Amigas procuram artistas lésbicas para vingar encontro das "Vulvas do Cerrado"
Agosto é o Mês da Visibilidade Lésbica. Desde então, mulheres se empenham para debater o tema e aproximar o maior número de pessoas em ações contra o preconceito, o que em uma cidade conservadora como Campo Grande não é tarefa fácil. Por isso, Carol e Kimberly deram um passo a frente pelo reconhecimento. Criaram um evento que vai reunir arte produzida só por mulheres homossexuais.
A poucos dias do "Vulvas do Cerrado", marcado para dia 31 de agosto, elas ainda têm um número pequeno de participantes, mas compreendem a resistência. "A proposta é ter uma referência de artistas lésbicas que a gente não encontra, principalmente, na arte. Porque a história de muitas mulheres lésbicas foram apagadas. O evento vem para fortalecer isso e descobrir quem faz parte desse movimento lésbico desconhecido, em um Estado muito misógino", explica a acadêmica de Artes Visuais, Carol Carvalho, de 20 anos.
O evento é uma oportunidade de encontro e reconhecimento. Além de conversas, apresentações musicais, pintura, performance, poesia e exposições completam a programação do Vulvas do Cerrado, que tem como lema deixar todas as mulheres à vontade.
"Nós enquanto lésbicas, deixamos de sair em Campo Grande porque muitos lugares não nos deixam confortáveis. Há olhares chatos e nem sempre somos bem recebidas. Foi conversando sobre isso com a Carol que surgiu a ideia do evento, principalmente, porque encontramos um bar, o Genuíno, que nos acolheu bem", explica Kimberly Weiss, de 21 anos, também acadêmica de Artes Visuais.
Ambas são lésbicas, e falam com propriedade sobre preconceito e clichês de que "toda lésbica bissexual" ou só é assim "até encontrar o cara certo", que na maioria das vezes silenciam mulheres quanto a própria aceitação. "É muito difícil porque a gente cresce com a ideia que gostar de mulher é algo que vai passar. Quando se é uma mulher lésbica, ouvimos que é só uma amizade, que quando encontrar o cara certo tudo isso vai mudar. Em Campo Grande, temos isso muito enraizado", revela Kimberly.
Ela também sentiu isso quando resolveu se assumir, mas por muito tempo, também não se aceitou. "É um processo bastante complicado para as mulheres. Demorei muito tempo a me entender. Falar que é lésbica também tem um peso para a família e para todo mundo a sua volta, hoje tenho clareza em me nomear como lésbica, encaro isso como um ato político e faço por muitas mulheres que acabam sendo silenciadas".
Do interior de São Paulo, Carol também enfrentou preconceito, violência física e cobranças na adolescência por ser lésbica. Fortalecida com informações e apoio de mulheres da comunidade LGBT, hoje ela é uma das pessoas que lutam pela visibilidade. "Também me forcei muito na adolescência porque acreditava que tinha que gostar de homem, mas lembro que li uma poetiza, escritora feminista, que falava muito sobre isso, e foi o que me deu mais força".
Quando se fala em visibilidade lésbica, Kimberly explica que não se trata apenas de ser vista, "é a lésbica se reconhecer como ela realmente é, porque a gente cresce sem uma referência no meio social. Então essa visibilidade seria mais interna, primeiramente, para que a gente possa se reconhecer com as outras".
Por isso a arte também tem sido influenciada por essa corrente de pensamento, em busca de mudanças. "Além de fortalecer essas mulheres financeiramente, é fortalecer enquanto ser humano. Muitas lésbicas na música ou em qualquer outra produção artística, não se assumem como lésbicas por vergonha ou porque falta um espaço para que elas possam falar. Então esse evento também chega para que a gente tenha um espaço de fala".
O evento será no dia 31 de agosto, às 18h, no bar Genuíno, que fica na rua Aporé, 97, bairro Amambaí.
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