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Campinho de terra é refúgio para mulherada que bate um bolão no Jardim Noroeste

De tênis ou descalças, ela jogam para fugir do estresse e se divertirem, mas algumas sonham mesmo é com uma carreira

Bruna Kaspary | 14/01/2019 08:22
Mesmo com campo de terra, as meninas não abrem mão do futebol de domingo (Foto: Marina Pacheco)
Mesmo com campo de terra, as meninas não abrem mão do futebol de domingo (Foto: Marina Pacheco)

Moradoras da aldeia urbana Darcy Ribeiro, no Jardim Noroeste, as meninas do futebol usam a bola como escapatória para preocupações do dia-a-dia, sem deixar de lado o show, que reúne famílias e muitos torcedores em volta do campinho de terra.

Umas das atletas que não perde um dia de futebol na comunidade é Maria José Santos Silva, de 28 anos. Hoje desempregada, ela é apaixonada pela bola e até representou a cidade que nasceu, no Pará, em diversos campeonatos entre os 14 e 21 anos. Sabendo do bem que isso promoveu na vida dela, a ex-atleta, que hoje mora em uma favela lamenta a situação das meninas que têm o mesmo sonho que ela. “Essas meninas batem um bolão, elas precisariam passar por uma peneira, assim nunca vão ser reconhecidas”.

Mari, como gosta de ser chamada, é considerada a voz da experiência entra as garotas. Hoje mãe de dois, ela diz que usa o futebol para tentar se distrair das preocupações de casa, da falta de emprego e do caminho que a vida tomou. “Essa é minha paixão, me relaxa, me diverte”, comenta.

Seja por distração, por paixão ou sonho, as meninas mostram todo seu talento e dão show (Foto: Marina Pacheco)
Seja por distração, por paixão ou sonho, as meninas mostram todo seu talento e dão show (Foto: Marina Pacheco)

Assim como a ex-atleta, Kethlen Luiz, de 15 anos, também joga no campeonato da comunidade para se distrair. A adolescente tem o sonho de ser engenheira agrônoma e acredita que as oportunidades que aparecerão para ela dependem somente do próprio desempenho.

“Eu acredito que se eu quiser investir no futebol eu consigo ser profissional, mas meu sonho agora é ser agrônoma”, comenta. Apaixonada pelo esporte, ela começou a jogar aos dez anos e não se imagina sem os jogos de todo o domingo para a distração.

A diarista Diana de Arruda Pires, de 27 anos, mora na aldeia há doze anos e sempre acompanhou a rotina das jogadoras. No ano passado, resolveu entrar na brincadeira também e comenta que, apesar de ser somente uma diversão para ela, muitas meninas querem que apareça a oportunidade da vida delas no campo. “Numa apareceu a oportunidade para nenhuma das meninas daqui, acredito que porque ainda não tem o reconhecimento que a gente precisa”, comentou.

Júlia, uma das caçulas da competição, fez os dois primeiros gols do jogo da equipe ontem (13). (Foto: Marina Pacheco)
Júlia, uma das caçulas da competição, fez os dois primeiros gols do jogo da equipe ontem (13). (Foto: Marina Pacheco)

Uma das caçulas da competição, Júlia Francisco Soares, de 12 anos, também acredita que só é preciso aparecer a chance para que o sonho se realize, mas lamenta as diferenças de tratamento quando o assunto é meninos versus meninas. “A mulher tem muita chance. O homem que acha que só ele tem capacidade, que a mulher não consegue porque é fraca, o que não é verdade”, contrapõe a pequena, que ainda usa o esporte somente como uma brincadeira, mas mesmo assim bate um bolão.

Todas as meninas lamentam que o que mais falta na comunidade não é o incentivo, não somente no esporte, mas principalmente para que elas consigam seguir os sonhos, sejam eles quais forem. “Os políticos aparecem aqui em época de eleição prometendo mundos e fundos e depois nunca mais. O que essas gurias precisam é de atenção para seguir a vida”, reclama, por fim, a diarista Diana.

Meninas jogam até descalças, mas não abrem mão da diversão (Foto: Marina Pacheco)
Meninas jogam até descalças, mas não abrem mão da diversão (Foto: Marina Pacheco)
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