Carnavalescos gastam fortuna para desfilar fantasia glamourosa só para jurados
Às vezes não tem ninguém além dos jurados, mas ainda assim a passarela é deles. Carnavalescos por paixão, tem quem rode mais de 400 quilômetros da Capital até Corumbá para se apresentar no desfile de fantasias do Carnaval. Sem contar a roupa, só o transporte da vestimenta que precisa ser feito em caminhão baú, bem como os gastos com a estadia da equipe aqui contabilizam, em média, pelo menos de R$ 12 mil. Glamourosos, o figurino é digno de aplaudir de pé tanto pela criatividade, quanto pela persistência de quem veste até a alma de folia nesta época.
Cabeleireiro no bairro Coophavila II, em Campo Grande, Adão Barbosa, de 50 anos, passou os últimos seis meses esperando pelo grande dia. Ele jura de pé junto que a fantasia que usou na disputa pela categoria Luxo Masculino, do Carnaval de Corumbá, foi feita só por ele na folga entre uma cliente e outra.
As últimas duas décadas foram assim e de 9 anos para cá, os títulos surgiram. Na noite desta quinta-feira, antes de adentrar o salão, o carnavalesco explicava a espetacular fantasia. A inspiração veio da pedra ametista que na mitologia grega exercia o papel de aurora dos deuses. "Foi tudo elaborado e pensado por mim. Na antiguidade, os soldados usavam a ametista para se livrar das feras", conta Adão.
O figurino todo ele estima que vale R$ 20 mil. "Eu não saio, gasto com o meu prazer, que é este", aponta para a exuberante fantasia. Segundo o cabeleireiro, a emoção de mostrar o trabalho ao público já vale o esforço. "Você ver a cara deles, a gente fica alegre, é gratificante".
No entanto, a paixão pelo Carnaval das antigas, das épocas dos pomposos desfiles não se enquadram na realidade local. Por isso quem quer aplausos precisa se deslocar até Corumbá. A programação de Carnaval é extensa e às vezes, até que Adão entre no salão, já não tem quase ninguém para prestigiar. "São poucos, sou o último a me apresentar, chego e não tem mais ninguém no ginásio, só os jurados", recorda.
Nascida e criada no Carnaval, a servidora pública Rebecca D'Albinie, de 27 anos, já tem uma década de participações que ela denomina "profissionais" nos desfiles de fantasia. De Campo Grande ela viajou com a família toda para apresentar na Cidade Branca o renascer da fênix. O esforço, além do gasto financeiro da viagem, não parece nada perto da emoção de entrar na passarela, avenida ou salão em ritmo de Carnaval.
"Na verdade eu acho que todo mundo que nasce numa família assim, o Carnaval já faz parte do seu sangue. A gente luta pelo que acredita, digo que eu não tive escolha, quando comecei a ter discernimento, eu já amava a festa", conta.
O trabalho por trás de um carnavalesco é árduo e é exatamente este ponto que a diferencia dos foliões de um modo geral. "O folião leva na brincadeira, o carnavalesco é quem faz o Carnaval para o folião, é ele quem fica atrás da coxia", compara a um espetáculo.
No fim, a apresentação pode não ser tão aplaudida, mas já é considerada o ápice. "Na verdade, para a gente de Mato Grosso do Sul, o Carnaval é sempre em Corumbá. Na nossa Campo Grande também, mas é diferente, não tem esse fomento que tem aqui. As pessoas não são tão ligadas", compara.
Um dos, se não for o mais conhecido carnavalesco do Estado tem, de participação, os mesmos anos que o desfile de fantasias de Corumbá completa em 2015: 36. Valdir Gomes não entra mais na disputa, apenas se apresenta como destaque da noite.
O bolso pesa para chegar até Corumbá, assim como ir em outros municípios do Estado quando é convidado, mas ele garante que vale a pena por uma questão de realização pessoal. Nestes 36 anos, Valdir descreve que o concurso foi perdendo o glamour tanto de público como de cuidados para com a fantasia.
"O público não se interessa e nem surge uma liderança para nos substituir. Mas vale a pena receber o carinho do público. Você investe na vida e o que você leva daqui? Aquilo que você gosta de fazer e eu gosto disso aqui".
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