Apesar de campanhas, ainda tem muito marmanjo abusado no Carnaval
Mulheres ainda sentem que os próprios corpos não são delas, tampouco o direito de festejar em paz

Mulheres na Esplanada Ferroviária abriram o coração para contar algo que não é novidade e incomoda grande parte delas todos os anos durante o Carnaval, o assédio cometido por homens. Apesar das campanhas, que buscam reduzir a ação masculina e conscientizar o público, elas ainda sentem que os próprios corpos não são delas, tampouco o direito de festejar em paz. Ainda têm muito marmanjo abusado.
O Lado B conversou com diversas mulheres e a resposta foi unânime: o Carnaval continua o mesmo. Porém, algumas já sentiram diferença no comportamento dos homens e atribui isso à campanhas
Quezia Daniele, de 39 anos, comenta que sofreu assédio neste Carnaval. O modus operandi é sempre parecido, um puxão de cabelo, uma mãozinha na cintura para avisar que a pessoa está ali, uma mão estranha no corpo alheio.
“Ainda existe a invasão do corpo feminino. Eu mesmo sofri e disse que não o conhecia para ele estar me tocando. Tem muito assédio, ainda mais Mato Grosso do Sul que parece não ter aderido a campanha ‘Não é não’. A gente começou a melhorar, mas ainda tem muito caminho. Falta uns 70% ainda. Comparando aos outros anos está melhorando devagar”, explica.

A administradora, Leslie Paes fica indignada que o assunto precisa ser tratado todos os anos e não sente que a situação está de fato melhor. Para ela o cenário continua o mesmo.
“A falta de respeito, gente que não teve educação em casa. Vim no sábado e tinha muita gente assim, os homens invadindo nosso espaço, pegando no cabelo, gente passando a mão é o que mais tem. Estava bem no meio da Esplanada”.
Ela explica que não há nada que a polícia ou sociedade possa fazer senão educar os homens desde cedo para que eles respeitem as mulheres. “É uma coisa de base, de casa. Enquanto os homens não tiverem uma visão diferente não vai mudar".
Para a comerciante Naiara Kimberlly, de 37 anos, não mudou muita coisa. Ela comenta que a campanha em si é boa, mas os homens precisam ter consciência dos atos e parar de achar que “tudo” é propriedade deles.
“Ontem mesmo vi. Independente do que você veste as pessoas tem que te respeitar e tem homem que passa e não está nem aí. Eu vi ontem um rapaz passando a mão na menina e é desnecessário, é horrível. Esse é meu segundo ano aqui. A gente tem visto muita coisa nos últimos meses contra a mulher. Tem que partir do homem, dele colocar a mão na consciência. As mulheres merecem respeito".
Do outro lado da moeda há quem ache que as coisas estão caminhando bem na questão, como o caso da médica veterinária Danielly Dianin. Este foi o segundo ou terceiro ano que ela esteve no Carnaval e aos olhos dela a diferença é gritante.
“Vi bastante diferença no comportamento dos homens. Eles estão respeitando mais, entendendo mais quando a gente afasta, quando não responde. Até quando a bebida sobe à cabeça. Teve ano que tive problema, inclusive quando vim com meu namorado. A gente de mão dada e passavam a mão na bunda”.
Ela acrescenta que ouviu muito os blocos e as bandas ressaltarem a questão da campanha com ênfase maior esse ano. “Querendo ou não acho que as pessoas estão melhorando”.
Nariman Medrade também acha que a coisa está melhor, nenhuma amiga relatou nada e não houve nenhum incidente do tipo com ela própria. "Tanto no Capivara quanto no Valu teve muito essa ênfase de ‘Nao é não’ então realmente não teve nada que incomodou, tanto no policiamento quanto na organização. Acho importante ser enfatizado isso. Acho que esse é o caminho. Principalmente a conscientização em cima do palco".

A cientista social, Thaisa Coelho, de 28 anos foi de bicicleta do Jardim Itamaracá até a Esplanada, no caminho viu e sentiu vários tipos de assédio. “Tinha uns caras que passavam e era um absurdo o jeito de olhar. Isso no trajeto de vir de lá pra cá. No Carnaval não fui assediada, mas isso me incomodou bastante no trajeto.
A amiga, Andreyna Mariano de 24 anos não sofreu nenhum assédio no Carnaval de Campo Grande, mas conta que na pré folia, no Rio de Janeiro, a situação não foi a mesma.
"Estava com um tapa seio e um homem gay pegou no meu peito. Eles acham que só porque são gays tem passe livre para encostar nas mulheres. Aqui vim em dois e foi tranquilo. Vim ano retrasado e não senti diferença pra esse ano”.
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