Gritar em saco ou rugir como leão extravasa raiva e ajuda pais e filhos em casa
Sete pais e seus filhos participaram da oficina de Roda da Escolha da Raiva que aconteceu ontem em Campo Grande
A raiva é um sentimento comum, porém poucos sabem lidar, principalmente dentro de casa. É normal ter um dia estressante e ficar irritado. Quem nunca? Mas, tem de estar atento para não descontar o mau humor nos filhos, pais ou quem estiver mais próximo. Para isso, existem alguns meios de extravasar essa emoção, e um dos jeitos mais simples é voltar à época das cavernas e gritar como Tarzan ou rugir como leão.
“Gritar é uma ação e uma forma de canalizar a dor. Pode usar um saco de papel para extravasar, o barulho é abafado. Já as crianças gostam de rugir como leão, pois querem mostrar a raiva deles, assim vão conseguir pensar melhor. Com criança a gente trabalha com estratégias mais lúdicas para controlar o sentimento, então em vez de falar o que não pode fazer é melhor direcionar para o que pode ser feito”, explica a educadora parental de Disciplina Positiva e Comunicação não Violenta, Ariane Oshiro.
No sábado (22), na oficina Roda de Escolha da Raiva, em Campo Grande, Ariane se reuniu com sete pais e oito filhos para ajudá-los a lidar com a emoção. “Uma forma de controlar a raiva é validar o sentimento e canalizá-lo. A gente vira uma bomba-relógio porque vai acumulando raivas e explode nas pessoas mais próximas”, disse.
Se estressar, ficar irritado e raivoso não é problema, mas é preciso se certificar que a sua ação não reflita de maneira negativa nas pessoas a sua volta. “Temos células espelhos, todos repetem o que está acontecendo”, falou.
O gestor de cooperativas, Fabrício Rodrigues é pai do Pedro, de 2 anos, e participou da roda de conversa. Ele relata que o filho é temperamental e, às vezes, fica muito agitado, mas precisa ajudar a si mesmo, para então conseguir ensinar ao pequeno o que pode ou não fazer no momento de fúria. “Quero evitar que a gente o transforme em uma criança agressiva, e antes que a gente repita alguns modelos que aprendemos com nossos pais, de bater, gritar, resolvemos buscar essa troca de experiência”, disse.
Ele conta que o trabalho toma seu tempo e por causa da correria, acaba não dando a atenção necessária ao Pedro. “Tem dia que ele está mais agitado, mas o problema maior está na gente, com essa carga de trabalho, correria e por isso, faz coisas para chamar atenção. Estamos com essa busca de nos conhecermos como pais e dar atenção, no tempo devido”.
Fabrício afirma que é na infância que se molda o caráter dos filhos. “Moldamos a característica que ele vai adquirir. Quando criança, se o pai grita, bate isso gera consequências na fase adulta e essa pessoa pode se tornar agressiva. Entendo que a violência não é algo positivo, mas que pode sentir raiva, medo, porém que saiba lidar com isso”, afirma.
Natallie Hiratsuka é terapeuta floral e mãe de dois filhos, Kenzo 4 anos e Kody 2 anos. Ela é solteira e precisa conciliar o trabalho, casa, filhos e ainda ter tempo para si. Não é fácil e, de vez em quando, ela conta que desaba em lágrimas. “Tem dias que só quero pedir demissão do cargo de mãe e não fazer nada, quando isso ocorre recorro a disciplina positiva ou à comunicação não violenta e peço desculpas a eles, explico o que está acontecendo de forma que eles possam entender. Estava cansada, nervosa e comecei a chorar. O Kenzo perguntou o que era e me disse que quando chora as coisas melhoram”, contou.
Ela relata também que os dois filhos tem temperamentos diferentes, enquanto o Kenzo é mais calmo, o Kody é explosivo. “Tem dificuldade de lidar com algumas emoções e gostaria de entender e lidar com isso, de forma diferente. Como o maior verbaliza, é mais fácil, porém o menor não, então se joga, chora. Vim à oficina para aprender a lidar comigo e ajudar eles”, disse.
Pamela Castro é doula tem uma filha e também esteve na Roda de Escolha da Raiva. Ela se vê como o espelho da criança. “Nem sempre consigo me manter tranquila, às vezes grito, falo mais alto do que deveria e depois quando ela se irrita, faz as mesmas coisas que eu fiz. Sou espelho e preciso aprender ferramentas para me acalmar também”, finaliza.