Dermatologista alerta para danos que vão além da pele no uso de botox
Elza Garcia diz que houve banalização nos tratamentos e corrida por altos lucros, risco à saúde do paciente
Operação da PF (Polícia Federal) deflagrada ontem (15) interceptou esquema de compra de toxina botulínica, o botox, proveniente do Paraguai e usado em procedimentos estéticos. Duas dentistas de Mato Grosso do Sul foram presas em flagrante, quando a PF encontrou substância na casa delas, e liberadas após pagamento de fiança.
O uso do botox por esses profissionais é permitido pelo CFO (Conselho Federal de Odontologia) desde 2019, que reconhece a harmonização facial como especialidade odontológica. O que é preciso ter cuidado é com a procedência desses produtos, que podem ter efeito danoso e longe da expectativa estética criada.
A presidente regional da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Elza Garcia da Silva, alerta para alguns cuidados sobre a escolha do profissional e do uso da substância. Abaixo, ela responde alguns questionamento enviados pelo Campo Grande News:
Quais os riscos do uso do botox de procedência estrangeira?
Nós temos no Brasil uma agência reguladora muito séria e exigente, a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Quando se usa produtos de origem incerta não há garantia de segurança ao usuário, assim como de resposta adequada. Ainda pode haver respostas alérgicas graves, pois algumas toxinas têm proteínas alergênicas na constituição.
É preciso perguntar: qual a quantidade desta substância? O local onde está sendo aplicado tem preparação para atendimento de emergência? Tem profissional e material adequado para intubação do paciente, para estabilizar o quadro clínico até chegar a um atendimento de emergência? E quanto aos riscos de contaminação, pode haver com fungos, bactérias e micobactérias, estas, muito difíceis de tratar e causam úlcera na pele que podem supurar. Há inúmeras possibilidades. Quem sabe como são as condições de armazenamento? Há uma série de exigências para que o produto se mantenha seguro e eficaz.
O que fazer em casos de aplicação do produto falsificado?
É importante procurar atendimento médico em sua cidade para avaliação e acompanhamento e tratar precocemente, se aparecerem sintomas.
O que causa a alta procura desses produtos por parte dos profissionais?
Necessidade de altos lucros com pouco gasto do lado profissional. Logicamente devem ser produtos baratos. O tratamento do ser humano, mesmo que seja estético, não pode ser um comércio. Não é como tratar os cabelos ou as unhas no salão de beleza. O Conselho Federal de Medicina é muito rigoroso nesta questão: o médico pode dar valor ao trabalho, mas jamais fazer da sua atividade um comércio. Atualmente, esta parte da estética está muito banalizada. Observa-se muitos cursos médicos sendo oferecidos por profissionais não médicos para não médicos e, muitas vezes, sem critério. O próprio profissional aplicando cursos não tem nenhum antecedente de ser ligado a uma entidade, uma universidade. As entidades fiscalizadoras deveriam se envolver melhor no assunto.
Quais as dicas para quem pretende começar as aplicações? Quais sinais de atenção?
O paciente precisa ter muito critério ao escolher um profissional para atendê-lo. Quando o procedimento não terminar como o esperado, ele precisa ter a segurança, precisa ter a informação de como vai ser cuidado se der errado. Qual o médico que vai ajudá-lo? Em que hospital o profissional vai levá-lo? Quem vai agir o mais precocemente para evitar sequelas na sua pele ou órgãos internos? As pessoas precisam entender que a pele faz parte do corpo e que logo abaixo tem outros órgãos que podem sofrer danos com o procedimento invasivo. Não basta saber fazer, tem que saber socorrer logo.