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Sabor

Pelas feiras, argentino não esconde história de amor e receita da mãe

Após abrir restaurantes em Belo Horizonte, ele trouxe para feiras de Campo Grande o chimichurri e as empanadas

Jéssica Fernandes | 11/05/2023 07:40
Nicolá participa das feiras em Campo Grande levando chimichurri e empanadas. (Foto: Henrique Kawaminami)
Nicolá participa das feiras em Campo Grande levando chimichurri e empanadas. (Foto: Henrique Kawaminami)

Há 10 anos Nicolás Pecchio deixou a profissão de arquiteto para se dedicar à gastronomia. Após fazer sucesso em Belo Horizonte, apresentar as empanadas aos mineiros e agitar as noites da cidade servindo pratos típicos da Argentina, o chef veio para Campo Grande recomeçar.

Apesar de ter deixado a Argentina e adotado o Brasil como casa em 2000, Nico nunca abandonou as tradições da terra natal. Do primeiro lar, além do sotaque, ele trouxe as receitas que cresceu aprendendo na cozinha da família.

Uma das mais tradicionais é o chimichurri ensinado pela mãe. O molho, que é feito com a mistura de ervas desidratadas, frescas, alho e outros ingredientes, é vendido em garrafinhas de vidro nas feiras Bosque da Paz, Mixturô e Bolívia.

Molho argentino é receita tradicional que Nico aprendeu com a mãe.   (Foto: Henrique Kawaminami)
Molho argentino é receita tradicional que Nico aprendeu com a mãe.   (Foto: Henrique Kawaminami)

Em outubro de 2022, o chef argentino e a esposa Karla Regina começaram a participar das feiras e mostrar aos campo-grandenses o molho que é ótimo para dar sabor a carne e até ser misturado no pão. Além do chimichurri, Nico passou a fazer empanadas e sangrias para conquistar o público que frequenta esses eventos culturais.

Nas feiras, Nico marca presença com os produtos artesanais que são dispostos na barraca decorada pela bandeira da Argentina. É desse jeito carregado de personalidade que, aos poucos, ele movimenta o negócio que tem uma década de história, mas precisou ser reformulado após alguns ‘baques’ da vida.

A trajetória com a gastronomia teve início em 2013 num período em que Nico não estava mais em sintonia com a carreira na arquitetura. Estressado com o trabalho, a viagem para Europa mostrou que era possível transformar o hobby de cozinhar em profissão.

Em garrafas, ele comercializa o chimichurri feito com ervas frescas.  (Foto: Henrique Kawaminami)
Em garrafas, ele comercializa o chimichurri feito com ervas frescas.  (Foto: Henrique Kawaminami)

O chef recorda a infância cozinhando e fala como a viagem o colocou em outro caminho profissional.  “Na Europa percebi que estava muito mais atraído pela gastronomia. Sempre cozinhei desde criança, tinha um tio que tinha negócio e eu sempre ajudava ele no verão, aprendia receita com a vizinha, minha mãe gostava que eu ajudasse a cozinhar. Quando fui pra Barcelona cogitei a ideia de largar a arquitetura e abrir um bar”, afirma.

Ao retornar para Belo Horizonte, Nico foi direcionado por uma amiga até o Mercado Novo. Na época, o prédio movimentava a cena alternativa da cidade durante à noite. A estrutura não era das mais encantadoras, mas tinha música, decoração, público e carecia de um restaurante.

A primeira impressão não agradou o arquiteto, mas a perspectiva mudou ao ver que o prédio ganhava vida à noite. “A arquiteta que trabalhava com eles era colega minha de faculdade. Ela sabia que eu queria abrir um bar e falou: ‘Nico, aqui tem locais para abrir’. Foi aí que ganhei um espaço. A princípio me assustei porque era muito feio só que a noite quando colocava música, as luzes e entrava a alegria, o povo era o melhor lugar do planeta”, explica.

Em Belo Horizonte, chef abriu restaurante com gastronomia argentina. (Foto: Arquivo pessoal)
Em Belo Horizonte, chef abriu restaurante com gastronomia argentina. (Foto: Arquivo pessoal)

Assim surgiu o ‘Che Nico!’ que servia empanadas, choripan e sangria para a turma que marcava presença no local. Os pratos ganharam destaque e ficaram conhecidos na cidade, além de atrair os argentinos que também residiam em Belo Horizonte.

Em 2014, o empreendimento ganhou força durante a Copa do Mundo, pois o chef começou a transmitir os jogos e servir locro, que é um prato argentino que leva feijão branco, milho branco, carne de porco, bovina e abóbora.

Após 3 anos no mesmo ponto, Nico precisou fazer a primeira das mudanças que viriam pela frente. Como o prédio foi fechado, ele passou a realizar eventos particulares e iniciou a produção de chimichurris, que conquistaram os primeiros clientes graças à propaganda de uma amiga que apresentou o molho aos colegas de trabalho.

Ainda em BH, Nico preparava empanadas para servir no restaurante. (Foto: Arquivo pessoal)
Ainda em BH, Nico preparava empanadas para servir no restaurante. (Foto: Arquivo pessoal)

1º Festa Argentina - Em 2018, as festas de rua ganhavam força em Belo Horizonte. Como Nico era sinônimo de Argentina na cidade, amigos e conhecidos o incentivaram a fazer uma festa que representasse a cultura do país.

A estreia do evento contou com a participação de cinco mil pessoas que viveram um domingo cultural na rua. “Como a festa foi organizada no bairro central, no mais conhecido de Belo Horizonte, muita gente foi a pé. Tínhamos convidados outros restaurantes argentinos, escola de tango, músicos. Em 2019 se repetiu, fizemos outra e viram 10 mil pessoas”, fala.

As festas serviram para atrair novo público e resultou na inauguração de outro restaurante em 2019. Ao lado de um sócio, ele relata que  inaugurou o negócio que trouxe a gastronomia Argentina para um dos bairros nobres da cidade.

Em 2018, bairro de Belo Horizonte recebeu 1ª festa Argentina. (Foto: Arquivo pessoal)
Em 2018, bairro de Belo Horizonte recebeu 1ª festa Argentina. (Foto: Arquivo pessoal)

“Eu queria que o local fosse uma viagem à Argentina. Você chegava ao Che Nico e parte da decoração tipicamente Argentina, o cardápio, os vinhos só argentinos, o garçom e cozinheiro argentinos. O lugar virou uma experiência, o que estávamos vendendo era isso e BH começou a gostar”, comenta.

Após 1 ano de atividade do restaurante, a pandemia foi um dos primeiros baques que o chef sofreu. Com as portas fechadas devido aos decretos de quarenta, Nico investiu no delivery que deu retorno e fez o restaurante se manter até 2021. No mesmo ano, o empresário precisou mudar de endereço depois do locatário vender o imóvel.

A fase foi uma das mais delicadas na vida do arquiteto que perdeu clientes e precisou procurar um prédio que tivesse estrutura adequada para receber os maquinários e funcionários do restaurante. Ainda em 2021, o chef enfrentou as primeiras rusgas com o sócio e, por razões pessoais, Nico prefere que os detalhes da antiga sociedade não sejam expostos.

Nico com o chimuchurri numa das edições da Feira da Bolívia. (Foto: Arquivo pessoal)
Nico com o chimuchurri numa das edições da Feira da Bolívia. (Foto: Arquivo pessoal)

Contudo, ele compartilha que a mudança para a Capital ocorreu após o mesmo ex-sócio fechar o restaurante sem seu consentimento e levar com ele maquinário e funcionários. “Vim aqui com ela (Karla) passar Natal, Reveillon e quando voltei para Belo Horizonte abri a loja e ela estava vazia”, desabafa.

Fortaleza - Nico e Karla se conheceram em 1997 durante um encontro de estudantes de Arquitetura em Assunção, no Paraguai. A amizade virou namoro, depois ambos se distanciaram e voltaram a se encontrar na internet. A relação recomeçou em 2018, sendo que Karla acompanhou de perto toda a saga do companheiro com a abertura e fechamento forçado do restaurante.

Graças a companheira, Nico relata que conseguiu se reerguer. “A fortaleza da minha vida é ela que não me deixou cair, se por mim capaz que estaria estirado”, afirma.

Em abril de 2022, o casal veio para a cidade, mas levou um tempo para o chef se recuperar e voltar a cozinhar. Devido a facilidade, ele optou pelos chimichurris que foram apresentados a comerciantes locais. Em agosto, durante o aniversário da cidade, Nico encontrou a luz no fim do túnel que precisava.

O evento fez o argentino conhecer pessoas que gostaram tanto do chimichurris que continuam comprando até hoje. “Foi uma salvação porque foram três dias de evento especificamente de churrasco, era perfeito. Eu tenho clientes até hoje. Nesse evento fizemos a nossa apresentação a sociedade”, ressalta.

Ainda sobre o festival, Karla relata que foi ali que eles também conseguiram renda para focar na venda dos molhos. "Com esse dinheiro conseguimos comprar garrafas e os insumos para começar a produção", esclarece.

Através de amigos, eles tiveram contato com a primeira feira e começaram a conhecer as outras. No futuro, o casal planeja abrir um bar e servir mais pratos tradicionais, porém por enquanto o negócio funciona no delivery.

Quem quiser conhecer, o perfil no Instagram é @_che.nico_ 

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