São João pode "fazer live" e casa de Maria não terá convidados pela 1ª vez
Além da família que realiza festa há mais de 100 anos não receber público, Fundação de Cultura estuda transmitir celebração online
Pela primeira vez a festa de São João realizada na casa de dona Maria Paula da Silva não terá os cerca de 300 convidados. Aos 84 anos, ela mora em Corumbá, 425 quilômetros de Campo Grande, e para evitar a propagação do coronavírus vai interromper a celebração que arrastava multidão. Contudo, para tradição não morrer, a comemoração será apenas entre mãe e filhos
A festa já é centenária, foi passada pela avó, mãe até chegar a dona Maria. No ano passado, o Lado B contou a história dessa senhora carismática e religiosa. Na época, ela aguardava ansiosa o dia para celebrar o banho de São João e tinha até pintado a casa para receber os convidados.
Na ocasião, dona Maria contou que a devoção da família pelo santo começou através de um sonho de sua avó, Maria Brasiliana da Silva. “Sonhou com um homem puxando um carneiro, mas não tinha entendido o recado. Naquele tempo, morava em fazenda e tinha que catar lenha para cozinhar. No meio do mato, enquanto caminhava, encontrou um santo segurando um carneiro no chão”.
“Ela pegou e jogou no rio, porque era o costume da época. Depois que voltou para a casa onde morava, contou para minha mãe, Jorna Valentina da Silva, sobre o sonho e o santo. Nisso tiveram a ideia de fazer a festa de São João”. Recorde a história completa clicando (aqui).
Desta vez, quem conversou com o Lado B foi seu filho, Jefferson Paulo da silva, 51 anos. Durante o bate-papo, ele comenta que o vírus pegou todos de surpresa, mas compreende a situação. “Quem é religioso tem que entender o momento por conta do vírus. Acreditamos que tudo tem seu tempo e esse é o que Deus está dando para refletirmos”.
Jefferson relata que sem aquela festança, o São João será diferente. “É estranho, estávamos preparados e de repente não vamos mais fazer. Coisas que envolvem religiosidade afeta a crença da pessoa”. A festa tradicional acontece anualmente no dia 23 de junho e era um dia repleto de celebrações.
“Começava às 6h com uma reza, depois tinha o café da manhã que fazíamos na casa. Era preparado uma mesa farta, cheia de bolos, café e outras comidas. A noite era a principal parte, pois rezávamos novamente e depois oferecíamos um jantar com churrasco, arroz e vinagrete”, recorda o filho.
Já que a festa é realizada há anos, para não deixar a tradição morrer ele diz que a ideia é ficar apenas a família. “Vai ser eu, ela e meu sobrinho. Mas, talvez meus seis irmãos venham pra gente rezar e tomar o café da manhã”.
Questionado se após a epidemia a família pretende realizar uma festa como de costume, Jefferson diz. “Fora da data não tem como, a gente prefere deixar para o outro ano, pois não é a mesma coisa do que celebrar no dia. A parte mais importante dos eventos é o cumprimento da promessa de não deixar a tradição acabar”.
Festa on-line - A tradição também está enraizada em outras famílias de Corumbá e Ladário. Por isso, a Fundação de Cultura e Patrimônio Histórico de Corumbá junto com a prefeitura das duas cidades estão avaliando a possibilidade de realizar uma festa de São João digital.
As especulações são sobre uma possível missa on-line e um concurso de andores com os festeiros tradicionais das cidades. As primeiras informações é de que os vencedores da disputa irão aparecer numa live veiculada nas redes sociais oficiais de Corumbá.
Outra ideia que também está sendo avaliada é do banho de São João ser realizado por um padre, dentro da Fundação de Cultura. O ato seria transmitido ao vivo para os fiéis acompanharem o ritual que, originalmente ocorre no rio Paraguai. As informações devem ser confirmadas até a próxima terça-feira (2º).
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