Na hora de gerar conteúdo, quem pensa nas pessoas com deficiência?
Através de vídeos, projeto da Funesp tem levado treinos de atletismo para pessoas com deficiência
O acesso às atividades físicas que já era difícil para algumas pessoas com deficiência tornou-se ainda mais complicado durante a pandemia do novo coronavírus. A falta de auxílio profissional, motivação e até mesmo recursos que facilitem o acesso a conteúdo, que envolve não só atividade física, mas uma diversidade de temas, na web, são fatores que dificultam ainda mais a vida da pessoa com deficiência. Por isso, equipe de professores da Funesp (Fundação Municipal de Esportes de Campo Grande) tem gerado conteúdos on-line às pessoas com deficiência física.
São vídeos com orientações de bocha e atletismo, a fim de motivar atletas que costumam frequentar os parques da cidade a manterem os treinos em casa. Além das videoaulas, há na plataforma online da fundação cartilha, lives e os professores encaminham dicas pelo WhatsApp para os atletas e não atletas com deficiência física e visual.
A iniciativa é o que fez surgir um questionamento durante papo com atleta paralímpica Evelen de Oliveira Xavier dos Santos, de 28 anos: na hora de gerar conteúdo, quem pensa nas pessoas com deficiência? Ela diz que viu a rotina ser transformada com o esporte, mas surpreendida pela pandemia, se viu junto a outros colegas com deficiência visual sem muitos conteúdos que facilitassem o acesso às atividades. “As vezes o vídeo tem só uma trilha sonora e não há um áudio descrição do que está sendo mostrado, ou não há fala do professor, por exemplo. E isso facilita muito”.
Uma doença congênita faz Evelyn enxergar só 20%. Ainda que consiga enxergar de pertinho o que está no celular, ela fala pelas pessoas com baixa visão e pelas que não enxergam absolutamente nada. "É preciso pensar em todas essas pessoas. Eu acho que o conteúdo publicado hoje na internet não pode mais ser pensado só para quem enxerga", explica.
Por causa da deficiência, Evelyn conta que iniciou a vida no esporte. "Estavam precisando de crianças com deficiência na escola para participar das atividades e assim eu vi a minha vida ser transformada. Tive muitas oportunidades, viajei para muitos lugares, conheci culturas diferentes, aprendi a lidar com desafios, preconceitos".
Formada em Educação Física e apaixonada pelo atletismo, os dias em casa tem sido difíceis pela saudade de estar em contato com pessoas, mesmo assim, ela não abandona os exercícios. "Ano passado eu tive filho e fiquei um tempo parada, mas logo em seguida eu quis voltar, não aguentei ver os outros competindo e eu não. Hoje, na quarentena, faço todas as atividades que oferecem e treino em casa. Como moro em condomínio, consigo até dar uma corridinha".
Na opinião dela, além de áudio descrição nas imagens ou conteúdo acessível para que softwares consigam transformar o conteúdo em áudio, ela acredita a didática em caso de exercícios precisa ser diferente. "Para pessoas que não têm experiência com o exercício físico, por exemplo, não tem noção de como é para ser feito cada movimento. Por isso, é melhor uma narração mais popular e menos técnica".
O professor de Educação Física e treinador paralímpico Daniel Senna tem dado esse suporte através dos vídeos. "A falta de acessibilidade já é um problema sério nos dias comuns, agora é ainda mais no período de isolamento, então, é bastante desafiador já que muitos também não têm acesso à tecnologia. Nesse momento então a gente precisa pensar numa forma positiva de estar ajudando essas pessoas e é o que temos feito".
Ele diz que a proposta dos vídeos é não deixar ninguém parado. "Os vídeos são para tirá-los da ociosidade. Então a gente busca adaptar o conteúdo para essas pessoas com deficiência. A gente passa toda fundamentação básica de atividade física, como alongamento, aquecimento, além de exercícios dinâmicos, que equilibram as potências, o fortalecimento. Mas também orientamos sobre a segurança. O cego total, por exemplo, precisa de muita cautela e, se possível, ajuda de um familiar”, explica.
Tudo o conteúdo é explicado de maneira menos técnica e mais didática, falando o movimento e descrevendo a maneira com que ele pode ser feito, e utilizando recursos da própria casa, caso a pessoa não tenha auxílio de materiais para exercício. “Como utilizar uma cadeira, o cabo de vassoura, um saquinho de feijão, uma latinha”, explica o professor.
Quem tiver interesse aos conteúdos, o projeto Movimenta CG em Casa está disponível no site da prefeitura (clique aqui).
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