Após 200 doações, Pedro chega aos 70 anos e precisa se despedir do Hemosul
Ele está completando 70 anos de idade, idade máxima para realizar as doações, porém afirma que continuará incentivando doadores
Após 50 anos doando sangue, Pedro Mariusso se “aposenta” dessa ação voluntária, mas não da colaboração ao Hemosul de Campo Grande. Ele, que está completando 70 anos, idade máxima para a coleta de sangue, já fez cerca de 200 doações na Capital, São Paulo, Brasília e até em Santa Cruz de La Sierra na Bolívia. O voluntariado para a saúde de outras pessoas começou quando tinha 19 anos, após o pai falecer por leucemia.
“Quando tinha 15 anos, meu pai teve leucemia e sobreviveu o último ano de vida através da transfusão de sangue. Naquela época, não tinha tantos recursos como hoje, mas coloquei na minha cabeça que quando tivesse idade, seria um doador de sangue. Vi a luta dele, fiquei sensibilizado”, contou.
Na época, Pedro não pode fazer nada para ajudar o pai, mas estava convicto que faria as doações para contribuir com outras pessoas com problemas de saúde, principalmente o câncer. Entrou para o Exército aos 19 anos, quando surgiu a primeira oportunidade.
“Estava lá quando um colega perguntou se eu poderia fazer a doação para um primo dele, que tinha câncer e estava no hospital. A pessoa estava mal, tinha vindo de fazenda. Pensei ‘A hora é essa’, fui até lá e doei. Depois disso, me senti bem e nunca mais parei”, recordou.
De lá para cá, as doações continuaram, independente os locais onde estava. “Nunca deixei de doar, morei em Brasília, São Paulo e até em Santa Cruz de La Sierra”, disse. Foram vários momentos de “herói”, e ele se lembra de um momento “engraçado” que passou na Bolívia em 2000.
“Tinha dito para uma amiga que precisa fazer a doação e ela me levou até o hospital. Fiz todo o procedimento, aí no final eles me deram uma lista para entregar no caixa, seria meu pagamento, eram 30 dólares. Disse que não vendia meu sangue, que era doação e agradeceram. Depois me fizeram uma homenagem”.
Pedro conta que todas as vezes que ia doar sangue, procurava o setor de oncologia. “Ligava para os setores na intenção de saber quem estava precisando. Lembro que uma mulher veio do Paraguai, tinha câncer e estava sozinha no hospital. Fiz a doação e fui até ela, quando me viu me agradeceu em guarani, mas não entendi a língua. Contudo, sabia que havia entendido meu gesto”, relata.
O sangue de Pedro é O Positivo, que pode ser doado para pessoas com tipagem sanguínea O Positivo, A Positivo, B Positivo e AB Positivo. Anualmente, ele fazia quatro doações, com período de intervalo de três meses entre elas. “Nesses 50 anos, acredito que fiz umas 200 doações e devo ter doado uns 100 litros de sangue. Dá para encher um tambor”, brinca.
Para fazer as doações, sempre cuidou da saúde, mantém boa alimentação, além de atividade física. “Como frutas, verduras, tomo vitaminas, faço caminhada e vou à academia”, conta. Agora que chegou ao limite da idade para as doações, continuará as ações, porém nos bastidores do Hemosul.
“Ligarei para saber se estão precisando de sangue e vou incentivar as outras pessoas a doarem. Não precisa ser por 50 anos, mas a metade pelo menos. Vai ser triste não poder doar mais, porém me alegro de ter contribuído todos esses anos”, afirma.
A cada doação são coletados 450 ml de sangue. As bolsas, posteriormente, passam por uma série de exames até chegar à pessoa que beneficiada. Segundo a gerente de Relacionamentos do Hemosul, Mayra Francesch, antes da pessoa fazer a doação passa pela triagem clínica e a coleta é examinada.
“Os exames mais a triagem são a segurança transfusão. O teste do furo no dedo é para ver se os hematócitos estão certos bons porque se tiver baixo, pode ser que tenha uma pré-anemia, já se tiver alto é porque está com ferro demais e também não pode doar”, explica.
Pedro é conhecido por quase todos os funcionários do local, todos os cumprimentam e até falam de futebol para o tempo passar mais rápido. No seu último procedimento como doador, passou pela triagem onde fez o teste da glicemia, pesou e até aferiu a pressão. Depois, foi para a sala de coleta. “São cinco minutos só, e a picada da agulha é uma dor gostosa”, brincou o doador.