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Apesar de tudo parecer normal, mãe ouviu intuição e descobriu autismo no filho

Ela atendeu à pulguinha que fica atrás da orelha e não se contentou com primeiros diagnósticos, até espectro autista ser revelado

Thaís Pimenta | 25/07/2018 09:24
A cara de sapeca era a mesma que mostrava o comportamento agitado do pequeno A., que aos 6 anos foi diágnosticado no espectro autista.(foto: Acervo Pessoal)
A cara de sapeca era a mesma que mostrava o comportamento agitado do pequeno A., que aos 6 anos foi diágnosticado no espectro autista.(foto: Acervo Pessoal)

Mãe de quatro, três meninas e o "reizinho" da casa, A., de 6 anos, N. F. O., de 27 anos, sempre achou que o menino tinha um jeito diferente. Seria fácil confundir, pela experiência apenas com meninas dentro de casa, mas a mãezona escolheu ouvir o coração depois de tanto desconfiar que algo estava errado.

Após muitos anos, N. foi descobrir só agora que este "algo errado" é transtorno do espectro autista, já diagnosticados como TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) e TEA (Transtorno do Espectro Autista). Não que ela fosse adivinha, mas como dizem, intuição de mãe nunca falha.

"Pelo que eu já tinha lido sobre esses transtornos eu sabia que o quadro de A. se encaixava muito nos sintomas. E mesmo tendo todos contra mim, ouvindo minha família dizer que ele era só mais um menino bagunceiro, eu fui atrás e tive o diagnóstico esperado", comenta.

O carinho de A. com H., a mais nova das irmãs. (foto: Acervo Pessoal)
O carinho de A. com H., a mais nova das irmãs. (foto: Acervo Pessoal)

N. tinha essa pulguinha atrás da orelha por conta das alterações de personalidade que o filho mostrou com o passar do tempo. Quando bebê, A. era tão tranquilo e tão bonzinho que a mãe conseguia levá-lo até pra um happy hour com amigos, que ele nem chorando se manifestava.

"Ele não chorava. Ele tinha comportamentos específicos, como por exemplo, não gostava de ficar no colo, preferia ficar no carrinho, mas assim ele se sentia bem e podia deixá-lo lá por horas. No carrinho ele até assitia TV, ficava entretido", lembra N.

Lá pelos dois aninhos, A. já falava corretamente. Até mesmo os plurais e as palavras mais complicadas saíam fácil da boca do menino. Demorou pouco tempo para ele mudar, menos de um ano. "Ficou birrento, chorão e agitado demais. Teve um momento em que eu achei que ele tinha dificuldades de audição porque tinha que chamar ele várias e várias vezes até ele obedecer ou responder", diz a mãe.

Da tranquilidade e da paz dentro de casa, de repente tudo deixava A. nervoso. O tato social também sumiu, e com cerca de 4 anos ele não tinha filtros. "Dava na telha ele falava. Coisas do tipo; olha só mamãe, sua amiga chata chegou". Até mesmo na fala e comunicação N. notou alterações.

Quando ele entrou na creche e foi para a 1ª série as dificuldades de aprendizagem passaram a ficar mais claras. "Ele é muito inteligente, muito esperto, ele tem sacada, o senso de humor dele é fantástico, só que na escola, na hora de aprender a ler ele sabia ler as palavras, mas a frase ele não conseguia". O fato de não conseguir irritava o pequeno, que largava o caderno, chorava.

Com a sensibilidade e observação N. começou a entender que toda aquela birra acontecia porque A. realmente se chateava e não sabia explicar, medir em palavras seus sentimentos. "Eu notei que aquilo realmente machucava ele, não era só um menino birrento, era mais".

Na sala de aula, quando passou por situações de bullying tanto dos coleguinhas quanto da professora, que chegou a chamar o menino de burro, foi a gota d'água para N. marcar uma consulta com o pediatra. Mas ao chegar lá, o médico disse que "Era o comportamento normal de um menino daquela idade".

A mãe alerta para que outras mães não se contentem com o primeiro "diagnóstico" recebido. "Infelizmente acontece. O pediatra me disse que era muito raro austimo, e se não fosse eu não me contentar, A. estaria sofrendo até agora".

Menino era calmo no início da infância, especialmente quando bebê, depois dos anos passados, o comportamento mudou. (foto: Acervo Pessoal)
Menino era calmo no início da infância, especialmente quando bebê, depois dos anos passados, o comportamento mudou. (foto: Acervo Pessoal)

Contrariando todos, ela seguiu o ímpeto de marcar uma neurologista pediatra. O diagnóstico veio sem muito mistério. "Ela conversou muito com ele e eu já havia separado um bom material com vídeos dele no passado, mostrando essa mudança de comportamento".

Mesmo esperado, o baque veio para a mãe e para a família também. "A princípio todo mundo preferia que ele fosse um menino arteiro e só. Foi um choque! Mas ter o diagnóstico nos conforta. Imagine o tanto de família que está vivendo isso achando que é normal. A gente não espera ter um filho com alguma necessidade especial. Entretanto ele é amoroso, carinhoso, então ele é especial de outras maneiras e isso foi nos confortando".

A partir do diagnóstico, basta especificar um pouco mais o nível do espectro para definir o tratamento. A. hoje é atendido por uma terapeuta comportamental e uma psicopedagoga, com grandes chances de se desenvolver como qualquer outra criança. "Me foi orientado que nos dias em que ele estiver muito em crise, com ansiedade, posso entrar com medicação, mas por enquanto, não foi preciso", finaliza a mãe.

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