Bar tem “Recanto dos Mulambos” para beber, comer e mentir em paz
Bar do Zé é uma tradição no Coophavila 2, que atrai moradores de todo canto em busca da cerveja e do pastelão
Entrar no Bar do Zé, no Coophavila, é lembrar de alguns comércios antigos que já sumiram do mapa. O balcão estreito bege, as anotações penduradas no vidro, o painel de preços com jogo de letras da década de 80… Tudo com décadas de história.
Os proprietários são José Afonso Wolf, 68 anos, e Leoni Maria Werlong Wolf, 69, que mantêm o comércio há 31 anos dentro de um dos pavilhões do “Mercadão da Coophavila”.
Nos anos 90, o espaço da lanchonete era menor, mas já lotava com moradores enlouquecidos pelos salgados que lotaram a vitrine desde cedo. O tamanho do lugar era menos importante do que o pastelão frito (que não é nem pastel tradicional e nem risole, mas tem massa sequinha e bem recheada), do que a coxinha e do quibe com ovo. Mas o sucesso foi tão rápido na época da abertura, que, em poucos anos, o casal comprou a loja ao lado e ampliou o bar para receber mais clientes.
Passados mais de 30 anos da inauguração e suas ampliações, o bar segue com cara de antigo, mas nada decadente. O capricho dos donos é visto nos detalhes bem preservados, que para José são “a cara deles” e “não tem preço”.
“Já tentaram comprar até minhas garrafas. Esse painel aí você não encontra mais”, diz apontando para as letrinhas e números do painel já encardidas pelo tempo. Em seguida, seu José conduz a reportagem até os fundos do bar e mostra a coleção de garrafas antigas, que têm até Guaraná Tai.
Acima das garrafas fica uma placa que identifica os fundos do bar: “Recanto dos Mulambos”. O nome faz referência ao espaço que tem mesas para quem gosta de ficar tomando uma cerveja em paz. “Aqui eles tomam cerveja, pinga e mentem bastante”, diz caindo na gargalhada.
A filha, Sandra Cristina Wolf, que é psicóloga, mas hoje ajuda os pais no atendimento diz que até tentou modernizar o espaço nos últimos anos, mas o pai não deixou. “Ele diz que esses detalhes antigos são a cara dele”, diz.
José até permitiu que a filha fizesse um caixa maior, em MDF, mas não abriu mão do caixa estreito que fica entre as vitrines.
Além dos salgados, tem um delicioso curau de milho feito por Leoni, cremoso e com sabor daqueles dias de “pamonhada” feita pela avó. Ela ainda prepara um bolo de chocolate caseiro e não abre mão de cuidar do preparo de cada receita ao lado de José.
Apesar da lanchonete abrir às 7h30, os dois se levantam de terça a domingo às 4h30 para preparar as receitas. A funcionária que auxilia na cozinha só monta os salgados, a massa, o recheio e o tempero são de Leoni e José. “É o nosso segredo”, brinca o dono.
Alguns amigos até sugeriram que o casal abrisse na segunda-feira e descansasse aos domingos, mas nenhum cogitou essa possibilidade. “Domingo isso aqui enche de mesa e de amigos. A gente nem vê o bar como um trabalho, é a nossa casa. Enquanto eu viver, não consigo me imaginar de portas fechadas aos domingos”, diz Leoni.
Além do sabor e da simpatia do casal, quem topa uns minutos de conversa com José leva pra casa uma pitada de amor. Sem nenhuma timidez ele fala o quanto ama a esposa. “O bar é meu segundo amor porque o primeiro é a Leoni”, diz com os olhos cheios de lágrimas. Ao questionar sobre a emoção, ele completa. “Eu amo ela, ela é tudo pra mim”.
Nos últimos dois anos, a família viu José esperar por muitos amigos que precisaram se isolar por conta da covid-19, inclusive ele, que teve a doença e chegou a ficar internado. Hoje, voltando ao ritmo de trabalho, sua maior alegria é ver os amigos de volta. “Teve gente que ficou dois anos sem vir aqui, é uma felicidade tê-los de volta”.
Para ela, que é natural de Santo Cristo (RS), e ele, de Santa Rosa (RS), o dia no bar começa às 7h30 e só termina às 20h, sem pausa para o almoço. Além dos detalhes que parecem ter congelado no tempo, o mais interessante é saborear um pouquinho da história e o amor de um casal que ama o que faz.
O bar fica na Avenida Marinha, 724, dentro do Centro Comercial do Coophavila.
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