Entre o Cerrado e o Pantanal, Roque guarda magia na Igrejinha
Seja sobre os cuidados com cobras, explicações históricas ou características do bioma, proprietário é livro
“Estamos em uma zona de transição entre o Cerrado e o Pantanal. Por isso, muitas coisas só acontecem aqui e vocês vão sentir isso no caminho”. Durante dois dias ao lado de Roberto Roque, o Beto, uma das frases introdutórias do zelador e proprietário da Fazenda Igrejinha, em Rio Verde de Mato Grosso, foi sendo comprovada a cada momento. Ali, ele garante na prática, ao lado da natureza, que o espaço está longe de ser apenas mais uma fazenda tradicional tanto pelos cenários do território quanto por ele mesmo.
Há duas décadas na Igrejinha, o proprietário conta que não sabe se encontrou a fazenda ou se foi encontrado por ela. Paranaense, tinha uma história com criação de gado e quando ficou sabendo da propriedade, foi apresentado como se ela fosse um espaço a ser evitado justamente por não se encaixar nas fazendas padrões.
Composta por formações rochosas da Serra do Pindaivão, como Beto costuma explicar, na divisa do Planalto Central e da Planície Pantaneira, a fazenda guarda relevos e ganhou o coração do paranaense.
A gente conseguiu adquirir a propriedade e mesmo não sendo do turismo na época, acho que fui picado pelo ramo e gostei, diz Beto
Com sorriso aberto, o proprietário da fazenda de ecoturismo me recebeu na rodoviária de Rio Verde e essa acolhida já estava sendo colocada em prática antes mesmo de eu sair de Campo Grande. Isso porque sem carro próprio e com restrições alimentares, imaginei que a viagem pudesse ser complicada.
Resolvendo todas as questões antes que elas fossem vistas como problemas, Beto se ofereceu para garantir o translado até a fazenda, distante 18 km da área urbana. A parte da alimentação também foi tranquila, já que ele libera a entrada de comidas e bebidas na propriedade para que os hóspedes usem a cozinha coletiva.
Outro detalhe é que combinamos que o café da manhã e o café da tarde seria feito por ele para que eu não precisasse levar tudo de Campo Grande. E, quem é vegano já está acostumado com as confusões, mas Beto foi atento e garantiu mais essa solução.
Durante o trajeto até a Igrejinha, que leva cerca de 20 minutos, Beto aproveitou para contar um pouco mais sobre a propriedade e dar início ao tour antes mesmo de chegarmos à fazenda.
“Eu ainda consigo fazer com que a Igrejinha seja um lugar para receber poucas pessoas até pela quantidade de espaços para hospedagem. Então é bastante tranquilo, um lugar de paz”, resume o proprietário.
Hospedagem
Em um chalé, há uma cama de casal e outras três de solteiro com banheiro privado, redários, ar condicionado e uma geladeira. As outras duas opções de hospedagem são uma Kombi com cama de casal (equipada com ventilador, iluminação e tomadas elétricas) e o espaço de camping.
Compondo o espaço de hóspedes, há também o receptivo, um espaço coberto com conjuntos de mesas e cadeiras trazidas de Minas Gerais e a cozinha coletiva que possui todos os itens necessários para o preparo de alimentos. Por ali, há também dois banheiros que atendem os hóspedes da Kombi e do camping.
Um ônibus antigo divide o terreno, sendo o próximo projeto do proprietário para ampliar a hospedagem. No caso do transporte maior, a ideia é transformá-lo em um motorhome completo, mas que irá permanecer parado. Mas, por enquanto, não há previsão de quando a ideia vai tomar forma.
Chalé
Incluso: Pernoite, Mirante da Igrejinha e trilha Riacho
Valor p/ pessoa: R$160,00
Kombi
Lotação: 2 pessoas
Incluso: Pernoite, Mirante da Igrejinha e Riacho.
Valor p/ pessoa: R$130,00
Camping
Incluso: Pernoite, Mirante da Igrejinha e trilha do Riacho.
Valor p/ pessoa: R$100,00
Trilha
Tirando o espaço de hospedagem e receptivo, o que a fazenda oferece é natureza, redes e cadeiras para admirar o cenário. O silêncio toma conta e, durante a noite, quando o céu não está nublado, as estrelas realmente fazem a festa.
Além delas, sapos também visitam o local e Beto avisa que outros animais, que, afinal, moram no “quintal”, podem se aproximar como cobras e ratos do campo (que realmente apareceram).
Durante o dia, além de continuar aproveitando o silêncio e a natureza que envolve a Igrejinha, a dica principal é aceitar o convite e investir na trilha que Beto abriu com ajuda de biólogos no início de seu caminho na fazenda (o valor é de R$ 110 para visitantes e R$ 90 para hóspedes).
Começando logo cedo, o proprietário introduz que o melhor é realmente sair do receptivo por volta das 7h, já que o caminho é de 5 km ao todo. “Eu sempre ofereço duas versões, a trilha total e a ‘preguiçoso’, que fazemos parte dela de carro. Eu considero a trilha de dificuldade fácil, mas algumas pessoas não estão acostumadas, então é uma boa opção”.
Sem ajuda do carro, percorremos os 5 km a pé em uma manhã que começou nublada e terminou com o céu aberto. Em geral, Beto explica que o caminho saindo do quintal da Igrejinha leva três horas para ser finalizado, mas sendo feito com mais calma durante o passeio com nosso grupo, demoramos pouco mais de quatro horas.
Com caneleiras para proteger as pernas de cobras e outros insetos, o grupo deixa a sede da hospedagem e Beto inicia a contação de histórias que permeia toda a viagem. “Nós vamos passar pelos mirantes do Pantanal, Caminho Velho, Buritis e da Igrejinha. Normalmente, subimos para as Torres da Igrejinha e também fazemos uma viagem no tempo ao vermos arte rupestre”.
Na trilha, o proprietário mostra que conhece o espaço de olhos fechados enquanto narra sobre as vegetações do Cerrado e sobre como a variedade é grande por ali justamente por estar em uma área de transição. E, assim como as plantas vão mudando no decorrer do caminho, o ar e o vento que se aproximam também vêm com temperaturas diferentes.
Confira a galeria de imagens:
Durante o passeio pelos mirantes, há subidas por caminhos de pedras, passagem por áreas que deveriam estar alagadas, mas que devido à seca, se apresentam apenas levemente molhadas.
“Há algum tempo, recebi pesquisadores do Jardim Botânico que estavam autorizados a coletar algumas plantas. Temos uma variedade muito grande e uma delas está lá, sendo estudada”, diz Beto.
Desde flores que insistem em integrar a natureza mesmo fora de época até o rugido de onça no espaço apresentado por Beto como “fralda da Serra”, as surpresas são variadas. Inclusive, aos curiosos, ele garante que viu o animal na área e região da Igrejinha apenas duas vezes.
Ainda assim, seu som é ouvido com frequência tanto por ele quanto por quem faz a trilha. “Ela não costuma sair da mata fechada, então escutamos mesmo só o som. Meu ouvido está treinado, mas fiquei em silêncio para ver se algum de vocês também ouviria”. Adiantando a história, todos nós ouvimos e, de início, imaginamos que fosse brincadeira ou alguma confusão sonora.
E, pensando nos cenários que a trilha apresenta, os momentos são realmente de contemplação. Beto faz várias paradas durante o caminho para garantir que todos respirem tranquilamente e consigam ver o que a natureza consegue proporcionar.
Outro atrativo da fazenda é um pequeno riacho que compõe a área de Beto, protegido por árvores e com água cristalina. Ali, é possível ouvir o barulho da água correndo pelas pedras e encontrar libélulas azuis.
Zelador da Igrejinha
Desde as versões sobre o motivo para que o espaço se chame Igrejinha até narrativas sobre o mundo, Beto guarda uma verdadeira biblioteca em sua mente. E, mesmo podendo contar algumas histórias aqui, a surpresa de ir até a fazenda é necessária para que as dúvidas e curiosidades sejam colocadas em prática.
Apesar de ser o proprietário, Beto reforça o amor pela Igrejinha como sendo um zelador, “não é fácil, são muitas coisas para cuidar, é muita resistência, mas isso aqui é o paraíso”.
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