Vinícius nasceu na água, no primeiro parto em banheira feito na Santa Casa
No começo do ano, Vinícius nasceu dentro da água, no primeiro parto do tipo realizado na Santa Casa de Campo Grande. "Humanizado", a mãe sempre considerou a melhor maneira de receber o filho. Sem anestesia ou cortes, ele chegou sem nenhuma intervenção, a não ser o carinho e o apoio de quem estava assistindo.
A intenção agora é que outras mulheres consigam realizar o que é sonho para muitas. O preço, pelo menos, não é problema para quem tem dinheiro. Custa o mesmo que uma cesária, cerca de 4 mil reais e é coberto por plano de saúde, desde que o obstetra faça o procedimento.
No dia 10 de janeiro, a bióloga Letícia Couto Garcia, 32 anos, deu a luz a Vinícius, o primeiro filho, com o marido ao lado, acompanhando todo o trabalho. Ela conta que desde que descobriu que estava grávida, começou a fazer pesquisas sobre esse tipo de parto. Encontrou na internet o apoio de uma doula, profissional que acompanha a mãe até a hora H, e de uma médica disposta a ajudá-la. “Dizem que tem que ter coragem, mas coragem pra mim é enfiar uma faca na barriga sem necessidade”, justifica.
Por falta de estrutura, os partos assim eram feitos nas casas das próprias gestantes. Mas Tatiana Marinho de Oliveira Machado, que é doula há 10 anos, comprou uma banheira inflável, que mantém a temperatura da água, o que é necessário para o parto.
Letícia deu a luz ao filho em um apartamento do hospital. A banheira inflável foi comprada na Europa por R$ 600,00 e agora está disponível para as mães de Campo Grande. A banheira teve que vir do exterior porque, segundo Tatiana, no Brasil não existe o produto.
A obstetra Joana Soares de Arruda Monteagudo explica que as condições são básicas. A água precisa estar na temperatura de 35 ou 36 graus, a mesma do líquido amniótico, presente no útero da mãe durante a gestação.
Depois do nascimento, o bebê continua respirando por meio do cordão umbilical e não pelo nariz, logo, não corre o risco de se afogar, uma dúvida recorrente nas pessoas.
Letícia lembra que o trabalho de parto durou 20 horas, mas não se arrepende. Faltando 30 minutos para o filho vir ao mundo, já com a dilatação esperada, a mãe entrou na banheira, na companhia do esposo, que a massageou para aliviar as dores. “A massagem nas costas evitam 70% da dor. Foi menos dolorido do que eu pensava”, comenta.
A médica diz que a maioria dos nascimentos que assiste são normais. Ela segue a recomendação do incentivo a esse tipo de parto. A Organização Mundial de Saúde recomenda que seja usada em 5% dos casos, mas em Campo Grande, a realidade está bem distante deste percentual.
Para fazer uma cesária, um médico leva em média 30 minutos, enquanto assistir a um parto natural, o trabalho chega a durar mais de 20 horas, e financeiramente para o profissional não é vantajoso.