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Sabor

Em filme, doce com feijão é o recomeço; já na vida real, faz a alegria de Suely

Paula Maciulevicius | 01/06/2016 06:15
Dorayaki é um bolinho japonês, assado na chapa, que conheci por um filme. (Fotos: Paula Maciulevicius)
Dorayaki é um bolinho japonês, assado na chapa, que conheci por um filme. (Fotos: Paula Maciulevicius)
"O Sabor da Vida" é um longa japonês de 2015, onde uma receita desperta sentimentos.
"O Sabor da Vida" é um longa japonês de 2015, onde uma receita desperta sentimentos.

Somente a paciência oriental para esperar o ponto da massa e do feijão, assim como só a persistência de quem viu um filme e quis sentir o sabor para chegar até Suely. A delicadeza com que é feito o dorayaki contrasta com a risada fina de quem está ali, se divertindo ao cozinhar. 

Dorayaki é um bolinho japonês, assado na chapa. "O Sabor da Vida" é um longa de 2015, também japonês, da diretora Naomi Kawase, que delicadamente conta a história de Sentaro, o gerente de uma lanchonete e Tokue, uma senhorinha de 75 anos, que vê o anúncio de emprego e se candidata. Diante da primeira recusa, ela volta ao local com o bolinho embalado. A receita encanta e desperta sentimentos no chefe.

Na tela, a história em volta da receita é linda e foi a redenção dos personagens. Na vida real, são lembranças da infância de Suely que voltaram ao paladar dela quando chegou do Japão a primeira vez e precisava conciliar um trabalho e a rotina de mãe. 

Feito na chapa, massa é como a de bolo.
Feito na chapa, massa é como a de bolo.
Recheio tradicional é de doce de feijão.
Recheio tradicional é de doce de feijão.

"Eu aprendi com a minha tia, ela fazia muito quando eu era criança, no Ano Novo e eu adorava", conta a feirante Suely Kiomi Gonda Shinzato, de 43 anos. No retorno ao Brasil, anos atrás, ela pediu para essa mesma tia lhe ensinar a receita e depois de feitos, era a sogra que os vendia na feirona.

A massa dele é, como Suely compara, igual a de um bolo normal. Leva ovos, leite, açúcar, fermento e farinha. "Eu também coloco mel, tem muitas receitas japoneses que levam mel ou shoyu, no doce mesmo", detalha. O recheio tradicional é o de doce de feijão, feito a partir do grão azuki, muito rico em nutrientes.

"Ele é muito bom para quem tem pressão alta, é mais rico em nutrientes do que o normal. Eu pesquiso para falar com os clientes", se justifica. Suely tem a fala mansa típica dos japoneses e ao mesmo tempo em que demonstra agilidade com as mãos, faz tudo com tanta suavidade que é impossível imaginar que da cozinha dela não saiam bons pratos.

No filme, Tokue explica que o segredo que faz a lanchonete amanhecer lotada no segundo dia de trabalho, está no "conversar" com os feijões, ouvi-los e senti-los. Em outras palavras, está no tempo no fogo baixo e entre as mexidas de colher.

Depois de esfriado o recheio, é hora de embalar o dorayaki.
Depois de esfriado o recheio, é hora de embalar o dorayaki.

"O feijão fica de molho de um dia para o outro e depois de cozido, eu tiro todo o líquido, bato no liquidificador, cozinha 1h até endurecer. E não adianta tentar apressar e fazer com pressa", avisa a feirante. De tempero? Açúcar cristal e uma pitadinha de sal.

Na barraca da feira "Sushi Doces Orientais", da família de Suely, o dorayaki ganhou outras opções de recheio: creme, morango e chocolate. E no início, era dado como amostra grátis, uma forma de deixar o público mais confiante.

"Mas doce japonês, de feijão? Ah, doce japonês de creme? Mas será que é bom? Todo mundo ficava meio desconfiado, mas depois acaba se rendendo", brinca. E foi assim que o dorayaki foi caindo no gosto do campo-grandense, há cinco anos o produto é vendido às quartas e sábados na Feira Central e também tem sob encomenda, pelo 9622-1996. 

Cada bandejinha, com seis unidades, é vendida a R$ 10,00. No Japão, Suely explica que a receita é feita redondinha, mas que ela faz de acordo com a chapa que tem em casa. "Toda receita tem que ser ser feita com amor, não é? Você tem que entender a massa, entender o doce", resume. 

O tradicional, de feijão, é servido lá acompanhado de chá verde. E a feirante orienta o mesmo por aqui. Já o de creme... "Geladinho ele fica uma delícia! Tem quem leve para comer no outro dia com leite, de café da manhã. Assim eu nunca provei, mas também deve ser bom".

"Toda receita tem que ser ser feita com amor, não é? Você tem que entender a massa, entender o doce", resume a feirante Suely.
"Toda receita tem que ser ser feita com amor, não é? Você tem que entender a massa, entender o doce", resume a feirante Suely.
O tradicional, de feijão, é servido lá acompanhado de chá verde. (Foto: Marcos Ermínio)
O tradicional, de feijão, é servido lá acompanhado de chá verde. (Foto: Marcos Ermínio)
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