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Em enquete, 82% juram que nunca foram abusivos em relacionamento

Na maior parte das vezes, o abuso mora em comportamentos sutis do dia a dia

Thailla Torres | 16/08/2020 08:09
Cena da série Jessica Jones, onde mostra a super-heroína, da Marvel Comic, tentando se desvencilhar de ‘K’, que aparentemente é um homem perdidamente apaixonado por ela. Mas na verdade, é o típico abusador que tortura a mulher por meio da violência psicológica.
Cena da série Jessica Jones, onde mostra a super-heroína, da Marvel Comic, tentando se desvencilhar de ‘K’, que aparentemente é um homem perdidamente apaixonado por ela. Mas na verdade, é o típico abusador que tortura a mulher por meio da violência psicológica.

Muito se fala sobre ter, viver e como perceber um relacionamento abusivo. Agora difícil mesmo é considerar o fato de que podemos estar sendo abusivos com alguém. E pasmem: somos altamente capazes de ter atitudes abusivas com quem mais amamos e queremos por perto. Pode acontecer com namorados, amigos, pai, mãe ou qualquer outra pessoa que você lide no dia a dia. Mas 82% dos leitores do Campo Grande responderam durante enquete realizada nas últimas 24 horas que nunca foram abusivos numa relação. E 18% disseram que sim, que já foram abusivos em algum relacionamento.

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Vale destacar que não é só a violência física que define os relacionamentos abusivos. Na maior parte das vezes, o abuso mora em comportamentos do dia a dia, como manipulação, tentativa de controle sobre o outro (seja sobre o corpo, roupas, amizades, familiares), violência patrimonial (quando a parte economicamente mais forte da relação usa disso para abusar do poder) e cerceamento da liberdade individual.

Longe dos relacionamentos amorosos, o abuso também pode ocorrer entre familiares e amigos. “A família nuclear goza de muito poder sobre seus membros, seja pais sobre filhos ou filhos sobre pais. É frequente chegar casos em que um filho foi obrigado a seguir tal profissão ou a se casar com tal pessoa por conta do controle exercido pelos pais. Filhos também podem ser abusivos quando, por exemplo, determinam onde os pais devem morar, com quem podem se relacionar e/ou gastar seu dinheiro”, exemplifica a psicóloga Mariana Breve.

As amizades podem sim ser abusivas se você percebe que é um amigo ou amigo que “emburra” quando o outro sai sem você, que quer que ele tenha outros amigos ou relacionamentos, fala mal de quem se aproxima do seu amigo, entre outros sinais que tiram a possibilidade de escolha.

A forma de abuso que a psicóloga considera mais perigosa é “gaslighting”, pois é a partir dela que a violência física e sexual se torna mais possível. Gaslighting é uma expressão que vem do filme Gaslight (1944) e é uma forma de abuso psicológico em que informações são distorcidas, inventadas ou omitidas para que a vítima passe a duvidar dos fatos, dos seus sentimentos, percepções, chegando a pensar que nada do que vê é real. “Infelizmente, esta prática é bastante comum em relacionamentos heterossexuais, sendo o homem quem pratica e a mulher a vítima. Pode ocorrer o contrário? Com certeza, mas é infinitamente menos comum”, destaca a especialista.

Série You mostra a visão do abusador sobre a vítima e suas ‘justificativas’ para cometer atrocidades.
Série You mostra a visão do abusador sobre a vítima e suas ‘justificativas’ para cometer atrocidades.

Mariana também explica porque é tão difícil se enxergar como o abusivo ou abusiva da relação. Basicamente isso ocorre porque estamos muito acostumados a olhar somente para o outro: “atitudes do outro, as palavras do outro, a forma como o outro fez com que eu me sentisse... e por aí vai. Olhar para si requer uma dose muito grande de coragem”, pontua.

“Muitas vezes sim, justamente por ser tão difícil encarar as próprias fragilidades e questões. O “ser abusivo”, geralmente, envolve uma porção enorme de insegurança”, acrescenta.

Por isso, para fazer a autocrítica, é importante observar se você pensa que tem muitos poderes sobre a outra pessoa, seja cônjuge, amigo ou familiar. As atitudes iniciais são geralmente vistas como cuidado, carinho e preocupação, mas podem evoluir disso para uma tentativa de tomada de controle. “Controle este fictício, mas muito buscado, gerando dor e sofrimento para todos que estão neste tipo de relacionamento”.

Mariana destaca que a condição humana traz consigo uma incompletude que nada nem ninguém consegue suprir, nem a própria pessoa. Ou seja, “viver é lidar diariamente com faltas, buracos e essa incompletude que gera muita angústia. Quando a própria falta começa a virar um excesso sobre o outro e algo precisa ser feito”.

Quando eu sou abusivo ou abusiva – Ao chegar nessa identificação, se possível, o primeiro passo é procurar ajuda profissional especializada, ou seja, um psicólogo, para que a pessoa possa falar e refletir sobre isso e assim entender se quer ou não manter este relacionamento em sua vida. “Frequentemente, o que mantém relacionamentos abusivos não são os laços construídos pelo amor e cuidado, e em análise a pessoa pode se ver frente a estes sentimentos, decidindo então se é o suficiente para ficar ou ir embora.

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