ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SÁBADO  16    CAMPO GRANDE 32º

Faz Bem!

Na hora de gerar conteúdo, quem pensa nas pessoas com deficiência?

Através de vídeos, projeto da Funesp tem levado treinos de atletismo para pessoas com deficiência

Thailla Torres | 22/05/2020 06:55
Evelyn tem baixa visão e tem feito seus exercícios físicos em casa. (Foto: Marcos Maluf)
Evelyn tem baixa visão e tem feito seus exercícios físicos em casa. (Foto: Marcos Maluf)

O acesso às atividades físicas que já era difícil para algumas pessoas com deficiência tornou-se ainda mais complicado durante a pandemia do novo coronavírus. A falta de auxílio profissional, motivação e até mesmo recursos que facilitem o acesso a conteúdo, que envolve não só atividade física, mas uma diversidade de temas, na web, são fatores que dificultam ainda mais a vida da pessoa com deficiência. Por isso, equipe de professores da Funesp (Fundação Municipal de Esportes de Campo Grande) tem gerado conteúdos on-line às pessoas com deficiência física.

São vídeos com orientações de bocha e atletismo, a fim de motivar atletas que costumam frequentar os parques da cidade a manterem os treinos em casa. Além das videoaulas, há na plataforma online da fundação cartilha, lives e os professores encaminham dicas pelo WhatsApp para os atletas e não atletas com deficiência física e visual.

A iniciativa é o que fez surgir um questionamento durante papo com atleta paralímpica Evelen de Oliveira Xavier dos Santos, de 28 anos: na hora de gerar conteúdo, quem pensa nas pessoas com deficiência? Ela diz  que viu a rotina ser transformada com o esporte, mas surpreendida pela pandemia, se viu junto a outros colegas com deficiência visual sem muitos conteúdos que facilitassem o acesso às atividades. “As vezes o vídeo tem só uma trilha sonora e não há um áudio descrição do que está sendo mostrado, ou não há fala do professor, por exemplo. E isso facilita muito”.

Uma doença congênita faz Evelyn enxergar só 20%. Ainda que consiga enxergar de pertinho o que está no celular, ela fala pelas pessoas com baixa visão e pelas que não enxergam absolutamente nada. "É preciso pensar em todas essas pessoas. Eu acho que o conteúdo publicado hoje na internet não pode mais ser pensado só para quem enxerga", explica.

Ela acompanha vídeo aulas para dar continuidade às atividades de atletismo. (Foto: Marcos Maluf)
Ela acompanha vídeo aulas para dar continuidade às atividades de atletismo. (Foto: Marcos Maluf)

Por causa da deficiência, Evelyn conta que iniciou a vida no esporte. "Estavam precisando de crianças com deficiência na escola para participar das atividades e assim eu vi a minha vida ser transformada. Tive muitas oportunidades, viajei para muitos lugares, conheci culturas diferentes, aprendi a lidar com desafios, preconceitos".

Formada em Educação Física e apaixonada pelo atletismo, os dias em casa tem sido difíceis pela saudade de estar em contato com pessoas, mesmo assim, ela não abandona os exercícios.  "Ano passado eu tive filho e fiquei um tempo parada, mas logo em seguida eu quis voltar, não aguentei ver os outros competindo e eu não. Hoje, na quarentena, faço todas as atividades que oferecem e treino em casa. Como moro em condomínio, consigo até dar uma corridinha".

Na opinião dela, além de áudio descrição nas imagens ou conteúdo acessível para que softwares consigam transformar o conteúdo em áudio, ela acredita a didática em caso de exercícios precisa ser diferente. "Para pessoas que não têm experiência com o exercício físico, por exemplo, não tem noção de como é para ser feito cada movimento. Por isso, é melhor uma narração mais popular e menos técnica".

O professor de Educação Física e treinador paralímpico Daniel Senna tem dado esse suporte através dos vídeos. "A falta de acessibilidade já é um problema sério nos dias comuns, agora é ainda mais no período de isolamento, então, é bastante desafiador já que muitos também não têm acesso à tecnologia. Nesse momento então a gente precisa pensar numa forma positiva de estar ajudando essas pessoas e é o que temos feito".

Ele diz que a proposta dos vídeos é não deixar ninguém parado. "Os vídeos são para tirá-los da ociosidade. Então a gente busca adaptar o conteúdo para essas pessoas com deficiência. A gente passa toda fundamentação básica de atividade física, como alongamento, aquecimento, além de exercícios dinâmicos, que equilibram as potências, o fortalecimento. Mas também orientamos sobre a segurança. O cego total, por exemplo, precisa de muita cautela e, se possível, ajuda de um familiar”, explica.

Tudo o conteúdo é explicado de maneira menos técnica e mais didática, falando o movimento e descrevendo a maneira com que ele pode ser feito, e utilizando recursos da própria casa, caso a pessoa não tenha auxílio de materiais para exercício. “Como utilizar uma cadeira, o cabo de vassoura, um saquinho de feijão, uma latinha”, explica o professor.

Quem tiver interesse aos conteúdos, o projeto Movimenta CG em Casa está disponível no site da prefeitura (clique aqui).

Curta o Lado B no Facebook e no Instagram. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563.

Nos siga no Google Notícias