Gena inventa receitas e compartilha "experiências" dos sabores de graça
Famosa pelo bolinho de bacalhau na feira de Corumbá, depois da pandemia ela aumenta "menu" sem anotar receitas
“Alho, sal e pimenta”. O tempero clássico ainda está fresco na cabeça, já o restante dos ingredientes e a quantidade são a parte misteriosa de Gena Barreto, que resolveu não anotar nada.
Aos 60 anos, ela vai colocando na receita o que vem à cabeça e depois compartilha bolinhos de carne pela rua, de graça, em Corumbá.
A artesã da cozinha chega, inclusive, em desconhecidos e pergunta se a pessoa está disposta a uma “experiência".
Quem aceita, não se arrepende. “É muito gostoso, muito bem temperadinho”, diz a jovem que nunca viu Gena, mas ao cruzar com a senhora acreditou na boa intenção da portuguesa de compartilhar o que de melhor sabe fazer: inventar.
“Eu gosto de inventar receitas. Uma coisa é a comida tradicional outra é inventar, criar...”, justifica.
Há 22 anos em Corumbá, Gena já teve a história contada aqui no Lado B, também pela arte de fazer bolinhos, mas o tradicional português, de bacalhau.
A pandemia veio e, ao lado do esposo, ela resolveu ir além, sugerir uma surpresa de sabores, sem revelar os ingredientes até que paladar descubra o que é.
Desta vez, Gena só sabe que amassou dois cortes de carne vermelha: peixinho e patinho. Depois recheou com queijo e fritou. “Fiz uma coisa rápida para servir aos amigos. Nem provei. Sempre fiz isso, toda a minha vida. Faço porque gosto. Jamais cobraria, isso é indecente”, resume.
Artesã, Gena veio do interior de Portugal para Mato Grosso do Sul para uma exposição de artes plásticas, se apaixonou pelo artista plástico Ruben Dário, e ficou. “Foi um acidente de percurso”, brinca.
O marido é um fã. “Tudo que ela faz é delicioso”, afirma Rúben. Os dois moram na Rua General Rondon, Centro, onde é montada a feira de domingo em Corumbá. Isso fez o casal criar a tradição, primeiro, de vender bolinhos de bacalhau.
Passado o tempo, o “menu” cresceu. E agora o cardápio de Gena é feito de “experiências” em forma de bolinhos, oferecidos de graça. Apesar do carinho da comida compartilhada com amigos e desconhecidos, ela se coloca como “desiludida com o ser humano”.
Os filhos não foram prioridade, “graças a Deus”, comenta. Mas os gatos tomaram conta da mãezona de rua que tem ponto de alimentação em frente de casa. “Eu não tenho gatos, eles existem, estão nas ruas e nós os cuidamos. É o mínimo que posso fazer. As pessoas querem domesticar os animais, eu os respeito nas ruas”, explica.
Atualmente, são 100 quilos de ração distribuídas aos animais do bairro por mês, para o desespero dos vizinhos que não suportam ver a “gataiada” perambulando. O que é uma grande besteira, avalia Gena.
“Aqui na minha rua não tem sujeira, justamente porque alimento os animais e eles não precisam ficar remexendo lixo. Eu comecei a fazer isso por causa da pandemia. Os animais, com fome, mexiam no lixo e deixavam tudo um nojo. Então resolvi ajudar. Nós os sacrificamos como ‘domésticos', prendemos. Isso é errado”
Gena repete que somos os maiores predadores da terra, a começar pelo lixo que despejamos na porta de casa sem o menor cuidado com o que poderia ser reaproveitado. “Vamos respeitar pelo menos a higiene pública e os animais. Essa quadra não tem sujeira porque eu trato dos animais, apesar dos vizinhos não gostarem”, reclama.
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