“Nunca quis ser arquiteto”, diz um dos grandes: o inquieto Scalise.
Numa tarde de novembro, eu fui ao seu escritório no Jardim dos Estados em Campo Grande e naquela casa, que já foi a casa do Papai Noel, anos atrás, encontrei o arquiteto Luis Pedro Scalise em sua sala de trabalho depois de percorrer diversos ambientes. Foi uma entrevista deliciosa.
Scalise nasceu em Florianópolis em 1968, do signo de Peixes e antes de se formar em arquitetura e urbanismo pelo antigo CESUP, em 1990 – atual Uniderp -, Luis nos conta que passou por 27 escolas desde os primeiros anos de idade e morou em muitas cidades e capitais.Essa vida de corre-corre escolar e de moradia se dava por conta dos empregos e dos serviços do seu pai, Luis Scalise, que era um fazedor de barragens mundo afora.
Entre paradas em Foz do Iguaçu, Rio de Janeiro, São Paulo e até no Amazonas, Luis Pedro sempre teve amor pela arte e pela pintura. Quem lhe aproximou das artes foi Inês Côrrea da Costa – que foi discípula de Portinari – e que lhe deu pincéis de presente e sempre gostava de vê-lo pintar.
Scalise foi tomando gosto pela pintura e pelos desenhos, mas ser arquiteto nunca esteve em seus planos.
“Eu nunca quis ser arquiteto. Quem queria era minha mãe Leila. Ela tinha esse sonho e eu não quis lhe dar desgosto e um belo dia, fui fazer a prova do vestibular e a prova de habilidade específica e passei”.
Na entrevista ele me contou que, no dia em que estava fazendo a prova de desenho à mão-livre, numa sala imensa cheia de concorrentes, a professora colocou um objeto sobre uma mesa e da posição na sala em que cada um estava, desenhava o objeto como via. Nesse momento, prof. Pedro Chaves, dono do CESUP adentrou à sala e viu seu desenho e ficou impressionado. “Você vai fazer arquitetura? Se fizer podes ser no futuro uma referência para nossa cidade” previu.
Eu lhe fiz essa pergunta: você se acha referência para seus colegas do País, mesmo sendo de um Estado pequeno como Mato Grosso do Sul? Ele me respondeu que lendo recentemente a Folha de São Paulo, viu que havia um mapa do Brasil com personalidades que lembravam cada lugar do Brasil e, de Mato Grosso do Sul, Luan Santana, Michel Teló e ele estavam na foto. “Eu achei muito legal isso, pois nas mostras que faço ou que atuo, fora de Campo Grande, sempre tem gente perguntando nas bilheterias se o sul-mato-grossense tem trabalhos e esse sou eu” expressa Scalise.
Luis lembra que no começo da sua vida acadêmica em 1991 ou 1992 atuou como estagiário no escritório de Celso Costa, importante arquiteto da capital.
Ao se formar Scalise deixa Campo Grande em 1990 e somente retorna prá cá em 1998. Nesse período fez Mestrado e Doutorado no Mackenzie em São Paulo, instituição que seu pai fez curso anos antes. Além disso, morou em São Paulo onde trabalhou com o arquiteto José Eduardo e por meio dele foi trabalhar na Itália, especificamente em Milão onde foi tocar o seu escritório e passou a desenhar para projetos de arquitetura de interior.
Ao voltar para Campo Grande abre uma loja de decoração na Rua Antônio Maria Coelho e começa a colocar algumas de suas peças, sejam telas ou objetos. Os famosos castiçais de Scalise aparecem para a sociedade nesse momento.
Foi nesse ano de 1998 que ele comenta um de seus mais importantes projetos: a fachada da Casa de Papai Noel, no Jardim dos Estados. “Eu fiz essa decoração na minha casa para me despedir dos amigos. Eu estava indo morar em Nova Iorque e encontrei um meio de não fazer meus amigos chorarem minha partida. Ledo engano. Acabei criando um dos maiores eventos de nossa cidade. Pessoas ficavam horas e horas em frente à minha casa observando as coisas que criei. Foi um espetáculo” comenta.
No ano de 2002, Luis Pedro Scalise dá uma demonstração de enorme criatividade ao montar e inaugurar o Pele Vermelha, o primeiro bar de Campo Grande projetado e construído para tal. “Antes do Pele, os bares de nossa cidade eram todos adaptados em casas existentes. Ele foi o primeiro que começou em um terreno que comprei e fiz tudo. Foi uma surpresa para todos entrar naquela floresta com um avião pendurado nas árvores”, diz o arquiteto.
Luis Pedro saiu pelo mundo olhando e fazendo experiências de vida. Conheceu um pedaço do planeta, sempre inquieto.
Mas foi em 2009 que ele volta de vez para Campo Grande e retoma suas atividades de projetista em arquitetura residencial, especialmente e de arquitetura de interior, como é muito conhecido. “Eu não atuava muito em projetos de construções novas. Sempre adorei atuar no interior das edificações” no informa o arquiteto. Mas essa sua disposição nova encontrou uma parceira pela frente.
Eliane Nogueira (1975-2010, colega de profissão, logo se associa a ele e ganham juntos o prêmio Casa Cor 2010) com o ambiente Oásis. Daí pra frente Scalise era só sucesso. Atuou em diversas mostras em Campo Grande e fora daqui especialmente o Morar Mais por Menos e o Casa Cor.
Nacionalmente começa a ganhar fama quando arrematou a famosa gravata borboleta de Clodovil, feita em ouro branco, cravejada com 1.097 diamantes. Ele pagou pela jóia a bagatela de R$ 46 mil.
Preferido pelos seus trabalhos de ambientação temática, logo caiu nas graças da Disney e depois veio a Sony, Paramount, Fox entre outros e ele começa a fazer ambientes para lançamentos de filmes.
“Fiz para os filmes Valente, Star Trek, Rio 2, Tá Chovendo Hambúrguer, dentre tantos e consegui um nicho de mercado muito bom com esses projetos”.
Diversos bares de nossa cidade foram por ele projetados e com isso também ganhou um mercado crescente.
Scalise atualmente é arquiteto contratado pelo Sheik dos Emirados Árabes e produz desenhos exclusivos para a família do sheik.
Ao fim da entrevista eu lhe perguntei: o que você fez de melhor nesses 25 anos de profissão? Ele me respondeu: “o que está por vir é o melhor”.