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Cansadas dos tabus sobre uso de celular por crianças, mães abrem o coração

Troca de experiência de quem enfrenta o desafio de criar os filhos na era digital faz do tema mais leve.

Kimberly Teodoro | 29/07/2019 06:54
A troca de experiência de quem enfrenta o desafio de criar os filhos na era digital faz do tema mais leve.
A troca de experiência de quem enfrenta o desafio de criar os filhos na era digital faz do tema mais leve.

Para responder questões muito engessadas dentro de tabus criados por gerações anteriores sobre o uso de tecnologia, elas fizeram da sala de reuniões da Happy Code, um espaço dedicado ao assunto, uma roda de conversa entre amigas, a troca de experiência de quem enfrenta o desafio de criar os filhos na era digital faz do tema mais leve.  

Ainda existe um conflito de gerações, em que é difícil estabelecer até que ponto o uso de delas é ou não saudável para a criança. Quem nunca ouviu de pessoas próximas e até da própria família aquelas famosas opiniões que ninguém pediu como “Ele ainda não é muito novo para usar o celular?”, “Deixar ele no videogame vai prejudicar o crescimento”, “Na minha época, as crianças brincavam na rua e não trancadas dentro de casa”, “Nossa, mas ele já usa o computador?”

Educadora parental de disciplina positiva e comunicação não violenta, Ariane Oshiro, explica que é muito mais doloroso para a mãe ouvir a opinião dos outros quando não se está perguntando. Porque queremos também conversar, mas é diferente o palpite do diálogo e da troca. Agora, muitas vezes essa opinião vem de alguém que não contribui, que não convive, não faz parte da sua realidade, da sua rotina. Só a gente sabe o que está acontecendo nas nossas vidas”.

“Acho que isso acontece desde que ficamos grávidas, eu digo que a barriga de grávida é pública. Todo mundo quer colocar a mão, saber quando nasce, se vai ser cesária ou normal, mas por que você vai fazer esse tipo de parto? Tudo o que você come, a cólica que o seu filho sente depois que nasce, que é por causa do que você está comendo”, Lilian Rocha, de 32 anos, mãe do João Pedro de dois anos, conta que já está acostumada às críticas e hoje, aprendeu a filtrar para o que vai dar importância ou não.

Educadora parental, Ariane Oshiro conduziu a conversa levando noções da Psicologia Positiva.
Educadora parental, Ariane Oshiro conduziu a conversa levando noções da Psicologia Positiva.

Quando acontece com familiares, Ariane ressalta a necessidade de conversar. “Temos a ideia de que conflito é ruim, mas esse não é um conflito no sentido de violência, é uma divergência de opiniões. Você esclarecer o que te incomoda é também uma maneira de se respeitar. Esse silenciar de opiniões em questões que te incomodam, fazem a gente adoecer”.

A outra pessoa precisa entender que você têm necessidades e que precisa atendê-las, muitas vezes, apresentar o celular é necessário para que mãe consiga cuidar de si. Tomar banho sem a preocupação de deixar o filho sozinho, precisa comer, estudar, lavar o cabelo e não tem, naquele horário, quem fique com a criança. Nesse sentido, quem está do lado de fora precisa pesar melhor as próprias palavras frente à situação.

No ponto da tecnologia Ariana cita a Sociedade Brasileira de Pediatria, que está alinhada a americana e com a Canadense, para crianças com menos de dois anos não é indicado o uso de telas. É uma fase em que o bebê está aprendendo o tempo todo com base nos estímulos que recebe e a relação, o contato humano é muito importante para que isso aconteça.

“A família é a primeira amostra de humanidade com que a criança tem contato. Como nos relacionamos com eles e entre nós é o que eles vão replicar para o mundo. É isso que fundamenta a estrutura emocional dos nossos filhos e o que eles vão ser”, explica a educadora.

Vanessa Toizu é a responsável pelo espaço Happy Code, e também dividiu experiência com as outras mães.
Vanessa Toizu é a responsável pelo espaço Happy Code, e também dividiu experiência com as outras mães.

Entre dois a cinco anos, uma hora por dia em frente às telas é o suficiente. A Sociedade Americana de Pediatria recomenda que os pais acompanhem esse tempo em frente à televisão, celular ou tablet.

A partir dos seis anos é necessário impor limites consistentes, uma das dicas usadas pela disciplina positiva é o envolvimento dos pais com as atividades executadas pelos filhos em frente às telas. “Para ser interessante, precisamos estar interessados. Se não sentamos nunca para ver o que eles estão fazendo, se não nos interessamos por nada do que eles estão falando, o que jogam e o que assistem não é fácil se conectar com eles”.

É necessário delimitar um horário para o uso das telas, Ariana explica que a noção de tempo das crianças não é como a dos adultos. Para que eles entendam, uma das dicas é que esse período seja palpável, como por o exemplo o uso de um timer de cozinha onde é possível marcar a passagem dos minutos. “Deixe que ele mesmo programe o timer, esse compartilhamento de poder trabalha a noção de responsabilidade e deixar nas mãos dela é como se você dissesse: Filho, eu confio em você também. Você é capaz de entender e executar essa tarefa”.

Quando o assunto são crianças mais velhas, quem nunca ouviu frases como: “Preciso passar de fase!”, “O jogo ainda não acabou”, “O episódio está quase no fim”? No caso dos programas de TV, estabelecer o limite de tempo ao fim de determinado número de episódios funciona melhor do que o uso de horas. Para jogos, o conselho é acompanhar os últimos minutos, sentar ao lado do computador e do videogame, se envolver com o aquele conteúdo e entender o que realmente está acontecendo na tela. Pode ser que o fim do jogo seja a próxima fase, se cumprir determinada missão e esse tempo é menos mensurável,mas pode ser acordado.

Henailly Marques chegou até o grupo preocupada com a criação do filho na era digital.
Henailly Marques chegou até o grupo preocupada com a criação do filho na era digital.
Lilian Rocha conta que aprendeu a filtrar as opiniões não solicitadas sem se sentir mal por isso.
Lilian Rocha conta que aprendeu a filtrar as opiniões não solicitadas sem se sentir mal por isso.

Durante uma palestra para casais, Vanessa Toizu, de 43 anos, relembra uma conversa com um dos pais presentes em que relatou a necessidade de assistir às séries e filmes pelos quais o filho mais velho passou a se interessar por volta dos dez anos. “A pessoa me perguntou o porquê de eu perder esse tempo. Eu não perco esse tempo, eu ganho. A classificação não é a da TV, é a nossa. Eu avalio o que ele está vendo. Às vezes quando oferecemos este recurso tecnológico, que é o celular por exemplo, estamos querendo um pouco de tempo para nós mesmos, mas que ao menos uma vez você entenda o que ele está consumindo”.

Em uma conversa com sobre o que fazer com as tardes do filho durante as férias, Henailly Marques, de 25 anos entendeu que não precisava se preocupar em preencher todos os horários livres do filho Joaquim, de 3 anos. “Ele precisa viver o tédio, é nesses momentos que ele cria”.

É importante analisar os perfis de personalidade, tem crianças que por si só são mais envolvidos com pelos sentidos sensoriais táteis, gostam mais de ter contato com a natureza, com os brinquedos e têm crianças que são mais urbanas, mais voltados para os sons. Então dentro disso, eles criar alternativas para passar o tempo dentro ou fora do uso de tecnologia.

Em casa, a técnica desenvolvida por Henailly é proibir completamente o uso de celular pelo filho. Ele assiste desenho e começa a caminhar pelo mundo do videogame, ao mesmo tempo em que ela quer tirar esse contato, o medo é de certa forma adiar um contato com o mundo tecnológico vivido pela geração dele.

Reunidas, mães trocam experiência para quebrar os tabus da tecnologia.
Reunidas, mães trocam experiência para quebrar os tabus da tecnologia.

Vanessa viveu essa experimentação do uso de tecnologia duas vezes, a primeira com o filho Lucas, de 12 e a segunda com David, de 6 anos, que ao contrário do mais velho “já nasceu com o controle nas mãos”. “A dica que eu dou é conversar com ele e oferecer alternativas, dizer: Olha, você pode jogar, mas vamos fazer um desenho primeiro? Depois estabelecer limites de tempo para o uso do jogo, para que ele não sinta que foi tirado algo dele”.

Impor limites quando há outras pessoas envolvidas também é um desafio, muitas vezes as regras que valem dentro de casa acabam não existindo durante uma visita à avó, aos tios, primos e etc. “Ao contrário do que vemos em outras gerações, em que temos os avós mais autoritários, essa roupagem se inverteu para a permissividade, onde na casa dos avós vira um território onde as vontades da criança são permitidas. Na disciplina positiva, trabalhamos sempre com regras claras, o que pode ajudar nisso é primeiro conversar com eles. Não é fácil, mas é necessário impor limites, isso também é amar as crianças”.

Outro ponto importante é conversar sobre a necessidade real de utilizar o celular, muita gente usa o aparelho como ferramenta de trabalho. Quando a criança observa os pais o tempo inteiro no telefone, ela não sabe a diferença entre o tempo gasto com lazer ou obrigações e um dos primeiros impulsos é seguir esse exemplo. Antes de cobrar moderação dos filhos é necessário analisar o próprio consumo, evitar o aparelho durante as refeições ou tempo destinada à família é uma maneira de melhorar essa relação.

O encontro foi promovido na escola de programação, maker e robótica Happy Code, voltado para o aprendizado de crianças de 5 a 17 anos com o uso de tecnologia em parceria com a Rede Mãe Empreender.  

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