Fotos antigas emocionam quem viu cidade ter o que fazer
Fotos tiradas há décadas despertam no produtor cultural Pedro Silva a saudade do que viveu e sonhos interrompidos com a pandemia
Reviver fotos é tirar do baú sentimentos genuínos. Um álbum, muitos sorrisos e uma bela lembrança de quem guarda cada instante com tanto carinho. Há anos as fotografias acompanham o produtor cultural Pedro Silva em qualquer momento que seja preciso contar sua trajetória. Mas, nas últimas semanas, mais do que memórias de eventos que ele já trouxe para Campo Grande, no baú vive a saudade de uma história que precisou ser interrompida por causa de uma pandemia.
Pedro é um dos nomes mais conhecidos, até ouso dizer que ‘o’ mais conhecido na área de shows e peças teatrais na Capital. Responsável por trazer eventos de destaque, há alguns meses ele se viu obrigado a adiar seus projetos, como o show de Gal Costa que estava programado para o primeiro semestre do ano e agora está previsto para outubro, claro, se tudo estiver mais calmo até lá.
Até o momento, a área de eventos é o que tem ficado por último nas decisões sobre o que pode ou não voltar a funcionar diante das aglomerações. “Eu estou desesperado. Vivo disso profissionalmente, pago minhas contas com os eventos, mas a reserva está acabando”, lamenta o produtor que não vê a hora de voltar a movimentar os eventos da cidade. “Não nasci para ficar com a bunda no sofá, tenho 71 anos e sou um homem ativo”.
Com 52 anos de história na produção de eventos e 40 deles de promoções em Campo Grande, as fotografias tiradas desde os anos 80 e compartilhadas nas últimas semanas nas redes sociais do produtor deixam evidente que a Capital já teve muito o que fazer e abraçou shows que muitos gostariam de curtir de novo, como de Mamonas Assassinas e Tim Maia (se estivessem vivos).
Hoje, o ritmo é diferente, assume o produtor. “Nos últimos anos com dificuldades financeiras dos produtores de teatro, sem apoio de passagens aéreas e transporte de cenário, temos trazido poucas peças, infelizmente”.
Mas nada muda o orgulho de Pedro que revive um show e uma história a cada retrato, como a do músico Tim Maia, que naquela época tinha má fama entre os produtores, lembra. “Ele não deu um pingo de trabalho. Não chegou atrasado no teatro e nem quebrou o hotel, como era de costume dele na época”.
Pedro lembra que em 1994 inaugurou o Auditório Manoel de Barros, no Centro de Convenções, com o espetáculo Bibi Ferreira In Concert e no mesmo teatro realizou a estreia nacional da peça Vida Privada com Antônio Fagundes e Mara Carvalho.
Mas o mais marcante deles foi o no Teatro Glauce Rocha, com um especial que marcou a cidade: “a temporada de duas semanas da famosa comédia O Mistéria de Irma Vap, com Marco Nanini e Ney Latorraca”, menciona.
Além disso já passeou com espetáculos em diversos espaços da cidade, como o Clube Libanês, Teatro Dom Bosco, Palácio Popular da Cultura e Glauce Rocha com peças que tiveram como elenco Fernanda Montenegro, Regina Duarte, Eva Wilma, Juca de Oliveira, Stênio Garcia, Fulvio Stefanini, Glória Menezes, entre tantos outros.
“Dos famosos humoristas nós promovemos shows com Jô Soares, Chico Anysio, Tom Cavalcante e Dercy Gonçalves”, cita.
Antigamente e quando os artistas não cobravam cachês altíssimos, Pedro Lembra que foi possível fazer a cidade receber shows como o de Marisa Monte, Ney Mato Grosso, Gilberto Gil, Simone, Sandra de Sá, Maria Rita, Cauby Peixoto, por exemplo. Os ginásios nos anos 80 e 90 receberam Menudos, Xuxa, Cássia Eller, Mamonas Assassinas e Caetano Veloso. “Houve show que eu fiz que o cachê custou R$ 19 mil e hoje custa R$ 300 mil”, lembra o produtor.
Revirar as fotos também o faz lembrar de episódios inesquecíveis, como a lista de exigências dos artistas, entre eles, Sandy e Junior, menciona. “Eles foram um dos mais exigentes, eu tive que montar uma cozinha no Parque de Exposições para o chef preparar o macarrão que eles comiam antes de subir no palco. Ana Carolina e Seu Jorge, tive uma lista de camarim de três páginas. Essas coisas a gente também não esquece”, ri.
Mas nada disso diminui o valor que tem para ele fechar um contrato para Campo Grande. “A cidade merece shows e teatros, principalmente teatro que sempre foi o nosso forte. Hoje a gente sabe que o ritmo é outro, mas em conjunto com o Jamelão, temos buscado trazer atrações que também atendam o novo público, o público mais jovem”.
Além de investir nas atrações, Pedro é um produtor conhecido como “8 ou 80” na relação com a imprensa, sem aquela triste mania que muitos produtores têm de deixar jornalista esperando horas para uma entrevista e ainda ter a pachorra de cancelar o bate papo antes do show com a desculpa “o artista não quer falar”.
“Eu tenho um respeito muito grande pelo jornalista, principalmente por quem cobre cultura e eventos nessa cidade, que nem sempre é coisa fácil. Então quando o artista fala que vai dar entrevista eu peço a confirmação por e-mail. Na hora que o jornalista aparece, se o produtor o artista quiser me enrolar eu esfrego o e-mail na cara dele. Eu sou meio chato mesmo, gosto de cumprir o que prometo e acerto com as pessoas. Na verdade, procuro mesmo é ser competente naquilo que eu faço. Porque o dia que eu não aguentar mais fazer eventos, farei qualquer outra coisa sem encher o saco de ninguém”, finaliza.
Nas próximas semanas, Pedro Silva vai revelar novas datas dos eventos que estavam previstos para o primeiro semestre de 2020, como os show de Gal Costa e Whinderson Nunes.
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