Força, magia e fé marcaram o 2º dia de desfile das escolas de samba
Avenida do Samba recebeu as escolas Deixa Falar, Unidos da Vila Carvalho e Unidos do Bairro do Cruzeiro
O segundo dia do desfile das escolas de samba de Campo Grande foi repleto de emoções para os carnavalescos. Na noite de quinta-feira (21), foi a vez da Deixa Falar, Unidos da Vila Carvalho e Unidos do Bairro do Cruzeiro encantarem o público na Avenida do Samba.
Diferente do primeiro dia, o desfile de ontem começou e terminou sem maiores problemas para as escolas participantes e não ocorreu nenhum imprevisto com carros alegóricos. Previsto para iniciar às 19h, o desfile começou oficialmente às 20h e terminou após às 23h.
A primeira escola a pisar na avenida foi a Deixa Falar que neste ano escolheu homenagear o continente africano. Com o samba enredo “Mo Jubá, a força de uma raça”, a escola mostrou aos presentes a nobreza, soberania, religiosidade e as heranças que o Brasil herdou do continente
A apresentação começou com uma alegoria que mostrou a força dos exus, seguida pelo casal de mestre-sala e porta-bandeira. A segunda alegoria foi o carro abre-alas em tributo aos orixás e decorado com o tigre símbolo da agremiação. Além do tributo aos ancestrais africanos, a escola prestou homenagem às pessoas que são importantes para o legado da Deixa Falar.
Com o refrão "Deixa falar, amor sem fim. É a África que existe em mim", a escola preencheu o ambiente com cores vivas através das fantasias e alegorias inspiradas no ouro e marfim. A ala das baianas trouxe a energia do povo do mar e prestou honraria a Oxalá e Iemanjá, enquanto a sexta ala fez tributo as florestas através de Oxóssi, o rei das matas.
O fundador da Deixa Falar foi um dos homenageados e convidados de honra da noite. Salvador Dodero, de 79 anos, desfilou durante os quarenta minutos de apresentação sem sair do ritmo. Ele relata que o segredo é manter a alegria. “O coração bateu bem mais forte com a bateria. Aqui não tem jeito, tem que ter alegria, é a nossa obrigação na avenida”, afirmou.
O atual presidente, Francis Fabian, relatou que a escola quis celebrar a importância do passado e presente da África. “A gente celebra a vida, nossos costumes, religiosidade e tudo isso que essa africanidade nos traz”, explica. Apesar da correria na apresentação, ele destaca que é um prazer poder retomar o desfile. "É cansativo, mas é algo muito gostoso, é muito bom", frisa.
Unidos da Vila Carvalho
A segunda escola a se apresentar, a Unidos da Vila Carvalho, escolheu os “Elementos Elementais” como tema deste ano. Ar, água, terra e fogo regeram a apresentação e deram tom as fantasias e adereços confeccionados pela agremiação.
A comissão de frente representou “Apeiron”, que é compreendido como elemento de força maior e princípio de todas as coisas. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira simbolizou a vila encantada e toda a magia que a escola possui.
O primeiro carro abre alas deixou a Avenida do Samba cheio de seres mágicos dos elementos terra e água. Os duendes foram a estrela principal da ala, que procurou mostrar a virtude dessas criaturas. Eles antecederam a ala terra, índio e a bateria que escolheu simbolizar os magos.
Gaia, a mãe natureza, foi o tema do segundo casal de mestre-sala e porta bandeira. O segundo carro alegórico se baseou no fogo e ar e, posteriormente, veio a ala das baianas vestidas de fadas mágicas.
Satisfeito com o desempenho da escola, o presidente José Carlos de Carvalho, falou que está pensando no desfile de 2023. "Estamos indo dormir, mas já pensando no Carnaval do ano que vem. A gente não para, porque para fazer isso aqui é muito trabalho e tudo é feito aqui. Nada vem de fora", ressalta.
Neste ano, Lara Morena, de 21 anos, foi a rainha de bateria da Vila Carvalho. A jovem relata que a história dela com a escola começou há muitos anos. “Eu comecei no Carnaval como rainha mirim aos 11 anos de idade e fiquei até os 14 anos. Hoje, estou desfilando na escola do meu coração. Ser rainha é uma satisfação muito grande, a comunidade me abraçou e pude repassar hoje todo amor que ela me deu”, expressa.
Há 42 anos à frente do Carnaval, Jean Pierre Michel, de 56 anos, comemorou o retorno da Vila Carvalho desfilando na passarela. “É muito emocionante, ficamos dois anos sem Carnaval, mas voltamos com garra total. Na hora que a gente entra na avenida, a gente esquece de tudo”, diz.
Unidos do Bairro do Cruzeiro
Terceira e última escola a desfilar, a Unidos do Bairro do Cruzeiro escolheu a fé como temática deste ano. A agremiação também celebrou os quarenta anos de história e alegrias no Carnaval. A comissão de frente foi composta por anjos guardiões da fé que empunharam escudos e espadas.
Já a primeira ala vestiu fantasias que representavam a fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo, seguida pela ala das baianas vestidas de benzedeiras e o primeiro carro alegórico intitulado “A chama ardente da fé - A fé é cega”.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira honrou as quatro décadas da Cruzeiro com a fantasia batizada de “Com fé cheguei aos meus quarenta anos”. Val Araújo, de 29 anos, e Patrícia Andrade, de 24 anos, vieram de Corumbá e foram convidados pela escola para desempenhar o papel.
É a primeira vez que os dois desfilam no Carnaval de Campo Grande, porém ambos tem tradição nas escolas da cidade natal. Para Val, a experiência foi positiva apesar da diferença na dinâmica. “É diferente com a redução da quilometragem de desfile, mas foi muito bom. Meus amigos fizeram o convite e aceitamos”, comenta.
Patrícia desfila desde os oito anos como porta-bandeira e revela que o segredo de tudo é gostar do Carnaval e ter carinho pela escola. “É uma sensação diferente, porque a gente cresceu ali. Para entrar na avenida, você tem que gostar”, frisa.
A rainha de bateria veio como Oxum e a bateria como os guardiões da fé católica, seguida ala do islamismo com os mensageiros de Maomé. A umbanda e o candomblé também tiveram espaço no desfile e foram o tema da quinta ala. A sexta deu lugar ao budismo, hinduísmo, sikhisno e a sétima retratou a fé em seres místicos, como bruxas, duendes e fadas.
O segundo e último carro alegórico se baseou na resistência do samba e a tradição do ontem e hoje. A fundadora da escola, Aparecida Gomes da Silva, de 72 anos, estava no carro vestida de branco e benzendo o público. Muito além de um papel para o Carnaval, o ato de benzer faz parte do cotidiano dela. "Eu sou benzedeira desde criança, é um dom que herdei da minha vó", fala.
Aparecida conta que no ano passado perdeu a filha, por isso, a escola escolheu a fé como tema. "Eles entenderam que seria melhor falar sobre a fé. É difícil, a pandemia veio, mas Deus sabe o que fazer", pontua.
Hoje (22), acontece os desfiles das escolas de samba Igrejinha e Catedráticos do Samba. O evento está previsto para começar às 19h, na Avenida do Samba.
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