boas vindas com carinho e muito sabor.
Hoje o Lado B descreve a viagem de cinco dias à Eslovênia da farmacêutica Kelle Luz Slavec e do marido, empresário Janko Slavec Junior. Ele que descende do país do leste europeu ainda um pouco desconhecido pelos brasileiros. O destino não é dos mais requisitados nas agências de turismo, mas trazem uma lição de como vivem os eslovenos entre tantos castelos e histórias.
Há quatro anos, Kelle recebeu em casa os primos do marido, vindos de Maribor para um casamento. Na época já ficou o convite do casal ir conhecer o país. Em 2011, durante a peregrinação entre Itália, Portugal e Israel, eles tentaram encaixar no pacote a viagem à Eslovênia. Seria uma pena ir tão pertinho e não chegar até lá. A região onde ficaram é perto da Áustria, mas num todo, o País está entre a Itália, Croácia, Hungria e Áustria.
"Eu só fiquei sabendo da história deles na Eslovênia depois que a gente se casou, meu sogro mesmo, demorou 40 anos para voltar lá", comenta Kelle. O sogro dela, Janko Slavec veio ainda criança para o Brasil com a mãe e os irmãos encontrar o pai, refugiado da guerra. No pós-guerra, o patriarca Slavec ficou preso por seis anos, até serrar as grades da prisão e conseguir fugir à pé para a Itália e ser encaminhado ao Brasil. Três anos depois a família restante veio, quando a esposa de Janko se deparou com outra família formada. Os filhos homens ficaram, ela e a filha mulher voltaram.
A distância geográfica não separou a família que seguiu por anos a correspondência por cartas e trocas de fotografias. Os parentes que em 2011 receberam o casal de Campo Grande são primos de primeiro grau.
Para se comunicar com os parentes do marido, Kelle precisou investir no Inglês por um ano - considerada hoje a segunda língua do País - até porque o esloveno ficava praticamente impossível. "A língua era bem complicada de aprender, mas a maioria da população fala inglês, a dificuldade era mesmo com a tia do meu marido, mas alguém sempre traduzia", lembra.
A expectativa do casal era em cima do que a família contava e os próprios meios de comunicação reproduziam. "Falavam que era bonito, mas a gente não imaginava tanto e realmente surpreendeu das pessoas terem esse cuidado de preservação, de ecoturismo. É uma cidade muito limpa e eles estão tão à frente na questão do lixo", relata.
Entre os passeios, o mais marcante foi no lago "Bled", onde se vai numa espécie de barco sem motor e se tem a tradição de tocar o sino na igreja. O lago tem cor de esmeralda e forma a única ilha natural do país considerada a mais bonita do mundo.
Historicamente, se conta que há 800 anos, havia um pequeno santuário dedicado à Giva, deusa pagã considerada a deusa da Vida. Depois ela foi transformada numa igreja católica e dessa forma ela existe desde o século 16, como uma das mais antigas da Eslovênia e que carrega uma tradição: quem visita a igreja, tem que fazer o sino tocar três vezes e fazer um pedido.
Ao recordar a viagem, o que vem à mente de Kelle são cenários saídos de filmes, com castelos "maravilhosos", como assim define. São 87 grandes castelos por todo País. "As roupas, é muito legal. Eles se vestem e você volta ao passado. É tudo medieval, nos lembra a época das Cruzadas", compara a turista. À frente do castelo são reproduzidas feiras onde se faz ferraduras, por exemplo, do mesmo modo do passado.
E nos castelos existe a tradição de realizar casamentos, onde depois os noivos passam a noite em um dos quartos "reais". E como a cidade de Maribor é bela por si só, o cenário para as cerimônias produz casamentos nas ruas mesmo. "É incrível ver as pessoas se casando e elas vão para as ruas, não é só para tirar foto", detalha Kelle.
A cultura e a simplicidade chamam atenção da farmacêutica como turista. No País em que a Coca-cola parece ficar em segundo plano, existem leis e são respeitadas. "Não se vê polícia pelas ruas", completa.
No café da manhã, as frutas postas à mesa foram colhidas do quintal. Nas casas da Eslovênia é comum se ver hortas e os moradores cultivando-as. As frutas também podem ser colhidas nas ruas, por quem passa. A própria produção gera morangos maiores do que a gente está acostumado aqui. "Eu acordava e me perguntavam chá de que? Ia na horta e pegava. Fazia na hora", recorda. Até um pé de nozes a casa da família Slavec abrigava. No Inverno, elas vão ao forno para serem assadas.
Outro fato que despertou curiosidade foi quando o casal visitou o túmulo da avó de Janko. As mulheres da família são enterradas juntas, desde a tataravó até chegar à tataraneta. Em outro jazigo ficam os homens da família.
De despedida, os familiares fizeram ao casal um churrasco, mas bem diferente do que se faz no Brasil. A começar pela churrasqueira, estilo americana, onde se grelha e "abafa" e os ingredientes. Para assar foram colocados rabanetes, cogulemos gigantes e berinjelas. De carne, apenas um frango a ser assado com uma lata de cerveja dentro.
A Eslovênia é uma país pequeno, montanhoso, onde a essência são os alpes. Mais da metade da economia do País vem do turismo. "Já conheci vários países, mas os únicos que eu voltaria são a Itália e a Eslovênia. É tudo pequeno, mas funciona. Me deu a impressão de que se preocupam muito, não só na aparência, mas no bem viver", resume Kelle.
O Lado B orçou quanto ficaria para passar sete dias na Eslovênia. Em baixa temporada, o pacote de aéreo e hotel sai em média, por pessoa, U$ 2,5 mil dólares. A consultora de viagens da agência Premier Turismo, Sandra Fontoura, alerta que o que define o valor é o nível de hotel e a antecedência da compra. Este preço, por exemplo, seria a média para daqui 6 meses.
A baixa temporada na Eslovênia corresponde à nossa alta temporada. O período ideal de viagem seria entre os meses de março, abril e maio, quando é Primavera lá ou então, outubro e novembro, antes da chegada do Inverno. "Eu recomendaria no Outono, acho que é uma estação mais bonita, as paisagens ficam mais bonitas, mas a Primavera também tem os dias mais longos", analisa Sandra.
Por enquanto a Eslovênia não é um destino que se vende, mas vale a pena colocar no roteiro.