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Faz Bem!

Remédio não faz diferença quando falta amor no cuidado de quem tem Alzheimer

A doença transformou a vida do dentista Marco Polo Siebra, mesmo sem ser vítima direta dela

Thailla Torres | 01/12/2017 07:45
O Alzheimer é uma doença que tem uma particularidade, em que a informação e o acolhimento, faz toda diferença. (Foto: Pixabay)
O Alzheimer é uma doença que tem uma particularidade, em que a informação e o acolhimento, faz toda diferença. (Foto: Pixabay)

Há 12 anos, o Alzheimer transformou a vida do dentista Marco Polo Siebra. Ele não é portador da doença, mas a trajetória de quem convive com a demência todos os dias foi o que impulsionou ele a trazer para Campo Grande uma unidade da Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer), com missão de transmitir afeto e informação as famílias, uma forma de amenizar o sofrimento de uma doença tão devastadora. O caminho percorrido é longo e, cada vez mais assustador, o que faz de Marco um porta voz em busca da conscientização. E sua esperança diante do problema ele descreve aqui no Voz da Experiência.

Alzheimer, foi o que mais chamou atenção do dentista que há 12 criou associação.
Alzheimer, foi o que mais chamou atenção do dentista que há 12 criou associação.

"Em 2002, eu me preparava para fazer uma defesa de título da especialidade Odonto-geriatria quando passei a estudar patologias que acometiam a terceira idade e, o Alzheimer, foi o que mais me chamou atenção.

Uma doença que não tem cura, causa e, o tratamento medicamentoso, só tem finalidade de retardar a evolução da doença. O que resulta em sofrimento por parte da família que não sabe lidar com o diagnóstico.

Durante minhas pesquisas, fui colocado em contato com Associação Brasileira de Alzheimer, onde tive informações de como lidar com o portador da doença.

Na época, na Odontologia, não havia nada documentado de como lidar com esse tipo de paciente. Isso não muda a forma técnica de fazer um procedimento odontológico, mas muda drasticamente o comportamento na hora de lidar com esse paciente.

Por isso a Abraz chegou com objetivo de fornecer apoio, acolher e dar suporte aos familiares para enfrentarem a situação. Basicamente trabalhamos com três tipos de grupos de apoio. O primeiro é informativo que consiste em levar o contexto doença, de preferência, com apoio de profissionais da saúde especializados em Geriatria, Neurologia, Psiquiatria, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

Os outros dois grupos são: emocional e social. Que contam com apoio de uma psicóloga que acolhe a família, procura trabalhar a dor do diagnóstico, a quebra de projetos de vida e a sobrecarga de uma pessoa que se torna cuidadora. Uma vez dentro da Abraz, ninguém está sozinho.

O Alzheimer é uma doença que tem uma particularidade, em que a informação e o acolhimento, faz toda diferença. Mas só a detém a joia e o segredo de estar lidando com isso, através do amor. Nós, enquanto associação, somos um meio de ajudar a lidar com a dor e o sofrimento.

Infelizmente as medicações que existem para demência de um modo geral, principalmente, para o Alzheimer, não tem tratamento curativo e muito menos impede a evolução da doença. Ela só tem a finalidade de retardar esse momento.

Não podemos esquecer que ela tem uma fase inicial, moderada e avançada, onde nesta última, infelizmente  o paciente está bastante debilitado, sem reconhecer alguém, na cama e sem se alimentar sozinho.

Mas quando tenho um paciente na fase inicial ou moderada e, não o deixo isolado, isso permite o estímulo cognitivo, que melhora quase tudo em uma pessoa. Afinal de contas, quem não gosta de ter uma auto-estima elevada e ser reconhecido? Por isso a solução é trabalhar de maneira que a família evite situações de conflito e negatividade, buscando um cotidiano mais leve e harmonioso.

Falta de estrutura - Nosso País não tem preparação para lidar com a doença. Basta ver Campo Grande em que não há lugar para atendimento específico. Na saúde pública, quando você procura um neurologista, são quase 2 anos para conseguir atendimento e ter uma avaliação de Alzheimer.

Infelizmente o idoso é totalmente desassistido, mas o que me deixa perplexo é que a taxa de natalidade está diminuindo de 3% a 10%, enquanto a do idoso cresce numa proporção de 10% a 16%. É a polução que mais cresce e menos se vê investimento.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) e ADI (Associação Internacional da Doença de Alzheimer), que congrega mais de 80 associações do mundo inteiro, estima-se que no mundo existam 50 milhões de pessoas com demência. Esse número vai subir para 130 milhões em 2050.

Isso prova uma epidemia silenciosa. Se continuarmos nesse caminho, veremos um futuro de pessoas com Alzheimer abandonadas na rua. Tudo porque as famílias e o poder público não tem estrutura para atender a essas pessoas e as casas de atendimento na rede particular custam uma fortuna.

Marco em uma das palestras sobre a doença em Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)
Marco em uma das palestras sobre a doença em Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)

Por isso é muito gratificante, nesses 12 anos, ajudar pessoas na luta contra esse sofrimento. Reconheço que a sociedade ainda não tem maturidade, mas fico feliz em desempenhar um papel efetivo na Abraz em busca de conscientização e cuidado com a própria saúde.

Tudo isso graças a especialidade de Odonto-geriatria que abriu minha mente de uma forma muito grande. Em  2002, eu tinha 32 anos e tive contato com a Gerontologia, ciência que estuda o processo de envelhecimento sem a doença. E numa visão gerontológica, as mudanças devem acontecer, pelo menos, aos 30 anos.

Por isso eu e minha esposa vivemos sempre pensando no amanhã. Não tenho nenhum diagnóstico de Alzheimer na família, mas a doença me ensinou a cuidar da saúde

Evitar colesterol, diabetes e sedentarismo, além de ter uma dinâmica cerebral de aprendizagem e fazer amizades, servem de como estímulo positivo para o nosso cérebro. Isso, sinceramente, não impede que eu venha ter Alzheimer. Mas se eu tiver, vou ter uma parte maior do meu cérebro para poder suprir aquela que está sendo comprometida.

Por isso é necessário exercer uma neuróbica, ou seja, um exercício do cérebro que vai proporcionar uma neuro-plasticidade cerebral, que é a expansão da nossa capacidade de conhecimento.

Qual a minha esperança? Acredito que vivemos em um processo de transição, nossa sociedade até o século passado não tinha essa visão de que iria viver muito tempo. Acredito que esse século que estamos vivendo, será voltado para o exercício cerebral, para melhorar nossa qualidade de estímulo positivo para o cérebro. Desde uma atividade física ao um trabalho cognitivo, até mesmo as emoções,. Ser menos rancoroso e egoísta, é um caminho para trazer amor ao próximo.

Mas a escolha é nossa. Muitas vezes é interessante saber como funciona idoso, para que a gente mude o próprio futuro e não passe pelo o que esses senhores da atualidade estão vivendo". 

Participe - Em Campo Grande, as reuniões da ABRAZ acontecem toda 2ª terça-feira do mês, às 19h, na Igreja Sagrado Coração de Jesus que fica na Avenida Mato Grosso, 3280, Santa Fé. Outras informações pelo site ou Facebook.

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