Público mostra paixão pela Império do Morro, escola mais antiga de Corumbá
Desfile do Grupo Especial mostrou beleza do Carnaval, mas mostra a necessidade de melhor estrutura para acomodar maior folia do Estado
Com cada metro da avenida ocupada, o desfile das quatro escolas de samba do Grupo Especial de Corumbá foi aplaudido em pé pelo público de cerca de 4 mil pessoas, nesta segunda-feira (20).
Mas a torcida e o amor do público foi em especial para uma escola: Império do Morro. Em meio as milhares de pessoas, a camiseta cor de roda da escola era marcante e peça disputada a preço de ouro.
Antes mesmo da entrada na avenida, durante a concentração, a distribuição gratuita de um saco de camisetas na avenida causou histeria. Adultos e crianças disputaram a tapas as camisetas. “Pega uma camiseta pra mim, tia”, pediam à reportagem uma ajudinha. Cada camiseta foi vendida por R$ 20 no barracão da escola durante o pré-Carnaval.
Campeã de 2011, a Império é a preferida para ganhar o Carnaval deste ano, pelo menos segundo a opinião do público.
“É claro que ela vai ganhar, não tem dúvida”, garante o torcedor uniformizado, junto com os familiares.
Tanta paixão pode ser explicada pelo fato da escola ser a mais antiga de Corumbá, com 54 anos de história e foliões criados desde o berço.
“É a escola do coração, desde criança fui criada na comunidade”, diz a folia Rosangela de Arruda, de 31 anos, que assistiu o desfile ao lado de vizinhos e parentes, todos torcedores da Império.
A companheira, Odete Moreira, de 68 anos, conta que estava ansiosa para o desfile e não perdeu um dia de ensaio da escola. “Ela é melhor em tudo, é a nossa escola”, frisa.
Diferencial - O samba enredo cantado na avenida foi: “No livro da vida a Império tenta descobrir... O que move a humanidade”.
Segundo o presidente José Carlos Duarte, a escola procurou um tema diferenciado neste ano, que provocasse não só um bom enredo, mas uma reflexão entre os foliões.
“Pra gente pensar, o que move a humanidade? O amor, a fé, a riqueza ou outros valores?”, explica.
A bateria teve duas musas a frente: a rainha Silvinha e a madrinha Lucilinha. Apresentando a escola, a ex-rainha, Carol Duarte, de 34 anos, e considerada “símbolo do Carnaval de Corumbá”.
Ela é filha do presidente e foi durante 9 anos rainha da bateria da Império. “A diferença da Império é o amor que as pessoas que desfilam tem pela escola, não são pessoas que desfilam só por desfilar, estão aqui por amor”, diz.
Capricho - O desfile do Grupo Especial foi aberto pela escola novata “Estação Primeira do Pantanal”, que luta para ser reconhecida pela Liesco (Liga das Escolas de Samba de Corumbá).
Iniciando o desfile das escolas mais esperadas, a Caprichosos de Corumbá contou a história da colonização do continente americano, com o samba enredo “520 anos antes, 520 anos depois, a conquista de um continente banhado a ouro prata e sangue”.
Fazendo jus ao nome, a escola mostrou em cada ala o capricho dos integrantes. Desde a comissão de frente a Caprichosos preparou coreografias, seguidas a risca pelos componentes ao longo de toda a avenida.
Bateria mil - No mundo encantado e irreverente do enredo “A fábula – a bruxa está solta no casamento da Barata e Dom Ratão”, a escola A Pesada levantou o público com a batida forte e firme da bateria.
Os integrantes arrancaram aplausos da platéia e mostraram a sincronia perfeita no batuque do samba. E tudo aliado a irreverência da fantasia dos integrantes, que estavam vestidos de ratinhos.
Batuque, fantasia e alegria apropriados para uma bateria formada em grande maioria por jovens e adolescentes, outro fator que colocou em destaque os integrantes.
Estado em luxo - Terceira a entrar na avenida, a Mocidade Independente da Nova Corumbá mostrou luxo na apresentação do samba enredo “Nos trilhos da folia a Mocidade apresenta Mato Grosso do Sul, um santuário de cor e alegria”.
Os carros alegóricos e as fantasias esbanjavam brilho. Mas os integrantes também mostraram a garra quando o assunto era o bom desempenho na avenida.
Um mínimo espaço vazio entre um carro e uma ala já era suficiente para colocar em alerta a diretoria, que aos gritos pedia para o carro avançar. Mas além do incentivo na voz, o jeito foi ir para trás do carro e ajudar a empurrar, tudo para não deixar a avenida com nenhum espacinho em branco.
Foram 1.200 integrantes na avenida e a letra do samba na ponta da língua do início ao fim do desfile.
Aperto - Enquanto as escolas desfilavam pela avenida livre, o público se apertava para conseguir enxergar tudo. Nas arquibancadas, apenas 2 mil lugares, número que parece quase nada comparado ao público estimado de 30 mil no local.
O jeito era “se enfiar” onde era possível, seja embaixo dos camarotes ou em bares ao redor. Mas a reclamação do povão foi do grande número de camarotes, chamado de “elitização” da festa.
“A gente acaba que fica sem espaço. Tem que disputa uma vaga”, disse um dos foliões.
A Fundação de Cultura informou que o número de camarotes não aumentou e que a própria localização do desfile não favorece a acomodação do público, já que não existe espaço para colocar mais arquibancadas.
O presidente da Liesco, Zezinho Martinez, disse que o desejo da Liga é uma área própria para os desfiles, com a construção do sambódromo. “O público merece uma estrutura melhor, um lugar para sentar”, disse.
Além da acomodação ao público, ele explica que o sambódromo iria permitir às escolas “usarem a imaginação sem limitação de espaço, altura e paralelepípedos”.
O prefeito Ruiter Cunha informou que esse é um projeto do município, mas que ainda precisa de incentivo público e privado.
O Carnaval deste ano teve investimento total de R$ 2,5 milhões, segundo a Prefeitura Municipal. Para as nove escolas de samba, o investimento foi de R$ 400 mil do município e R$ 180 mil do Governo do Estado.
O prefeito frisa que o Carnaval de Corumbá precisa da ajuda dos empresários para crescer ainda mais. “O poder público ainda é o grande apoiador e precisamos pelo menos equilibrar isso para os próximos anos, com o apoio da iniciativa privada”, diz.