Encontro reúne até quem decidiu viver na estrada após vencer covid
Evento com quem tem casa sobre rodas é aberto ao público e segue até domingo (20)
Aos poucos, motorhomes vindos de cantos diferentes do País começaram a preencher uma área na Rua Antônio Maria Coelho, ao lado do Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande. Organizado em um mês, o 1º encontro de casas sobre rodas trouxe até quem saiu do Amapá para viver na estrada após vencer a covid-19.
Logo cedo, a organização do evento deu início à recepção e organização dos veículos que chegaram na manhã de hoje (18). Responsável pelo evento, Nabor Coelho, de 58 anos, conta que a reunião segue até domingo com cerca de 75 participantes.
Sempre quis fazer o encontro, mas a gente conseguia reunir poucos veículos. Aqui, vamos ter gente de todo canto para se reunir, contar histórias e se conhecer. Algumas pessoas já chegaram, mas outras que estão vindo de longe seguem chegando até amanhã", diz.
Dono de um motorhome, Nabor trabalha com a montagem de veículos do estilo na Capital e sempre foi apaixonado por viajar. Por isso, há cerca de cinco anos, comprou a última casa sobre rodas e, agora, resolveu unir outras pessoas que seguem o mesmo estilo de vida.
No veículo do organizador, há espaço para um sofá, cozinha completa com geladeira, banheiro e um quarto para casal. Ele relata que mesmo sendo amplo, o espaço abriga apenas coisas necessárias de uma casa.
Vindo de longe, Otávio Sales Cardoso Neto, de 51 anos, cruzou o Brasil para chegar até Mato Grosso do Sul. O policial civil aposentado relata que comprou uma camper, modelo de motorhome móvel e pequeno, após se recuperar da covid-19 para realizar um sonho antigo.
Otávio narra que morava no Amapá quando, em abril do ano passado, contraiu o coronavírus e ficou internado por três meses. “Do total, dois meses fiquei intubado e quase tive falência múltipla dos órgãos. Saí do hospital em julho e disse para minha esposa que a gente iria começar a viajar”, conta.
Na época, ele havia perdido parte dos movimentos das pernas e braços devido às sequelas da covid e seis meses de fisioterapia foram necessários até que ele conseguisse deixar a cidade. Para o viajante, após se recuperar, não havia outra opção a não ser comprar a estrutura necessária para seguir pelo Brasil.
“Eu sempre sonhei com isso, mas a gente pensa na questão econômica e ficamos apegados. Quando eu vi que de uma hora para outra você pode morrer, decidi fazer o que eu gosto”, relata.
Para não ter limitações, o servidor público comprou o motorhome móvel, que pode ser desacoplado de seu veículo. “Ela é muito versátil, temos esses macacos acoplados, então consigo abaixar os quatro e deixar a camper aqui. Saio com o carro, resolvo tudo e depois monto ela no veículo mais uma vez.”
Depois de sair de Campo Grande, Otávio pretende ir para o Paraná e seguir em direção à Argentina. “A gente vai planejando aos poucos também, porque ainda estou me recuperando, mas vamos continuar viajando”, diz.
Histórias reunidas e detalhes
De Três Lagoas, Suely Matos, 52 anos, e Aparecido Nascimento Matos, de 59 anos, se consideram novatos no meio. Assim como as histórias de outras pessoas que se reúnem no evento, os dois cansaram de ficar presos ao município em que moravam e decidiram iniciar a vida de viagens.
Devido aos valores para comprar um motorhome equipado serem altos, o casal escolheu adaptar uma van para se tornar a casa. Suely explica que os dois tentaram viajar sem o veículo, mas os preços para arcar com hospedagem, transporte e alimentação estavam altos demais.
Foi assim que Aparecido sugeriu que ambos se dedicassem a estruturar a van para conseguirem a independência necessária. “Ainda temos bastante coisa para mexer, mas conseguimos circular bem hoje. Temos nosso colchão, fogão, espaço para nossas roupas e o resto a gente se vira”, diz.
Já com mais experiência, Sandra Maria Ferreira Souza, de 58 anos, e Gerardo Souza Pinto Filho, de 57, compraram o motorhome há cerca de 4 anos. De São Pedro da Aldeia, no Rio de Janeiro, os dois iniciaram suas viagens com uma motocicleta, depois, adquiriram uma kombi e hoje, possuem uma estrutura mais completa.
Todo decorado por Sandra, o motorhome foi estruturado de acordo com as necessidades do casal. Ela explica que a união das paredes foi construída de forma arredondada para que não houvesse perigo e cada espaço consegue ser aproveitado.
Por ser feito para longas viagens, o veículo conta com um banheiro, cozinha e quarto, tudo completo. A proprietária relata que não costuma levar muitos objetos, já que o espaço requer uma quantidade reduzida de itens.
Mesmo assim, ela argumenta que nada falta em seu cotidiano. Além do motorhome, o casal ainda leva duas bicicletas para aproveitarem a cidade de formas diferentes.
Evento continua
Aberto ao público, o evento segue até domingo (20) com os participantes. Nesta sexta-feira, às 13h, haverá música ao vivo, enquanto para as 16h30, está prevista a abertura oficial da reunião.
No sábado, os participantes irão realizar um bate-papo e ajuntamento de panelas, seguindo o dia com mais música. Já no domingo, novos shows serão realizados durante o dia, enquanto o encerramento irá ocorrer às 16h.