Pai e filha encaram 1,8 mil km em motor-home para curtir a colheita de cacau
Há pouco mais de uma semana, Beatriz Branco, de 30 anos, empresária e dona da marca de chocolates sul-mato-grossense “Angí” estava pronta para comprar uma passagem de avião e viajar até a Bahia para participar do 11° Festival Internacional do Chocolate e Cacau. Mas ela teve a grata surpresa de mudar os planos e fazer o roteiro de motor-home, na companhia do pai. Juntos, eles encararam 1,8 mil quilômetros de estrada para desfrutar de paisagens e a colheita de cacau.
Um roteiro importante para quem é empreendedor, mas também significativo para quem busca fazer um turismo diferente. Pai e filha saíram de Campo Grande há uma semana e chegaram a Bahia para conhecer plantações, que contam um pouco da história de um Brasil agrário, com trajetos que incluem, fazendas com sítios históricos, rios e áreas de preservação em meio à Mata Atlântica.
“Eu faço parte desse evento com a minha marca e a minha intenção era participar das visitas técnicas, comprar cacau, fazer colheita com eles e visitar as fábricas. Então eu viria de avião, só meu pai comprou um caminhão para continuar viajando de motor home com a minha mãe e sugeriu de a gente pegar a estrada juntos”, conta Beatriz.
A iniciativa do pai, o funcionário público Carlos Eduardo Martins, de 57 anos, não só agradou a filha como transformou o roteiro. “Eu e minha família sempre tivemos o costume de pegar a estrada, meu pai sabe o quando a gente gosta de ver a paisagem mudando, conhecer pessoas em cada novo e viver uma experiência diferente”.
Carlos está de férias pela última vez porque irá se aposentar no fim do ano. Para ele, a viagem foi uma oportunidade única de curtir a filha e “conhecer de perto o mundo dela com os chocolates”, diz.
Outra chance foi de experimentar o veículo novo na estrada já que os planos é viajar em breve com a esposa. “Foi uma forma dele colocar o motorhome na estrada e sentir como é dirigir em situações diferentes, afinal, a estrada não tem condições perfeitas durante todo o trajeto. Agora, ele e minha mãe querem viajar de Campo Grande até o Alaska”, conta a filha.
Roteiro “inesquecível” – Os 1,8 mil quilômetros até a Bahia foram surpreendentes, garante Beatriz. “Aqui existe uma tradição belíssima. Durante os passeios, é possível percorrer todo o processo, da colheita à embalagem”, explica a empresária.
Pai e filha fizeram questão de aproveitar cada etapa. E, garantem, que visitar as fazendas da ‘Costa do Cacau’ é indispensável. “Elas estão renovadas depois da vassoura-de-bruxa, praga que contaminou os cacaueiros na década de 1980”, diz.
As fazendas de cacau abrem suas portas para mostrar aos turistas suas plantações e também as fases de cultivo e processamento da amêndoa, até sua transformação em chocolate. No passeio, Beatriz e Carlos viram de perto de perto as diferenças de cor — do amarelo ao violeta — tamanho, consistência e qualidade de cada fruto, além de ser apresentado a pesquisas que estão sendo realizadas e às diferentes fases da produção pelas quais passa o cacau até chegar ao consumidor final, em forma de chocolate.
“Inclusive, o processo da colheita do cacau e do processamento na fazenda, em alguns aspectos, é muito parecido com vinho e o café. Aqui, o cacau é colhido e sua polpa, que lembra uma graviola, passa por um processo de fermentação de seis dias, para que a semente do cacau se torne uma amêndoa. Depois, passa para uma secagem no sol e eu a compro. Esse processo eu não faço em Campo Grande porque é necessário um processo mais complexo e é surpreendente conhecer esse trabalho”.
Saber que antes de chegar à fábrica e garantir a produção do chocolate existe um trabalho minucioso de pesquisa, história e tradição, passados de geração em geração, despertou em Beatriz o interesse de trabalhar com a produção de cacau em Mato Grosso do Sul. “Eu quero plantar cacau no Pantanal. Vim com objetivo de visitar esses centros de inovação para implantar o cacau em algumas regiões de Campo Grande, em áreas e comunidades que eu já trabalho”.
O objetivo, segundo ela, é trabalhar com a Agricultura Cabruca, um modelo sustentável de agricultura “em que você mixa a vegetação que já existe no local com a plantação do cacau para não existir a possibilidade de desmatar essa região”, explica.
Costa do Cacau é uma das zonas turísticas da Bahia composta por quatro municípios: Ilhéus, Itacaré, Canavieiras e Una. A produção do fruto na região começou por volta da década de 1930 e, atualmente, responde por 95% de tudo o que é produzido no país.
Além de conhecer parte da produção do chocolate, Beatriz conta que o turista pode visitar o conjunto arquitetônico local, que inclui uma capela construída no início do século XX, o casarão da sede e seu anexo, construídos em meados da década de 1970 em estilo colonial, além das antigas instalações relacionadas ao processo do cacau.
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