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Bebês “gigantes” são frágeis e fofura exagerada vem com lista de desafios

Macrossomia fetal não é sinônimo de saúde e requer monitoramento constante

Danielle Valentim | 10/10/2019 07:39
Imagem mostra bebês de mesma época, mas o da direta é macrossômico.
Imagem mostra bebês de mesma época, mas o da direta é macrossômico.

Os nascimentos de bebezões rechonchudos sempre rendem elogios e espaço nos jornais, afinal, quem não ama uma perninha cheia de dobras. Mas nem tudo é tão bonito como parece e o termo médico para a condição “gigante” é a massocromia. Por trás do tamanho avantajado há, na verdade, sensibilidade extrema e uma extensa lista de cuidados.

É no pré-natal que o problema é diagnosticado. Como o peso nunca é exato, os médicos utilizam com maior frequência a definição de grande para a idade gestacional. O peso normal de um recém-nascido varia entre 2,5kg e 4,5kg, sendo a média de 3,4kg.

Para sanar as dúvidas, o Lado B conversou com o médico Walter Peres, professor de Pediatria na Faculdade de Medicina da Uniderp e chefe da UTI Neonatal da Santa Casa.

Diante de uma extensa lista de fatores e risco, o principal elencado pelo médico é o pré-natal mal feito, já que durante o acompanhamento gestacional, a mãe faz o diagnóstico de qualquer alteração.

Peres explica que a causa mais comum para o nascimento de bebês macrossômicos é a diabetes mal tratada pela mãe. “Pode acontecer por algumas síndromes ou por genética de pais grandes, estruturalmente, mas a chegada de um super-bebê está relacionados com pré-natais mal feitos”, garante. “E mesmo os pais sendo grandes, normalmente, a criança não nasce com tamanhos exagerados, crescem depois”, completa.

Ao contrário do que muito se noticia, Peres defende que não há nada de bonito ou fofinho. Na verdade, esses bebês carregam características graves e cheias de riscos. O principal e imediato é o de hipoglicemia, que pode causar lesão cerebral.

Esses bebês também podem sofrer deficiência de cálcio no sangue e sofrer hipocalcemia, o que pode causar convulsão. Há também os que desenvolvem doenças cardíacas, devido ao aumento de tamanho do coração. “O órgão maior pode não bombear o sangue de forma adequada”, destaca.

A lista de problemas parece não ter fim e Walter ainda destaca os riscos de obstruções intestinais, policitemia e até a insuficiência renal. Os bebês gigantes também têm mais riscos de ficarem amarelos - a icterícia - e sobram as chances de precisarem passar pelo banho de luz, a fototerapia. Problemas respiratórios também estão inclusos.

“A obstrução intestinal neonatal é chamada de síndrome do cólon esquerdo hipoplásico. Um bebê muito grande também pode produzir muito sangue, policitêmicos que a gente chama e essa produzir anormal de hemoglobina no período intraútero pode causar problemas como insuficiência renal”, frisa.

Monitoramento – Por se tratar de recém-nascidos extremamente sensíveis, os macrossômicos requerem cuidados especiais. Como chefe da UTI neonatal da Santa Casa e também com atuação no Hospital Reginal, Peres ressalta que o nascimento desses bebês por aqui recebem procedimentos obrigatórios.

“Esse bebês não podem ter alta precoce junto a mãe, devem passar por ecocardiograma, eles tem de fazer exames de sangue, porque de fortes eles não têm nada. Eles ficam um tempo maior em observação e até quatro dias internados. Passam por dezenas de exames para a investigação seja completa”, explica.

O parto – Os bebês macrossômicos começam a saga no nascimento, pois a maioria enfrenta complicações em partos distócicos (bebê entalado) ou traumáticos (com fraturas de clavícula). O sofrimento é duplo porque se estende às mães que podem sofrer laceração na região do períneo. “Eles sofrem e também fazem a mãe sofrer. Os riscos de lesões num parto normal são enormes, como uma asfixia perinatal e causar a falta de oxigênio no cérebro”, pontua.

Esse sofrimento só pode ser evitado ou amenizado com um pré-natal correto. “Muitas mães não fazem o pré-natal de forma adequada e o ginecologista não sabe o real tamanho do bebê. O normal é que a mãe entre em trabalho de parto e dê início ao procedimento normal. Só que esses bebês não costumam progredir, não descem para o canal e ficam tempo demais sofrendo. Às vezes ao passar pela vagina causam laceração grave na mãe e tem bebê que entala mesmo e ouros até morrem”, finaliza.

Henrique Josué veio ao mundo com 6,045kg e 55 centímetros, o maior até agora. (Foto: Tudodoms)
Henrique Josué veio ao mundo com 6,045kg e 55 centímetros, o maior até agora. (Foto: Tudodoms)

O Campo Grande News noticiou o nascimento de quatro bebês macrossômicos, desde o início do ano.

Rafael Gomes Gonçalves nasceu no dia 4 de fevereiro, com 5,7 kg e 54 cm. A mãe do bebê, Dircenia Gomes da Rosa, de 33 anos, descobriu a glicose alta. A cesária foi considerada de alto risco pela equipe médica e feita aos 37 semanas de gestação, no Hospital Regional de Ponta Porã.

No mesmo hospital, nasceu Arthur Barbosa de Souza, no último dia 3 de outubro, com 5,520 kg, 59 cm e com 38 semanas. Diante de uma diabete gestacional, a mãe Elizandra Chimenes Barbosa, de 37 anos, que tem outros dois filhos, descobriu que o caçula seria grande no pré-natal. O bebe ficou em observação por quatro dias.

Em abril, Luiz Davi virou a sensação da Santa Casa de Campo Grande como o “bebê gigante”. Ele nasceu com 5,1 kg e 52 centímetros. A gravidez era de risco, porque a mãe Jéssica de Souza Alvarenga, de 17 anos, tem diabetes tipo 1. O parto foi complicado e um procedimento normal teve de se converter em uma cesária.

Em setembro foi a vez de Henrique Josué surpreender. O bebê veio ao mundo com 6,045kg e 55 centímetros. A mãe Esidra Romero, de 36 anos, que já era experiente depois de cinco partos e dois filhos nascidos com mais de 4kg, não imaginava que o filho bateria recordes.

Ele bateu o recorde do Hospital Municipal Soriano Corrêa da Silva, de Maracaju. O peso e tamanho do menino também estão bem acima da média dos bebês do mundo todo.

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