Como lidar com o luto das crianças que perderam parentes para a covid?
Em tempos de covid, avós, pais e tios partem sem nem receberem despedida dos pequenos, que ficam na saudade
Diante de tantos casos de covid-19 e da perda de familiares, muitos pais estão tendo de enfrentar a difícil tarefa de falar sobre a morte e vivenciar o luto junto das crianças. Avós, pais e tios que partem, muitas vezes sem que possa haver sequer uma despedida, deixam saudade nos pequenos que ainda não sabem como lidar com uma mistura de sentimentos.
Conte sempre – Psicóloga, Simone Cougo frisa que é preciso falar abertamente sobre a morte com as crianças e que evitar o assunto para preservá-las pode gerar ainda mais insegurança e sentimentos de culpa.
"O luto é um processo a ser vivido, conversado e acolhido, especialmente quando falamos de crianças, porque elas têm menos repertório que nós adultos. Então, é importante orientar e acolher para possibilitar a elaboração do luto", explica.
A psicóloga fala que é importante explicar à criança que todos morrem um dia, mas que as pessoas próximas a ela não desperecerão todas ao mesmo tempo.
Ir ou não ao enterro? – Para a psicóloga, os pequenos devem ser convidados a participarem dos rituais, que em tempos de pandemia estão sendo mais breves, e incentivadas a compartilhar sentimentos. "É essencial respeitar o tempo que cada criança demanda para a elaboração de uma perda".
Como falar sobre o luto – Especialista em Comunicação não Violenta, Educação Emocional e Disciplina Positiva para escolas, famílias e empresas, Ari Osshiro ensina a introduzir o assunto de forma leve, oferecendo todo apoio possível.
Tudo na vida é tão precioso que ficamos tristes quando algo chega ao fim. Quando alguém querido morre, podemos nos sentir perdidos, confusos e profundamente entristecidos", sugere Ari.
Para as crianças, a morte pode ser complicada de entender e noticiá-la traz uma avalanche de questionamentos. Onde está a pessoa? Ela voltará? Quem cuidará de mim agora?
"Os pequenos vão lidar com essa experiência do jeito e no tempo deles, no entanto, podemos tomá-los pelas mãos e dividir o que sabemos, tranquilizando-os, dizendo que de alguma maneira as coisas ficarão boas de novo", explica.
Nomear sentimentos – Ari também orienta para que sejam nomeados, de forma sutil, os sentimentos que a morte pode trazer. Por exemplo, dizer que "quando alguém que a gente ama morre, a gente pode ter muitos sentimentos. Pode se sentir triste, com medo, um pouco confuso, perdido, com enjoo no estômago, raiva e até preocupado. Também podemos nos sentir anestesiados ou com um vazio de sentimentos ou todos estes ao mesmo tempo".
A especialista comenta que algumas pessoas pensam que devem fingir que nada de ruim aconteceu quando alguém morre ou que se não pensar nisso e não chorar, talvez as coisas possam melhorar. "Mas é importante dizer que a gente não vai simplesmente esquecer que uma pessoa que a gente amava morreu, porque gostávamos muito dessa pessoa e ela estava presente na nossa vida", diz.
Cultivar lembranças – Ari também propõe que os familiares falem para a criança dividir os seus sentimentos com pais, avós, professores e adultos em que elas confiem, além de pensar sobre as coisas boas que os pequenos faziam junto com quem partiu quando ainda estava vivo. "É verdade que você não pode fazer mais coisas boas com aquela pessoa e isso pode te deixar um pouco triste, mas lembrar dos momentos bons e felizes que vocês compartilharam pode fazer você muito feliz".
E aí podem entrar gravuras, desenhos e brincadeiras que eram feitas com o familiar que morreu e até receitas que o pai, mãe, avó ou tio preparam com a criança. "Você pode criar até um livro de recordações com desenhos e fotos que lembrem como aquela pessoa era maravilhosa e todas as coisas que vocês fizeram juntos".
Na escola – Diretora pedagógica da Maple Bear, Fernanda Ortiz, relata que na escola o trabalho de acolhimento se fez muito necessário na pandemia em vista de substituições de aulas, situações desafiadoras nas famílias e até casos da doença. "A gente tem que ter esse olhar para as questões emocionais que possam influenciar no dia a dia das crianças", comenta a diretora.
Com um caso de morte de familiar de alunas na escola, a equipe se juntou para ver qual era a melhor forma de ajudá-las. Foi então que os colegas fizeram cartinhas e a escola enviou o livro "Quando mamãe ou papai morre" que de forma lúdica trabalha o luto nas crianças.
Segundo a diretora, falar sobre a morte depende da idade dos alunos, algumas turmas por terem percepções diferentes e as crianças ainda serem muito pequenas, a escola deixou a cargo das famílias.
"Nós só pedimos para a turma escrever cartinhas pensando na ausência da coleguinha e que ela estava em uma situação que precisaria de muito carinho", repete Fernanda. Para turmas onde as crianças eram mais velhas, a notícia foi dada assim como o papel das crianças neste processo de luto da família fora explicado.
"Nós dissemos que seríamos o apoio para ela, que a escola é um local importantíssimo pra ela e que nós pudéssemos transmitir mensagens de carinho para ela ter apoio neste momento de dor".
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