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Lado Rural

Técnicos da Iagro conhecem produção de sementes para aperfeiçoar fiscalização

Fiscais viram todas etapas de produção de sementes de pastagem seguindo padrão de excelência

Por Maristela Brunetto | 01/08/2024 14:30
Sementes in natura, mais claras, e as prontas para comercialização; fiscais conheceram processo de produção (Fotos: Marcos Maluf)
Sementes in natura, mais claras, e as prontas para comercialização; fiscais conheceram processo de produção (Fotos: Marcos Maluf)

Um grupo de fiscais agropecuários da Iagro passou os últimos dias aprendendo sobre as etapas de produção de sementes de pastagens com padrão de excelência com vistas a aperfeiçoar o trabalho e identificar produtos de baixa qualidade, que podem prejudicar a produção e pesar no bolso do pecuarista. A iniciativa, lá adiante, deve resultar em uma cultura de valorização das sementes bem produzidas, que vão resultar em melhores pastos, estima a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Jaqueline Verzignassi.

Primeiro, o grupo assistiu a palestras e, esta manhã, conheceu o processo de produção na prática, desde o campo até o final do beneficiamento, na empresa Ponto Alto, na saída para Cuiabá. O local acabou escolhido porque envolveu uma parceria da Aprossul (Associação dos Produtores de Sementes e Mudas do Estado de Mato Grosso do Sul) com o poder público e a Sicpa, uma empresa suíça que cria mecanismos de controle de segurança e qualidade e criou o programa Semente Legal.

A ideia despontou diante da constatação de que sementes de baixa qualidade disputam mercados com produtos de excelência e prejudicam a atividade agropecuária. Essa realidade fez o chefe de fiscalização agropecuária de Rondônia, Renê Parmejiani, vir para o curso.

Para além da análise das sacas: curso ajuda fiscais a reconhecer sementes de qualidade e entender processo produtivo
Para além da análise das sacas: curso ajuda fiscais a reconhecer sementes de qualidade e entender processo produtivo

Ele contou que no trabalho realizado no ano passado foi possível constatar que 60% das sementes utilizadas pelos produtores estavam aquém do padrão, o que ganha dimensão por se tratar de um estado que se firma na agropecuária, com cerca de 17 milhões de cabeças de gado e pelo menos 500 mil hectares de soja. Na entressafra, é comum agricultores utilizarem pastagens como cobertura vegetal.

Ele veio sozinho e levaria o conhecimento para os cerca de 40 colegas fiscais. Rondônia não tem empresas produtoras de sementes e um de seus fornecedores principais é o Mato Grosso do Sul, daí a oportunidade de conhecer o processo de produção aqui.

Parmejiani veio de Rondônia, estado que desponta no agro mas ainda não tem produção de sementes: esforço contra baixa qualidade
Parmejiani veio de Rondônia, estado que desponta no agro mas ainda não tem produção de sementes: esforço contra baixa qualidade

Parmejiani contou que conheceu cada fase do processo produtivo, o que vai enriquecer o trabalho de fiscalização e isso pode resultar em orientações aos compradores das sementes, elevando o perfil de escolha.

Rondônia tentou avançar no assunto e chegou ao programa Semente Legal, que aqui no Estado já certificou 3 das 12 sementeiras, uma delas a Ponto Alto, onde ocorreu o curso. O diretor-executivo da Aprossul, João Krabbe, acredita que o padrão de qualidade deverá atrair mais produtores de sementes para o programa, uma vez que resulta em um produto mais competitivo.

Da planta ao ensacamento – O processo de produção de semente começa com o plantio da forrageira, no campo. Já madura, ela cai no solo, é colhida, vindo junto torrões, palhas e insetos; passa por um processo de limpeza com peneiras e ventilação, que se repete já dentro da empresa. Quando atinge um grau de limpeza, ela recebe fungicidas e nutrientes e vai para sacas de 10 a 15 quilos. O padrão de qualidade exige pureza de 90%.

Além de conhecer todo esse processo, os fiscais o Protocolo Semente Legal, construído em parceria com a Aprossul, que envolve a observação das legislações, incluindo a trabalhista, regras de sustentabilidade, como a destinação de resíduos, o beneficiamento e o armazenamento.

As empresas que aderiram passam por uma sistemática de auditorias periódicas, porém, não programadas, denominada VEQ (Verificação Externa da Qualidade), além das auditorias anuais para implementação do Protocolo Semente Legal. Aquelas empresas que cumprem o padrão de qualidade definidos recebem uma etiqueta de segurança fornecida pela multinacional suíça SICPA. O programa é uma junção de tecnologias que visa a incorporação de um sistema de gestão integrado assim como um selo de qualidade, a exemplo do ISO, o produto pode ser conferido e ter seus dados rastreados por meio de um aplicativo público e gratuito.

Essa solução explicada aos fiscais possibilita ferramentas de identificação para reconhecer produtos de baixa qualidade ou fora do padrão ao longo da cadeia de produção, explica Giselle Oliveira, representante do Programa, apontando que o check list envolve mais de aproximadamente 50 tópicos.

Ela diz que a certificação surgiu diante de uma demanda das empresas produtoras, porque sentiam o impacto da concorrência desleal. A eficiência envolve o recebimento e encaminhamento de denúncias por produtos de má qualidade.

Empesas passaram a apostar na certificação para valorizar produto final e ampliar cultura do investimento em boas sementes
Empesas passaram a apostar na certificação para valorizar produto final e ampliar cultura do investimento em boas sementes

O padrão exigido pelo Ministério da Agricultura é que a saca contenha pelo menos 60% de pureza em sementes. Em uma comparação para leigos, seria como comprar um café e perceber que ele tem mais milho e outras impurezas do que o grão moído. Além das misturas, também é possível aferir a pureza de uma semente, ou seja, o potencial que ela tem de virar um bom pasto. No caso do programa Semente Legal, só segue reconhecida empresa que mantenha o score do índice de conformidade.

Conforme a gerente do Departamento Técnico da Ponto Alto, Cibelle Oliveira, o grupo pôde fazer muitas perguntas sobre as várias etapas no processo de produção e controle de qualidade, compreendendo os caminhos percorridos.

Boas pastagens – A Embrapa, que coloca seus pesquisadores para se dedicar a produzir sementes com qualidade, também integra o programa.

Jaqueline explica que o gasto com sementes ao formar ou reformar uma pastagem fica entre 4 e 5% do total despendido. Para ela, é injustificável que quem investe não valorize uma boa semente. Ela acredita que a fiscalização mais eficiente, que foi o propósito do curso, resultará em avaliações mais bem feitas, orientações aos consumidores, no caso, os pecuaristas, e a evolução para uma cultura de valorização do trabalho feito com excelência com as sementes.

Os números serão um fator a pesar, explica. A semente ruim leva a um pasto que não avança, possibilita surgimento de ervas daninhas e desequilíbrio à atividade, o seja, o pecuarista perde. A base de qualquer sistema agropecuário é a semente, adverte.

Cultivares desenvolvidas pela Embrapa vão para o mercado brasileiro e também são exportadas. A empresa onde ocorreu o curso, esta manhã, também vende suas sementes de pastagens no mercado externo e exporta a países como Paraguai, Bolívia e Guatemala.

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