Em área nobre, o parque do Itanhangá já foi mais bonito
Todo fotógrafo profissional sabe que um registro bem feito, que alia técnica e sensibilidade, pode fazer da cena mais desprezível e do cenário mais incompleto uma bela fotografia. Mas a arte de escrever com a luz também capta a realidade.
Ari Lopes da Rosa, de 59 anos, registra o real há 40 anos. Faz poesia com ele. Revela a beleza escondida, ao vivo e cores. Mostra a graça do comum, mas faz o trivial saltar aos olhos a cada novo enquadramento.
Localizado em uma das áreas nobres de Campo Grande, o Itanhangá Park, no bairro que leva o mesmo nome, é um dos pontos mais visitados por Ari, que se especializou em fotografias da natureza.
As imagens feitas por ele, divulgadas em sua página na internet, mostram a beleza plástica do local. Retratam a tranquilidade harmoniosa que garante momentos únicos aos espectadores da natureza e da flora Sul-Mato-Grossense. Oferece margem a reflexões.
As nascentes aparecem como verdadeiros espelhos d’águas, cobertos por flores e cercado de folhas secas. Os movimentos dos peixes, moradores antigos, garantem a beleza do cenário que, num clique, fica eternizado no tempo.
Verdes como esmeraldas, as folhas, de alto a baixo, escondem as maravilhas que muitas vezes passam despercebidas. Mas o olhar apurado, aliado às lentes, deixa à mostra a perfeição.
Dentre os pássaros que costumam frequentar as árvores do parque, o Ferreirinho-relógio recebeu destaque. A ave de peito amarelo foi flagrada em cima do ninho, terminando de construir a “casa”. Um gato branco, que parece à vontade em meio às flores nascidas no mato, também foi fotografado.
Os registros são recentes, deste ano, mas de um período em que a área parecia mais apresentável aos frequentadores. Inevitável uma comparação de antes e depois.
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Abandono - A equipe do Lado B visitou o parque. Os sinais de que alguma coisa está errada começam pela entrada. O mato alto cerca as placas da própria prefeitura, que exibem um pedido no mínimo contraditório: “Preserve a natureza e cuidem de nossa praça”.
Adiante, a poucos metros dali, nota-se que a manutenção há dias não dá as caras. Não faltam evidências: Fora o mato, que por si só tira a beleza do espaço, há papéis, plásticos, garrafas pets e copos descartáveis jogados por maus frequentadores.
Grande parte das lixeiras estão lotadas. Os lixos parecem largados no tempo. Nos fundos, alguns dos bancos de madeiras, que deveriam estar à mostra, estão escondidos, atrás do mato.
A parte inferior de um deles foi colocada ao lado de uma nascente, que perdeu todo o seu brilho, tamanha sujeira em cima da água, mesmo antes da chuva, que caiu só depois da reportagem.
Na área infantil, a falta de limpeza mostra que o parquinho também está descuidado. Uma gangorra quebrada, deixada de lado, confirma a suspeita.
A quadra esportiva está largada. Os buracos nas telas que cercam o espaço e nas grades ao redor do parque pioram o aspecto. A sujeira é vista por toda parte, da entrada às pistas de caminhada.
Funcionário de uma lanchonete localizada ao lado do Itanhangá, Téo Martins, de 32 anos, lembra que a área já foi mais cuidada. Há alguns anos, moradores e comerciantes se juntaram à causa e se tornaram os “amigos da praça”, mas a iniciativa chegou ao fim.
Agora, são poucos os que se preocupam com o espaço. As nascentes, destaques do local, estão perdendo a beleza. Na entrada da galeria principal, que cruza o terreno, toda vez que chove forma uma espuma branca. Os peixes acabam morrendo. “Vem do esgoto. Acho que é veneno”, supôs.
Téo é um dos poucos frequentadores que tenta cuidar do espaço. O trabalho não rende muita coisa, mas ele é insiste. Há 3 meses, faz questão de passar 30 minutos do dia, após o expediente, pescando lambaris da área mais afetada pela “espuma branca”. Pega de 20 a 30 por vez. Depois, solta os peixes em outra nascente, que não apresenta o problema.
Para o fotógrafo que já viu o parque mais bonito, é preciso uma ação rápida para evitar que a área volte, novamente, à situação de abandono. Mas não é só limpar, disse. A preservação do meio ambiente deve ser a primeira preocupação.
“Precisa da presença de um biólogo, de acompanhamento para ver o impacto que uma limpeza radical iria causar. É importante fazer a limpeza, mas não agredir a natureza”, disse.
Na avaliação de Ari, o responsável pela manutenção deveria ser uma pessoa física, para facilitar o acesso e comunicação com os frequentadores. “Alguém que tenha nome, CPF, não um órgão. Alguém que a gente saiba que fulano de tal é responsável. Que tenha voz ativa, que tenha trânsito, poder de mando”, afirmou.
Preservar um espaço público é uma responsabilidade de todos, não só da prefeitura. Ele sabe disso, mas acredita que o governo, além dos cuidados com a área, deveria investir em conscientização.
“Eu queria ver essa praça bem cuidada, com valorização do meio ambiente. Os biólogos poderiam fazer um trabalho bacana aqui dentro, orientar o povo de como se deve cuidar de uma praça. Pode ser feito até palestras com as pessoas que freqüentam a praça”, sugeriu.
“É um lugar bacana. Um lugar bonito que pode ser bem cuidado. É um cartão postal da cidade”, acrescentou.
Limpeza - A prefeitura de Campo Grande informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a manutenção do Parque Itanhangá está sob a responsabilidade da Solurb, empresa que venceu licitação e é responsável pela limpeza urbana da cidade.
O órgão informou ainda que a demanda de serviços referente à área citada na reportagem já foi repassada à concessionária.