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Cidades

Especialistas em carrapatos monitoram evolução da febre maculosa na Capital

O assunto entrou em evidência após a doença causar 4 mortes a partir de um foco em uma fazenda em Campinas

Idaicy Solano | 21/06/2023 15:21
Pessoas praticando atividades físicas perto de capivara no Parque das Nações Indígenas. (Foto: Juliano Almeida)
Pessoas praticando atividades físicas perto de capivara no Parque das Nações Indígenas. (Foto: Juliano Almeida)

Pesquisadores da Embrapa já encontraram em capivaras e quatis na região do Lago do Amor, nas proximidades da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), o carrapato-estrela, que causa a febre maculosa, doença grave com alto índice de letalidade. Apesar de baixa incidência em Campo Grande, especialistas apontam que é necessário ter atenção à possibilidade de surto.

O assunto entrou em evidência após a doença causar quatro mortes a partir de um foco em uma fazenda em Campinas, no Estado de São Paulo. Na última segunda-feira (19), a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que investiga um caso suspeito de febre maculosa na Capital. A vítima é um bebê, de 1 ano de idade.

De acordo com pesquisas realizadas no núcleo de Sanidade Animal da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em Campo Grande, a doença circula, a pelo menos, dez anos em Mato Grosso do Sul. Na última década, foram registrados apenas seis casos da doença na Capital. Nesse período, foram investigados 55 casos suspeitos. O último caso confirmado foi registrado em 2018.

Apesar da preocupação despertada diante do fato de que em Campo Grande há muitos animais silvestres próximos ao acesso das pessoas, como o Parque das Nações, o Campus da UFMS e o Lago do Amor, a reportagem não teve retorno de sobre ações de combate neste momento em perímetro urbano.

O doutor em Biologia Molecular e pesquisador da Embrapa, Renato Andreotti, coordena uma linha de pesquisa relacionada ao controle de carrapatos, no núcleo de Sanidade Animal da Embrapa. A partir do trabalho desenvolvido no setor, são disponibilizados materiais didáticos com orientações para prevenção e diagnóstico precoce da doença.

De acordo com Andreotti, as chances de contágio são baixas, mas dada a gravidade da doença e a rapidez da evolução para óbito, é necessário monitorar e controlar a proliferação, que acontece principalmente em áreas com vegetação abundante.

O especialista explica que o contágio acontece a partir do contato do ser humano com o carrapato infectado. Apesar de as capivaras serem o principal receptor em Mato Grosso do Sul, o agente transmissor pode ser encontrado em vários animais silvestres, e, inclusive, em animais domésticos que vivem soltos próximos aos terrenos baldios.

As principais áreas de risco são as matas e os campos. Trabalhadores rurais, turismo rural, moradores de áreas com vegetação abundante são a população mais exposta ao risco de contrair a doença. Crianças e idosos são mais suscetíveis às complicações do contágio.

O núcleo de Sanidade Animal, junto à Semed (Secretaria de Educação do Estado), tem realizado palestras em escolas municipais, alertando para os cuidados com a exposição às áreas de risco e animais possivelmente contaminados.

Em maio, o núcleo realizou um curso de especialização com 50 professores de Biologia da rede pública municipal de ensino, acerca da proliferação de doenças transmitidas pelos carrapatos e como ajudar as crianças a se proteger do contágio. Atualmente, existem 28 especies identificadas no Estado.

Além da ação nas escolas, o centro de pesquisa chegou a realizar posteriormente um treinamento com veterinários das prefeituras municipais do interior e da capital do Estado, em parceria com o governo.

É uma coisa aleatória, mas pode acontecer de ter um surto dessa doença aqui. Então a educação é importante. Fazer o manejo dos animais, e o acesso das pessoas às áreas rurais. Isso também tem que ser forma controlada, tem que haver uma política para isso”, explica o o doutor em Biologia Molecular e pesquisador do Embrapa, Renato Andreotti.

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Os sintomas se manifestam após sete dias de contágio e podem ser facilmente confundidos com dengue e gripe, por isso o especialista alerta para a importância de, ao procurar um profissional de saúde, informar se houve ou não exposição a áreas de possível contágio. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar que a doença leve à morte.

Segundo dados do Ministério da Saúde, quatro a cada dez pessoas com diagnóstico positivo evoluem para óbito, por causa da demora para identificar o contágio.  “Ou seja, as pessoas estão chegando tarde para receber o tratamento”, explica Andreotti.

Sintomas - Os principais sintomas são febre, dor de cabeça intensa, erupção cutânea e dores no corpo. Caso os sintomas se manifestem após exposição em áreas de risco, recomenda-se buscar atendimento médico imediato e informar que houve a exposição.

O núcleo de Sanidade Animal disponibiliza para a população cartilhas informativas para a prevenção e detecção da doença através do Museu do Carrapato. Clique aqui para ter acesso à informação.

Controle e prevenção - O especialista alerta para a necessidade de expandir o monitoramento para todo o Estado, e futuramente as pesquisas serão expandidas para a região da fronteira, em parceria com pesquisadores da Bolívia, Paraguai e Argentina, para investigar se há circulação do agente transmissor da febre maculosa e outras doenças nas margens do Rio Paraguai. “É importante pra gente conhecer regionalmente esses problemas. A gente precisa ter uma ideia de como essas coisas circulam por aí”, resume.

Enquete - O empresário Andréw Zahran, 39 anos, ficou sabendo da suspeita da doença em Mato Grosso do Sul através dos portais de notícia locais. Apesar da notoriedade do assunto e do alerta para a gravidade da doença, declarou não estar receoso quanto à possibilidade de contágio.  “Não tenho medo da transmissão da doença e não tenho preocupação sobre a doença”.

O empresário Andrew Júnior não está preocupado com o contágio da doença. (Foto: Juliano Almeida)
O empresário Andrew Júnior não está preocupado com o contágio da doença. (Foto: Juliano Almeida)

A estudante Ana Bueno, 18 anos, relatou ao Campo Grande News que está ciente de como acontece a transmissão da doença e como ela se manifesta, mas não chegou a pesquisar a fundo sobre o assunto. A preocupação da jovem vai além dos seres humanos, e preza pelo bem-estar dos animais. "Todo mundo tem medo por conta das capivaras, mas tomara que eles não comecem a matar elas por causa disso”, declarou.

O eletrotécnico industrial Rildo Júnior, 23 anos, admitiu não estar por dentro de como a doença é transmitida, mas não tem receio de ser contaminado, pois ainda não houve nenhum caso confirmado. “Está acontecendo faz tempo e não chegou em Campo Grande”, observou.

Secretária Municipal de Saúde - A repartição afirma que não há motivo para se preocupar, mas que os cuidados devem ser mantidos pelo Município, que está localizado em uma região com muitas áreas verdes e com presença de animais silvestres em espaços de visitação.

A pasta destaca que é importante tomar medidas preventivas ao frequentar parques e áreas verdes. “Recomenda-se evitar o contato direto com os carrapatos, usar roupas adequadas, aplicar repelentes e realizar uma inspeção minuciosa no corpo após a exposição a esses ambientes”.

Suspeita de contágio em MS - Na manhã desta segunda-feira (19), a Sesau informou que investiga um caso suspeito de febre maculosa em Campo Grande. A vítima é um bebê, de 1 ano de idade, que está internado em um hospital particular da Capital.

De acordo com as informações repassadas pela secretaria, a criança teria ido para Guia Lopes da Laguna, município que fica a 220 km da Capital. Lá, ela teria tido contato com animais domésticos, tanto na área urbana quanto na área rural. De acordo com a secretaria, a região de Guia Lopes da Laguna não tem registros de febre maculosa.

Amostras de sangue do bebê serão enviadas para análise laboratorial no Estado de São Paulo. A doença não será confirmada ou descartada pela secretaria enquanto os resultados não saírem.

Capivaras tomando sol em parque da Capital de Mato Grosso do Sul. (Foto: Juliano Almeida)
Capivaras tomando sol em parque da Capital de Mato Grosso do Sul. (Foto: Juliano Almeida)


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