Política leva mais pacientes à terapia e principal motivo é o medo
Profissionais dizem que procura aos consultórios aumentou, principalmente, por homossexuais com medo
Exceto aqueles que dão tudo por uma briga, quem nada contra a maré da violência é o que mais sofre nesses tempos de eleição. E para sobreviver nesse emaranhado de energias ruins, o jeito tem sido procurar ajuda. Nunca discussões políticas e desavenças por ideologias tinham se debruçando tanto no divã do psicólogo, hoje, 70% dos pacientes estão levando à terapia suas dores por causa da política dizem alguns profissionais de Campo Grande.
Brigas familiares, desafeto com o marido, esposa, amigos e até a gritaria com os filhos. Tudo isso toma proporções maiores por causa das divergências nesse período eleitoral. Independente da escolha de voto, o desabafo dos pacientes é com a dificuldade de diálogo e o clima “insustentável” caso um dos lados resolva discordar.
Psicóloga e especialista materno-infantil, Keyth Gimenez de Barros revela que são muitas reclamações no consultório, a maioria de mulheres. “Elas têm chegado nervosas, irritadas, principalmente, porque a mídia social potencializou o comportamento agressivo entre as pessoas”, explica psicóloga.
A principal queixa é com a agressividade em relação ao outro que declarou voto para o opositor. “A gente percebe que as pessoas tem sido muito intolerantes, é uma fase sombria do ser humano”.
No entanto, o desabafo revela um quadro ainda mais preocupante, segundo a profissional. “No consultório a intolerância em relação ao outro tem mostrado quadros elevados de insônia e ansiedade. O que se não for controlado leva às brigas no ambiente pessoal, de trabalho e familiar, e também a uma depressão”, alerta.
Alguns pacientes já chegaram ao ponto de romper relações, especialmente, com a família. E para não dar continuidade às divergências e buscar uma cura para os sintomas de tensão eleitoral, a recomendação é o afastamento. “Por indicação no consultório, algumas pessoas se afastaram temporariamente até da família, principalmente, daquele que não abre mão de falar de política. Isso para evitar uma patologia maior”.
O consultório também está cheio de sofrimento e dor com pacientes LBGT, descreve a psicóloga Adriane Lobo. Recentemente, ela montou um grupo de acolhimento a homens e mulheres que estão sofrendo com o preconceito e o discurso de violência contra homossexuais. “Esses pacientes estão desenvolvendo um pânico e um pavor de sair às ruas. Elas têm sofrido na fila do banco, de lanchonete, boates, com pessoas que estão atacando com pedradas, xingamentos e ameaças”.
Outro desespero que há tempos têm voz dentro dos consultórios diz respeito à liberdade e a possível ameaça dos direitos aos homossexuais. “As pessoas estão com medo de morrer e com medo da perda dos direitos adquiridos com tanto suor como a adoção, o casamento no civil, o direito de andar na rua de mãos dadas, a liberdade de ir que levou muito tempo para ser conquistada”.
Recuar não quer dizer desistir esclarece Keyth. “É uma estratégia para manter a condição emocional, o equilíbrio. A partir do momento que não há um diálogo, tudo vira briga”.
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