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Meio Ambiente

Com GPS e check-up, estudo vai monitorar antas que encaram a selva urbana

Animal é conhecido como “jardineiro da floresta”, por fazer a dispersão de sementes

Aline dos Santos | 17/07/2022 15:36
Antas circulam por avenida de Campo Grande. (Foto: Reprodução)
Antas circulam por avenida de Campo Grande. (Foto: Reprodução)

Quantas são, por onde circulam e como sobrevivem na cidade? Detalhes da rotina das antas que habitam a área urbana de Campo Grande serão revelados a partir de estudo que começa nesta segunda-feira (dia 18). Equipe do projeto “Antas Urbanas” vai percorrer locais onde os animais aparecem com mais frequência. O objetivo é instalar cinco radares com GPS e realizar exames para detectar presença de pesticidas e microplásticos.

O trabalho será realizado  a partir do entardecer, quando os animais saem à procura de comida. A equipe vai percorrer pontos como Chácara dos Poderes, Parque dos Poderes e imediações do Parque Estadual Matas do Segredo (região do Bairro Nova Lima).

O colar envia informações por satélite e vai mostrar o tamanho da área por onde a anta circula, se “mora” na cidade ou se vem de pontos mais afastados. Antes de receber o GPS, o animal será anestesiado, com coleta de sangue para exames. O peso vai ser calculado por estimativa, pois seria necessário guincho para colocá-lo e retirá-lo da balança.

 “A anta é o maior mamífero da América Latina e conhecida como jardineira da floresta, por fazer a dispersão de sementes de árvores. A gente tem estudos que mostram que a anta mantém a biodiversidade”, afirma o biólogo Felipe Moreli Fantacini.

Herbívora, a anta se alimenta de árvores frutíferas, pesa em média 200 quilos e na maioria das vezes circula solitária pela cidade. Também é possível avistá-las em companhia de filhote, que é dependente da mãe nos primeiros 12 meses de vida.


“Campo Grande é peculiar. Criada no meio do cerrado e com grandes fragmentos de mata. A cidade tem os parques lineares na beirada dos córregos, com certa conectividade”, destaca Fantacini.

Por meio do WhatsApp, a população participa do projeto com envio de imagens dos animais, pegadas e, infelizmente, atropelamentos, como quatro casos registrados no anel rodoviário de Campo Grande. Elas ainda são alvo de ataques de cachorros. Os dados devem ser enviados para o número (67) 99337-0799, contendo localização e horário em que o animal foi avistado.

Só no Brasil – Enquanto a tecnologia vai jogar luzes sobre a rotina e como reduzir problemas na interação dos animais com o ambiente urbano, ainda não foi possível explicar com certeza de onde surgiu a conotação pejorativa que fez o termo anta ser sinônimo de desprovido de inteligência. Segundo o biólogo, a anta está presente em 11 países da América do Sul, mas a palavra só é usada como xingamento no Brasil.

Na Colômbia, por exemplo, o animal tem status de ser mitológico e motivo de orgulho. Uma das justificativas para esse tom pejorativo em terras brasileiras remonta à chegada dos portugueses, que teriam tentado domesticar a anta por ser grande. Mas, diante da impossibilidade de domar o animar selvagem para o trabalho, o mamífero teria ganhado essa fama de “burro”, agora, numa afronta aos muares.

Segundo o biólogo, outra corrente é de que as antas são animais mais fáceis de serem cassados, pois são, relativamente, dóceis. “Não se sabe a origem certa disso. Mas é o oposto, o animal é extremamente inteligente”.

Armadilha fotográfica flagra anta na área urbana de Campo Grande. (Foto: IPE/INCAB)
Armadilha fotográfica flagra anta na área urbana de Campo Grande. (Foto: IPE/INCAB)

Expansão – O monitoramento das antas pelo IPÊ/Incab (Instituto de Pesquisas Ecológicas/ Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira) começou em 1996 na Mata Atlântica.

No ano de 2008, a pesquisa chegou ao Pantanal. Sete anos depois, o levantamento passou a ser realizado no cerrado, entre Nova Alvorada do Sul e Nova Andradina. Em 2021, a pesquisa começou em Campo Grande e na Amazônia. “Para conseguir entender como esse animal vive em cada bioma. Identificar as ameaças e a melhor estratégia de conservação”.

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