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Pedalar transforma, mas é preciso disposição e pôr a mão no bolso

“Outfit” básico para que deseja pedalar com tudo quem tem direito custa aproximadamente R$ 2,5 mil

Danielle Valentim | 21/05/2019 07:09
Enfermeira Anye Mara Guimarães, de 50 anos, é a décima mulher do país a percorrer a maior quilometragem de bike em 2018. (Foto: Arquivo Pessoal)
Enfermeira Anye Mara Guimarães, de 50 anos, é a décima mulher do país a percorrer a maior quilometragem de bike em 2018. (Foto: Arquivo Pessoal)

Do fim do uso de medicamentos, a melhora do condicionamento físico, os benefícios do ciclismo são de impressionar. Quem já pedala admite o investimento pesado, mas garante que nada paga a boa saúde. Para facilitar a vida de quem está pensando em começar a pedalar, o Lado B trouxe dicas e alguns preços encontrados em Campo Grande.

A escolha da “magrela” é algo muito individual, já que o conforto para a prática da atividade é importante. O primeiro passo é se dirigir a uma loja e, literalmente, experimentar o tipo que mais se encaixa ao corpo.

Os dois modelos mais usados são a speed, que é mais leve para estradas, e a mountain bike, que é mais pesada e é usada para trilhas. O primeiro modelo, apesar de mais veloz, tem o selim mais alto que o guidão, o que faz o ciclista pedalar inclinado. Ambas possuem modelos para iniciantes.

É nessa hora que os interessados se perguntam qual comprar e quanto pagar. O Lado B pesquisou um "kit pedal" para iniciantes e que pode ser usado em passeios em grupos ou de forma individual.

Um ciclista de até 1,65 metro pode começar com um modelo montain bike de aro 27,5 e quadro 15. Ela pode ser encontrada em lojas especializadas de Campo Grande pelos valores de R$ 1.650 a R$ 1.800. Alguns locais disponibilizam garantia vitalícia no quadro.

Depois da bike, é claro, que o mais importante é o capacete. Nas opções P, M e G, o acessório da marca PTK, por exemplo, chega a custar R$ 60 nas lojas e a R$ 39, na internet. Da marca GTA, o produto chega a custar R$ 108, mas na internet é achado por R$ 79. As lanterninhas mais em conta, e na opção a pilha, saem a R$ 28.

A roupa é outra necessidade para o conforto. Com almofadas para proteger as nádegas, ciclistas utilizam macacões ou bermudas. A opção mais barata em macacões encontrada por aqui foi da marca ASW, por R$ 208 e a partir de R$ 160 na internet. A bermuda da marca Refactor sai a R$ 130 nas lojas e a partir de R$ 96 na internet.

Outro item para compor o kit é a sapatilha com pedal. Por aqui, a mais barata sai a R$ 290 e o pedal pelo mesmo preço, uma soma de R$ 580. Vale destacar que a numeração da sapatilha deve ser de dois a mais.

Esses valores foram os menores encontrados na cidade, mas os dígitos podem subir, consideravelmente. Bikes de marcas mais badaladas chegam a custar R$ 40 mil. É comum ver comparações dos valores com preços de carros, mas é valido lembrar que se tratam das melhores bicicletas do mundo.

Kellen em Aguão - Rochedo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Kellen em Aguão - Rochedo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Ciclista e atual presidente da FMSC (Federação de Mato Grosso do Sul de Ciclismo), Carlos Gimenes, revela que Campo Grande conta com mais de 5 mil ciclistas federados, destes, 400 são atletas do esporte.

A paixão pelo pedal surge de forma espontânea em alguns, mas nem tudo são flores. O ciclismo é como qualquer outro esporte e exige dedicação, mesmo quando é praticado por lazer. Muitos aprendem a gostar.

A ciclista Kellen Oliveira Leite, de 28 anos, por exemplo, começou com o marido, mas hoje ele a acompanha de fora. Ela conta o quão importante é a escolha da bicicleta e para não errar começou alugando. 

“Eu aluguei a bicicleta até decidir qual me adaptava melhor. Meu marido começou com bicicleta ruim e já desistiu. Mesmo para passeio tem de ter conforto. Eu pedalo há um ano e já me empolguei com as provas. Participar desses eventos , mostrar o quanto é difícil vencer a si próprio... Então quando você conclui a prova, se sente realizado independente do resultado obtido”, conta.

A primeira bicicleta de Kellen custou R$ 3 mil, o capacete R$ 280 e a bermuda com almofadinha R$ 80. Depois de um ano, o kit ganhou investimentos. O capacete é o mesmo, mas a bermuda deu lugar a um macacão de R$ 480. A bicicleta mudou e agora se trata de um modelo Scott Scale 920, de carbono, que é mais leve que o alumínio, avaliada em R$ 16 mil.

Mas nem tudo é investimento de cara. Dá para começar com bike emprestada. A ciclista e acadêmica de Ciência Contábeis, Larissa de Souza, de 27 anos, pedala há 3 anos e compete na categoria elite. O esporte foi apresentado pelo atual namorado e também substituiu remédios.

“Quando comecei eu pegava emprestada. Foi um ano até conseguir comprar minha primeira bicicleta. Quando me perguntam sobre valores eu sempre explico que dá para investir e em uma usada boa. Porque é difícil investir alto de primeira”, disse.

Larissa frisa que o esporte é como qualquer outro e precisa de esforço. “Eu costumo dizer que é como comer sushi, as vezes já gosta, mas em alguns casos precisa comer mais vezes. Eu demorei dois ou três meses para gostar de sushi, igual no pedal. Falta o ar, dá íngua, mas a junção da prática resulta em muitos benefícios. Lembro que eu tinha acabado de terminar um tratamento para depressão, mas ainda tomava remédio, quando conheci meu namorado e ele já pedalava, foi um jeito de parar de me medicar. O corpo começa a gostar daquilo e liberar hormônios necessários. Eu sou super a favor dessa bandeira, por experiência própria”, garantiu.

Para montar seu primeiro “outfit”, Larissa investiu o mínimo com capacete, a luva e sapatilha. A bicicleta da marca Bianchi com peças no alumínio comprada, na época, no Paraguai, custou R$ 3 mil. Quatro meses depois surgiu a oportunidade de um novo investimento em uma Specialized Epic, também no alumínio, que custou R$ 10 mil. Atualmente, a ciclista investiu em uma Trek Carbono de R$ 22 mil. O capacete de R$ 400 foi substituído por um de R$ 1,8 mil.

História da gaúcha que se apaixonou por Mato Grosso do Sul de tanto pedalar por estradas pantaneiras começou com um presente. (Foto: Arquivo Pessoal)
História da gaúcha que se apaixonou por Mato Grosso do Sul de tanto pedalar por estradas pantaneiras começou com um presente. (Foto: Arquivo Pessoal)

A décima do Brasil – A enfermeira Anye Mara Guimarães, de 50 anos, é a décima mulher do País a percorrer a maior quilometragem de bike em 2018. No mundo, foram listadas apenas 16 mulheres. A ciclista federada e premiada diversas vezes, somou 13 mil quilômetros no ano passado sobre duas rodas. Neste ano, já percorreu 7 mil quilômetros.

A história da gaúcha que se apaixonou por Mato Grosso do Sul de tanto pedalar por estradas pantaneiras começou com um presente. “Dia 12 de maio completei 2 anos de pedal. Eu tratava a pressão, diabetes e uma depressão e ganhei a bicicleta de presente de um paciente. Na época, também me preparava para uma cirurgia no joelho e comecei a pedalar para fortalece-lo. No fim das contas, não tomo mais remédios e nem precisei da cirurgia”, conta.

Anye conta que na época chegou a encontrar uma bicicleta para comprar no valor de R$ 1,5 mil, mas sem dinheiro para o investimento, o presente do paciente veio com a cura física e psicológica.
“Atualmente consegui parcelar uma de R$ 5,5 mil, mas os benefícios mentais e físicos não tem preço. O gasto com medicação que eu tinha não se compara com qualquer investimento que fizer agora. Só os lugares que eu já conheci pagam tudo”, finaliza.

A ciclista já foi de Campo Grande à Aquidauana e agora se prepara para uma competição de 24 horas de pedal em Costa Rica.

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