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Dentro da igreja, psiquiatra mostra que suicídio não é “falta de Deus”

Existem inúmeros fatores desencadeantes para o suicídio e ele é um problema de saúde pública, então é preciso buscar informação

Thailla Torres | 14/08/2019 08:07
4ª Igreja Batista para falar abertamente sobre o tema sem "tabus". (Foto: Thailla Torres)
4ª Igreja Batista para falar abertamente sobre o tema sem "tabus". (Foto: Thailla Torres)

Com as redes sociais e os ânimos fervendo toda vez que surge uma notícia sobre suicídio, fica claro o quanto é necessário do papel da sociedade em relação saúde mental. Mas as pessoas também têm demonstrado um desconhecimento sobre o assunto quando colocam a “falta de Deus” como razão para o suicídio.

Na contramão disso, o Seminário Batista Sul-Mato-Grossense, instituição de formação de teólogos, abriu as portas da 4ª Igreja Batista para falar abertamente sobre o tema, durante a semana acadêmica promovida pela instituição.

Nos bancos da igreja, mais de 150 pessoas assistiram atentas a palestra do psiquiatra André Veras que foi enfático em dizer que o suicídio é um problema de saúde pública. “Que na maioria dos casos, do ponto de vista médico, tem como razão a depressão, transtornos de humor, uso de substâncias, transtornos psicóticos e sofrimentos diante das relações sociais”.

O médico esclareceu que o suicídio ou a tentativa dele não deve ser atribuído a uma única causa. “Há uma série de fatores no histórico da pessoa que levam ao suicídio, por isso, é preciso avaliação, cuidado e prevenção”, esclareceu.

Existem fatores desencadeantes, como desesperança, impulsividade, isolamento social e falta de um sentido na vida, comum, especialmente, entre os jovens que vivem conflitos com laços familiares, de orientação sexual, de identidade e gênero.

O mais grave, segundo o médico, é que os casos de suicídio têm se revelado mais cedo, “entre pessoas de 10 a 25 anos, ou seja, crianças estão tirando e querendo a própria vida”, explica. O índice também alto em idosos, especialmente, que têm doenças crônicas ou intratáveis que, perdem amigos e companheiros de vida.

Para quem diariamente é alimentado com as ocorrências trágicas ou tem algum conhecido que já tentou o suicídio, o psiquiatra lembra que ninguém deve culpar, mas sim ajudar. “É preciso discutir o suicídio desprovido de tabus, esses tabus são construídos pelos nossos rituais sociais, mas o suicídio está bastante presente. Essa ocorrência habitualmente trágica gera um profundo entristecimento ao redor, que frequentemente é traumático”, diz. Do ponto de vista médico e psiquiátrico “não se pode mais negligenciar”.

O suicídio não pode se tornar um segredo entre a família e nem ficar isolado das pessoas ao redor. “Qualquer percepção de sofrimento precisa ser falada. É preciso perguntar ao outro de forma clara sobre o suicídio, mas com a conotação de que há preocupação e não julgamentos”.

Entre as medidas de prevenção, além do diálogo e relações sociais saudáveis, a principal é o diagnóstico e tratamento médico, mas para isso, é necessário um aumento acesso aos profissionais da saúde.

Dentro disso, profissionais, acadêmicos, docentes e a própria comunidade, podem trabalhar juntas na prevenção da dor e sofrimento. “Precisamos realizar ações que transformem a vida do outro, que promove integração social e bem-estar”, explica. Como se faz isso? “Com ações de esporte, lazer, ativismo, conforto, socialização e trabalho, por exemplo”.

Ponto de vista religioso – Para quem não é religioso e está cansado de ouvir e ler por aí que a vontade de morrer tem a ver somente com a fé, a palestra soa como alento, ainda que do ponto de vista teológico, muitos afirmem que a pessoa comete suicídio “porque perdeu a esperança em Deus”.

Pastor e diretor do Seminário Batista Sul-Mato-Grossense, Paulo José da Silva contou no púlpito que passou a trabalhar na prevenção do suicídio há décadas, quando houve aumento número de mortes de indígenas na região de Dourados. Para ele, hoje, o assunto é ainda mais importante com o número crescente de suicídio entre crianças e adolescentes.

Ao Lado B o pastor afirmou que a instituição é de uma denominação antiga e conservadora, que preza o ensino religioso como algo importantíssimo na formação do caráter, mas que não são simplesmente religiosos, “são seres humanos e devem tratar o ser humano como um todo”, diz. “É o que chamamos de missão integral da igreja, é cuidar do ser humano e olhar para todas as necessidades”.

Eles seguem a linha de pensamento de que o homem é feito de corpo (físico), alma (psique) e espírito (Deus). “Para nós o suicídio pode advir de uma dessas questões. Então, na abordagem teológica, o homem se suicida quando perde todas as esperanças, inclusive, a esperança em Deus. Mas a gente entende que não é só falta de Deus, pode ser por um problema espiritual, psicológico ou patológico. Como para nós qualquer uma das três pode levar ao suicídio, esse assunto é importante e resolvemos falar sobre ele de forma aberta, para todos, independente da religião”, afirma.

Ajuda - Em Campo Grande, o Grupo Amor Vida (GAV) presta um serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através dos telefones (67) 3383-4112, (67) 99266-6560 (Claro) e (67) 99644-4141 (Vivo), todos sem identificador de chamadas. Ligue sempre que precisar!

Horário de funcionamento das 07:00 às 23:00, inclusive sábados, domingos e feriados. Informações também pelo site (clique aqui).

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