Médica recebe voz de prisão após pai denunciar omissão de socorro em UPA
Tensão entre polícia e servidores interrompeu, temporariamente, atendimentos a pacientes
Na manhã desta terça-feira (1º), um incidente envolvendo a equipe médica da UPA Coronel Antonino gerou confusão e levou à intervenção da Polícia Militar. O pai de uma criança de 10 anos, que havia sido atendida na unidade de saúde devido a uma hemorragia nasal e vômitos, registrou um boletim de ocorrência acusando omissão de socorro por parte da unidade.
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Uma médica da UPA Coronel Antonino, em Campo Grande (MS), recebeu voz de prisão após um pai denunciar suposta omissão de socorro no atendimento de sua filha de 10 anos, que apresentava hemorragia nasal e vômitos. O caso ocorreu na manhã desta terça-feira (1º), quando o pai, insatisfeito com a falta de vagas para internação, registrou um boletim de ocorrência e retornou à unidade com a Polícia Militar. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, não houve omissão, pois a criança foi atendida e encaminhada à enfermaria para observação, já recebendo medicação antes mesmo do retorno do pai. O incidente causou a suspensão temporária de alguns atendimentos na UPA, exceto na sala vermelha e enfermaria. A unidade enfrenta sobrecarga, com aumento de 2,5 mil para 4,5 mil atendimentos diários.
De acordo com relatos de Rosimeire Arias, vice-presidente do Simed-MS (Sindicato dos Médicos do Estado de MS), o pai da paciente ficou insatisfeito ao perceber que não havia vagas para a internação da criança na enfermaria. Ele teria se irritado, decidido procurar seus direitos e, em seguida, retornado à unidade acompanhado pela Polícia Militar. Ao chegar, os policiais deram voz de prisão à médica que havia atendido a paciente.

Segundo Rosimeire, a situação escalou quando a Polícia Militar começou a agir de forma autoritária, pedindo para falar com a gerente da unidade. “Chegaram aqui dentro com autoritarismo e queriam chamar a gerente. Pediram para ela ir até eles, mas a gerente pediu que fosse até a sala deles. A resposta foi negativa, e disseram que se ela não fosse até lá, dariam voz de prisão para a gerente”, explicou.
Durante o incidente, a PM entrou nas salas para confirmar que os médicos estavam em atendimento. Apesar de o atendimento ter continuado normalmente, a gerente decidiu suspender temporariamente os atendimentos em algumas áreas da unidade, exceto na sala vermelha e na enfermaria, para evitar uma possível escalada de conflitos com a população. “O atendimento foi retomado imediatamente, não houve grande intervalo sem atendimento”, afirmou Rosimeire.
A vice-presidente do sindicato ainda destacou que a médica denunciada pela ocorrência, que já havia atendido a criança, foi a responsável por providenciar uma cadeira para que a mãe da paciente pudesse se sentar enquanto aguardava mais informações.
Marcio Almeida, representante do setor jurídico do sindicato, expressou preocupação com a atitude da Polícia Militar. "Quando essas situações acontecem, a polícia deveria primeiramente buscar a gerência para evitar que a população sofra com a assistência. Caso contrário, a situação pode sair do controle, como foi o caso", afirmou.
Ele também sugeriu a criação de um protocolo de atuação junto à Secretaria de Segurança Pública do Estado, para que, ao receber denúncias de omissão de socorro, a PM primeiro se comunique com a gerência da unidade de saúde antes de tomar qualquer ação, garantindo assim o bom funcionamento do atendimento.
Desgaste - Sobre o aumento de atendimentos e os problemas de superlotação nas unidades de saúde, Rosimeire também apontou que os médicos, enfermeiros e técnicos estão enfrentando uma sobrecarga de trabalho devido ao crescente número de pacientes. "Estamos fazendo o melhor que podemos, mas precisamos da paciência da população. Não podemos atender a todos da mesma forma devido ao aumento da demanda, especialmente com sintomas respiratórios", explicou.
Em depoimento, Daiane Nunes, que estava acompanhando seu marido com uma luxação, relatou que a confusão causou um atraso nos atendimentos. "Eles estavam atendendo dois pacientes por vez, mas depois da confusão, só estavam fazendo a triagem. A gerente explicou que não era necessário chamar a polícia, pois era uma UPA", afirmou.
Já Bárbara de Oliveira, que acompanhava sua sobrinha, contou que a situação se agravou após a chegada da polícia. "A sala de medicação estava fechada e, após a chegada da PM, começaram a aparecer médicos e residentes. Quando a PM chegou, estavam procurando uma médica que estava sendo detida", disse Bárbara.
Resposta - A Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande, em nota, esclareceu que não houve omissão de socorro durante o atendimento à criança. A pasta informou que a menina foi atendida e encaminhada à enfermaria para observação, mas não havia vagas para internação imediata.
"Foi solicitado que a criança aguardasse enquanto a médica responsável procurava um leito. O pai da criança, insatisfeito, registrou um boletim de ocorrência na delegacia. Contudo, antes mesmo do retorno do pai à UPA, a paciente já estava recebendo medicação", afirmou a nota.
A prefeitura também explicou que a sobrecarga nas unidades de urgência e emergência tem levado a um aumento no número de atendimentos, que subiram de 2,5 mil para 4,5 mil por dia, o que dificulta o fluxo adequado nas unidades de saúde.
A reportagem entrou em contato com a PMMS para ter um posicionamento em relação a postura dos militares, mas até o momento não houve um retorno. O espaço segue aberto.
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