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Sabor

Armário feito com madeira da 1ª casa é pura afetividade em padaria

Há 34 anos, padaria no Coophasul é local sagrado para quem busca melhor pão do bairro

Thailla Torres | 25/10/2022 08:11
Armário foi feito pelo dono da padaria para presentear esposa e ele usou madeira da 1ª casa da família. (Foto: Ângela Kempfer)
Armário foi feito pelo dono da padaria para presentear esposa e ele usou madeira da 1ª casa da família. (Foto: Ângela Kempfer)

A padaria Trevo, com 34 anos de história no Coophasul, tem o pão fresquinho como ingrediente suficiente para despertar o interesse da freguesia. Às 5h15 o local já está de portas abertas e tem cliente esperando o pão do dia. Mas quando há atenção no olhar fica nítido o valor que os donos dão ali para a história da família, que deixa o lugar mais interessante.

O Lado B resolveu percorrer algumas padarias da periferia de Campo Grande para conhecer histórias e o que torna o estabelecimento sagrado para os clientes do bairro, detalhes que vão além do pão recém saído do forno.

Resolvemos começar com a padaria onde os donos vendem salgados, bolinhos de chuva e torta que saíram direto do caderninho de receitas de uma das mulheres da família, dona Yolanda, já falecida. A proprietária Lenir Moraes, de 67 anos, lembra que foi a mãe que ensinou uma das receitas prediletas dos clientes na vitrine. “A torta de sardinha. Toda semana a gente faz”, conta.

Bolinho de chuva é uma das receitas que estão sempre à venda na padaria. (Foto: Thailla Torres)
Bolinho de chuva é uma das receitas que estão sempre à venda na padaria. (Foto: Thailla Torres)

Além da torta, o bolinho de chuva vendido em saquinhos, a cueca virada e os salgados bem rechonchudos também ficaram como lembrança de dona Yolanda. “E os salgados sempre foram muito bem recheados, esse é nosso diferencial também”, explica Lenir que fundou a padaria ao lado do marido, Valter Gomes, que fica diariamente comandando o caixa.

Os dois ficam na linha de frente do local, que tem, além das receitas, algumas relíquias. A principal delas é um armário de madeira no canto da padaria que até parece tirado de alguma loja de móveis rústicos da cidade. Mas o que poucos sabem é que foi feito pelas mãos de Valter.

O armário tem ainda mais valor porque foi feito com a madeira da 1ª casa da família na fazenda, na região de Terenos. Parte da residência foi demolida e Valter aproveitou a madeira, peroba rosa, para produzir móveis rústicos que Lenir adora. “Essa madeira você não encontra mais. Tem mais de 100 anos”, explica a esposa.

Lenir ao lado da coleção de porcelanas intocável na padaria. (Foto: Thailla Torres)
Lenir ao lado da coleção de porcelanas intocável na padaria. (Foto: Thailla Torres)
Valter é esposo de Lenir e está todos os dias no caixa, sempre simpático com os fregueses. (Foto: Thailla Torres)
Valter é esposo de Lenir e está todos os dias no caixa, sempre simpático com os fregueses. (Foto: Thailla Torres)

O móvel guarda as principais relíquias da padaria, uma coleção de xícaras e jogos de chá que são o maior xodó de Lenir. Há anos ela coleciona peças em porcelana e cuida de cada item como tesouro. Ela não liga que tire fotografia ou pergunte sobre as peças, mas deixa claro: “Não está à venda”. Muita coisa foi ela quem comprou, mas algumas peças foram presentes dos próprios amigos e clientes.

Para provar que a padaria é um ponto de relíquias, Lenir faz questão de falar do quadro de funcionários. “Aqui todo mundo é antigo, meu padeiro está comigo desde o início”, diz se referindo a Adalto, que entrou na Trevo quando tinha 14 anos e nunca mais saiu. “Ele não vai largar de mim, o dia que ele largar eu fecho. Eu falo pra ele que ele casou comigo”, diz dando risada.

A padaria com 34 anos de história começou na Euler de Azevedo, em poucos anos a família mudou-se para a Rua Afonso Acunzo bem de esquina com a Atílio Banduci, conhecida no Coophasul. Desde então permaneceram no local, que já foi reformado e ganhou decoração feita por Lenir. “Até pensamos em abrir outra, mas eu prefiro ter uma e servir meus clientes bem do que cair na qualidade”, afirma a dona.

Feliz com o movimento, ela não pensa em parar tão cedo, porque mais do que lucro, ela e Valter colecionam histórias e têm a freguesia como família. “Tem gente que vem desde pequenininho”.

A padaria abre todos os dias e fica na Rua Afonso Acunzo, 118, no Coophasul.

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Parte da coleção foi presente dos amigos e clientes. (Foto: Thailla Torres)
Parte da coleção foi presente dos amigos e clientes. (Foto: Thailla Torres)

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