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Consumo

Troca-troca em brechós “salvam” look e bolso de quem é plus size

Tem membros que ainda insistem em postar roupas no tamanho 42, mas são excluídos

Danielle Valentim | 25/04/2018 07:45
Desafio é encontrar peças bacanas, que não sejam  sem graça como a maioria e caras. (Foto: Reprodução/Internet)
Desafio é encontrar peças bacanas, que não sejam sem graça como a maioria e caras. (Foto: Reprodução/Internet)

Encontrar roupa com corte estruturado, “na moda” ou que não envelheça uns 10 anos, é tarefa difícil em um lugar onde a militância do empoderamento plus size ainda é pequena. São poucas as lojas especializadas em tamanhos grandes na cidade, mas a alternativa pode estar nos brechós. Já são vários grupos plus size no Facebook e, boa parte, ultrapassa os sete mil seguidores. Além da intermediação de trocas e vendas, essas páginas aumentam a autoestima da galera que não entra na paranóia de emagrecer.

A jornalista Ana Ostapenko conhece bem a luta por roupa bacana e o processo de aceitação. Antes de criar o Blog Gorda e Linda, que tem como objetivo empoderar mulheres, administrava o Escambo Fashion, que intermediava trocas e vendas de roupas e sapatos. Nos últimos seis anos, Ana ajuda outras pessoas militando sobre a aceitação do próprio corpo.

“Sempre tive problema de aceitação, fiz milhares de regimes e já troquei muita roupas com amigas. Mas conhecimento é poder. Foi conhecendo mais sobre o assunto, que eu entendi que o problema não era meu, mas sim das pessoas que não aceitam. Do ano passado para cá montei o Gorda e Linda, exatamente, para isso. Pra dizer que ser gorda é ok, que você continua sendo linda, mesmo a indústria dizendo que você não é”, disse.

Preço alto- Todo corpo é diferente, mas a indústria insiste em achar que o gordo, só precisa de mais pano. Montar um “look” sem parecer ter jogado um lençol no corpo pede paciência e muita busca.

Em uma pesquisa rápida em lojas, boutique e departamento, em Campo Grande, a reportagem encontrou grande diferença de preço, inclusive dentro do mesmo estabelecimento.

Em uma loja localizada no Shopping Bosque dos Ipês, o preço de uma blusa plus size não sai por menos de R$ 50. Já o vestido mais barato, no visco malha, sai por R$ 75. Na promoção da semana em outra loja especializada, no centro da Capital, a mulherada encontra vestidos de 218,00 por R$ 190. Blusinhas da promoção saem por R$ 80.

A diferença de preço dentro das lojas de departamento, não fica atrás. Loja famosa no Centro expõe blusas de mesmo tecido e estampa por preços diferentes, simplesmente por serem modelo plus size. Uma camiseta do Mickey mouse, por exemplo, é encontrada por R$ 39,99 e na numeração maior por R$ 49,99.

“Vivemos num Estado do boi, onde a mulherada veste vestidinho. A pressão estética é imensa. É claro que, hoje, tem mais lojas do que há seis anos, mas as especializadas são muito caras, são ótimas, mas a modelagem plus size é cara. As lojas de departamento estão mudando, mas ainda não são capazes de atender qualquer corpo”, explica.

Nem todo mundo tem dinheiro para adquirir peças mais caras. A saída, neste caso, é a garimpagem de roupa usada, em que uma peça de R$ 200 pode ser encontrada por R$ 15.

O Brechó e Galeria Plus Size - Campo Grande criado há quatro anos é administrado por uma ex-gordinha. Na descrição, Dellyane Marques esclarece ter passado por gastroplastia e, por isso, conhece bem a saga por “looks”.

O grupo é destinado à venda e troca de “produtos especiais, para pessoas especiais que vestem tamanhos plus”. Com 7.750 membros, o Brecho Galeria tem movimentação considerável. “Sempre temos algo que não curtimos mais, ou que "perdemos" pra balança. E sempre vai ter uma gordinha sofrendo em busca de peças que sirvam no corpo e no bolso”, descreve Dellyane.

Atualmente magra, Dellyane fez o grupo quando ainda sofria para encontrar peças. No entanto, a administradora garante que as solicitações de entrada não param. “Quando e fiz o grupo, eu era paciente recente da bariátrica e no começo eu usava mais ele do que todas as outras. Mas aí veio o tempo de magreza e eu parei de usá-lo. Mas ele ajuda muito, pois todo continua muito caro. A entrada de membros é constante”, conta.

A funcionária pública Giselle Vaez, de 39 anos, é administradora e moderadora de outros dois grupos, respectivamente, sendo eles o Brechó GG Plus Size – Campo Grande, com 11.909 membros, e o Brechó Feminino G, GG, XGG, com 11.779 membros.

Ela conta que começou postando suas próprias roupas e, nesses últimos quatro anos, se especializou na negociação e pechincha. Os dois grupos movimentam 250 postagens ao mês.

“Tem membro que ainda insiste em postar coisas 42, mas são excluídos. Quem está no grupo, realmente busca números altos, como o meu que é 52. Comecei tirando fotos das minhas roupas e postando, hoje faça a intermediação das negociações de quem é membro. A parte boa é que não giram apenas em torno das vendas, mas também das trocas, e o melhor com preços entre R$ 10, R$ 15 e máximo de 40. Sempre tem alguma que posta algo de R$ 200, gera um tumulto, mas aí a gente acalma os ânimos”, explica.

Giza concorda que o movimento Plus Size em Campo Grande é pequeno em vista de outras cidades. “Não é porque a pessoa é gorda que ela vai querer usar algo feio, fora da moda. É isso que a indústria ainda não entendeu”, finaliza.

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