Pesquisador de MS pede que carrapatos sejam estudados tanto quanto mosquitos
Eles também oferecem perigo às pessoas e animais, mas falta financiamento para pesquisas e produção de vacinas
Calor intenso, mais chuvas frequentes, e está criado o cenário perfeito para carrapatos se agarrarem em seus hospedeiros, que podem ser não só animais, mas também pessoas.
RESUMO
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Em Mato Grosso do Sul, a preocupação com doenças transmitidas por carrapatos tem aumentado, especialmente em cães, devido à possível diversificação de vírus e bactérias. Especialistas destacam a importância de monitorar essas doenças, que são endêmicas, e sugerem investimentos em pesquisas e vacinas para controle. A falta de dados epidemiológicos dificulta a comprovação da diversificação de agentes patogênicos, mas avanços tecnológicos têm facilitado diagnósticos mais precisos. Recomendações para prevenir infecções incluem a eliminação de carrapatos do ambiente dos animais e cuidados com a higiene após passeios, além de medidas de proteção para pessoas expostas, especialmente em áreas rurais.
Pesquisador de Mato Grosso do Sul, Renato Andreotti vê várias razões para que doenças transmitidas por esses pequenos sugadores de sangue sejam monitoradas por órgãos de saúde e melhor investigadas.
Além do mosquito transmissor da dengue e de outras arboviroses, os carrapatos precisam ser mais conhecidos. Hoje, o que se sabe sobre eles é muito pouco. Existe uma grande possibilidade de transmitirem outras doenças que a gente desconhece por falta de estudos", ele diz.
Andreotti lembra de uma viagem ao Pantanal sul-mato-grossense feita a trabalho pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa de Pesquisa Agropecuária) na década de 80, que o marcou pelas suspeitas de sintomas de febre maculosa em moradores locais que morreram sem causa definida. Naquela época, não havia diagnóstico para a doença.
Mortes confirmadas por febre maculosa no interior de São Paulo e Minas Gerais chamaram atenção para o perigo em 2023 e 2024. Em Mato Grosso do Sul não houve nenhuma confirmação segundo a Secretaria Estadual de Saúde.
Animais - Veterinária de cães e gatos que deu entrevista ao Miau News na semana passada, Bárbara Bastos comentou estar preocupada com uma possível diversificação dos vírus, bactérias e protozoários presentes em cachorros diagnosticados com doenças do carrapato em Campo Grande, considerando o que observou em seus pacientes. Mas, por não haver órgão de saúde animal que monitore esses casos, não é possível afirmar que é um problema geral.
A suspeita é que os agentes estejam fugindo do comum. Outros, fora os mais frequentes, como as bactérias causadoras da babesiose e a erliquiose, estariam sendo encontrados "já na lâmina" de análise dos laboratórios.
Gerente de qualidade e responsável técnica do laboratório veterinário privado LabDOC, que analisa amostras de sangue colhidas na Capital e no interior do Estado, Leizinara Gonçalves Lopes acredita que equipamentos e métodos mais avançados podem estar facilitar e precisar a identificação dos microrganismos.
"A cada dia surgem ferramentas que nos possibilitam dar o diagnóstico mais precocemente. Às vezes, o hemograma, que é um exame de entrada para verificar condição geral, pode nos dar indícios da necessidade de exames complementares ou até mesmo já fechar o diagnóstico na pesquisa de hematozoários realizada na análise da lâmina", fala.
Renato não duvida sobre a diversificação, só lembra que não pode ser comprovada, ainda. "Não temos como provar isso com informações científicas disponíveis hoje e sem dados epidemiológicos publicados mostrando isso", frisa.
Financiamento e vacinas - As pesquisas sobre carrapatos que Andreotti mais fez pela Emprapa são em cima de espécies que parasitam o boi, pelo valor comercial que esse tipo de estudo tem na produção pecuária.
Ele recomenda que o País invista mais nos estudos de imunização contra os carrapatos e seus efeitos na população humana e animal. "As doenças causadas por carrapatos são endêmicas. A gente precisaria ter financiamento para produção de vacinas e outras estratégias de controle", diz.
Agora, o pesquisador está envolvido em outro estudo sobre doenças que podem ser transmitidas ao ser humano por seis espécies de carrapato encontradas em toda a extensão do Rio Paraguai, começando no Mato Grosso até a Argentina. São investigadas a febre maculosa e outras seis doenças.
"A gente vai avisar as autoridades do SUS quando obtivermos um resultado, para que tomem providências cabíveis. Se precisarem da nossa ajuda, daremos consultoria dentro do que sabemos", finaliza.
Como cuidar - Para proteger cães, Renato orienta eliminar carrapatos do local onde o animal vive e observar sua pelagem após passeios, além de adotar métodos de prevenção indicados por um veterinário. Se a doença for diagnosticada, é importante seguir o tratamento corretamente, sem falhas.
Já para pessoas, principalmente trabalhadores rurais e quem faz turismo rural, a indicação é usar roupas claras que cobrem todo o corpo, usando até fita para vedá-las, e observar o corpo por quatro horas após a exposição ao ambiente.
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