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Sabor

À base de mandioca, comida passa por gerações enrolada em folha de bananeira

Paula Maciulevicius | 28/12/2015 06:23
Foi com hihi que dona Albertina criou Dionedison e outros 9 filhos. (Foto: Gerson Walber)
Foi com hihi que dona Albertina criou Dionedison e outros 9 filhos. (Foto: Gerson Walber)

Da avó para a neta, da mãe para os filhos... Foi à base de mandioca que dona Albertina criou os 10 meninos. Com apenas um ingrediente, a receita passa adiante a tradição deles. "Hihi" significa bolo de mandioca, servido desde o café da manhã às grandes festas, o que muda são os acompanhamentos: de preferência carne seca ou outras mais temperadas.

A mandioca vem da aldeia Bananal, quem a "rala", também. Dona Albertina é índia terena e explica o prato típico ensinando a receita ao Lado B. Além de ter criado os filhos no hihi, enfatiza que a comida indígena é tão saudável que ela aos 69 anos nunca foi ao hospital.

Não se descasca toda mandioca, apenas "rala", tirando a terra. (Foto: Gerson Walber)
Não se descasca toda mandioca, apenas "rala", tirando a terra. (Foto: Gerson Walber)
Já no ralador, se coloca ela todinha na bacia. (Foto: Gerson Walber)
Já no ralador, se coloca ela todinha na bacia. (Foto: Gerson Walber)
Com as mãos, se aperta tirando todo o caldo da massa. (Foto: Gerson Walber)
Com as mãos, se aperta tirando todo o caldo da massa. (Foto: Gerson Walber)

De ingrediente só é preciso a mandioca e para finalizar, folha de bananeira. Num resumo, a mandioca é ralada depois de ter só a primeira casca retirada. A farinha que sai dela deve ser torcida até que não se note mais caldo. Depois é amassar e fazer os bolinhos para levar ao fogo.

"Não descasca normal, só rala. A casca dela vai junto mesmo, você só a tira a terra", explica Albertina. A receita foi aprendida com a avó quando ela ainda era menina. "A gente vai amassar e tirar esse caldinho. Tem que tirar todo o caldo senão não fica bem quando a gente embrulha", detalha.

A folha de banana que vai servir de embrulho também passa por um processo. Sem queimar, a gente deve passar a folha no fogo para que ela amoleça e não quebre na hora de dobrar.

Antes que fique pronta a massa, dona Albertina diz que é preciso primeiro esquentar a água na panela. O hihi é colocado em água fervendo por duas vezes. "Tem que secar primeiro a água, depois põe outra, seca e já está pronto", ensina a terena. Na panela, a água precisa apenas cobrir a comida, ou seja, é em pouca quantidade. "Coloca a água bem rente, depois só tampar e esperar secar", resume.

Bolinho é enrolado em folha de bananeira. (Foto: Gerson Walber)
Bolinho é enrolado em folha de bananeira. (Foto: Gerson Walber)
Folha deve ser passada no fogo antes, para não quebrar ao ser dobrada. (Foto: Gerson Walber)
Folha deve ser passada no fogo antes, para não quebrar ao ser dobrada. (Foto: Gerson Walber)
Depois de ir ao fogo, olha como fica. (Foto: Gerson Walber)
Depois de ir ao fogo, olha como fica. (Foto: Gerson Walber)

A comida não leva nada de sal e nem de tempero e dona Albertina diz que assim é que fica gostoso. "Quer ver? Meu filho vai comer", brinca e a mãe dá uma colherada na boca de Dionedison Terena. "Ela manda a gente comer assim", responde o filho. Dionedison completa dizendo que entre os mais velhos, o costume é comer com peixe ou alguma carne salgada.

"É a comida do índio, nosso bolo. Isso é a comida típica terena, não existe outra", resume. A tradição passada entre gerações garantia, até pouco tempo, uma saúde melhor. Dionedison lembra que antigamente não havia nem casos de diabetes e pressão alta, consequência da alimentação sem industrializados.

Eu também provei, para quem gosta de mandioca, hihi é um prato cheio. Cozido na panela, a consistência fica "puxando" e deve ir muito bem com uma carninha seca desfiada.

Para conhecer o hihi, basta encomendar: cada unidade sai a R$ 1,50. O telefone de contato é o: 9637-0838.

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Sem sal e nem tempero, dona Albertina diz que comendo hihi nunca precisou ir ao hospital. (Foto: Gerson Walber)
Sem sal e nem tempero, dona Albertina diz que comendo hihi nunca precisou ir ao hospital. (Foto: Gerson Walber)
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