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Meio Ambiente

De camisinha a cabrito, o lixo no lugar errado que causa muitos estragos

Viviane Oliveira | 15/09/2014 13:48
Depois do esgoto tratado na ETE Los Angeles, a água vai para o rio Anhanduí. (Foto: Marcelo Calazans)
Depois do esgoto tratado na ETE Los Angeles, a água vai para o rio Anhanduí. (Foto: Marcelo Calazans)
Bernardino trabalha na limpeza de boca-de-lobo em Campo Grande(Foto: Simão Nogueira)
Bernardino trabalha na limpeza de boca-de-lobo em Campo Grande(Foto: Simão Nogueira)
Carlos limpando uma das 26 elevatórias que existem na cidade. (Foto: Marcelo Calazans)
Carlos limpando uma das 26 elevatórias que existem na cidade. (Foto: Marcelo Calazans)

Acostumado a fazer a limpeza dos bueiros de Campo Grande há 35 anos, Bernardino Antônio Barbosa, não se esquece do dia que ficou preso ao entrar em uma manilha de 50 centímetros de diâmetro. Com 65 anos e prestes a se aposentar, o funcionário da Prefeitura conta a história, que aconteceu há 5 anos, em meio a gargalhadas, mas confessa que no dia ficou com medo do pior acontecer.

Ele estava com mais dois colegas de trabalho, quando resolveu entrar no encanamento para descobrir o que impedia a água da chuva de seguir seu fluxo. Dentro da  tubulação, Bernadino se arrastou por alguns metros e percebeu que um toco e uma quantidade grande de lixo eram motivo dos alagamentos no bairro em época de chuva.

O susto, no entanto, veio quando Bernardino tentou sair e não conseguiu porque escorregava em uma camada de lodo. O socorro veio dos companheiros de trabalho, que escutaram os gritos do colega e o puxaram pelas pernas. “Aquele dia eu fiquei assustado e agora só entro quando a espessura é maior”, diz ao explicar que o tamanho da estrutura varia de 50 centímetros a 2 metros de diâmetro.

Hoje, Bernardino e Edmilson José dos Santos, 32, que trabalha na função há 7 meses, são os únicos responsáveis pela limpeza dos bueiros de Campo Grande. A equipe de trabalho é composta por um motorista do caminhão-caçamba da Prefeitura e dois trabalhadores. A história contada por ele é o ponto de partida dessa reportagem porque ilustra o quanto o descuido, a desinformação e o despreparo do cidadão em relação dos resíduos que se produz em casa afeta a vida de todos e coloca algumas delas em risco, além de ser um perigo em potencial para a saúde pública.

Os equipamentos utilizados por Bernardino e Edmilson para limpar a sujeira que aparece o tempo todo na rede pluvial são duas pás com cabo de ferro para poder suportar a quantidade de sujeira, principalmente terra, jogada, na maioria das vezes, por quem varre as calçadas.

O bueiro faz parte do sistema de captação de água pluvial e tem duas opções de limpeza. Uma delas é manual e a outra, quando a rede de drenagem fica obstruída, é mais complicada porque precisa quebrar o asfalto. “A população não liga em colaborar com a limpeza, mas o prejuízo, na maioria das vezes, vem em época de chuva com alagamentos e enchentes”, pontua.

Detrito retirado da estação elevatória da Avenida Ernesto Geisel. (Foto: Marcelo Calazans)
Detrito retirado da estação elevatória da Avenida Ernesto Geisel. (Foto: Marcelo Calazans)
Uma das etapas, já na estação de tratamento Los Angeles, que a água passa antes de ser devolvida à natureza. (Foto: Marcelo Calazans)
Uma das etapas, já na estação de tratamento Los Angeles, que a água passa antes de ser devolvida à natureza. (Foto: Marcelo Calazans)

Rotina compartilhada - O trabalho de Bernardino se assemelha ao de Carlos de Araújo Dudu, 33 anos, que é responsável por fazer a limpeza das estações elevatórias que recebem o esgoto da cidade e fazem bombeamento para as estações de tratamento da Concessionária Águas Guariroba. Há 11 anos na mesma função, o funcionário já encontrou na rede de esgoto tudo quanto é tipo de detrito, que não deveria estar ali, como por exemplo animal morto.

Além de sacolas plásticas, preservativo, absorvente, garrafas pets, gordura, fralda descartável e brinquedos, também estão na lista do que é encontrado na tubulação de esgoto cabrito, gato e cachorro mortos. Tudo isso vai parar na rede porque são jogados pela população nos vasos sanitários, ralos dos tanques, das pias das residências e até mesmo direto nos tampões de esgoto que ficam na rua. “Não sei se é por falta de conhecimento, mas as pessoas jogam de tudo, tanto na rede de esgoto quanto nos bueiros”, diz Carlos.

Esses resíduos, que deveriam ter destinação correta, acabam impedindo a passagem do esgoto nos sistemas interligados. Assim,  o dejeto que não consegue seguir o fluxo começa a vazar na rua ou na casa de alguém causando mau cheiro e focos de contaminação.

O processo de formação de esgoto começa quando se lava louça, liga o chuveiro, dá descarga, lava roupa, calçada, limpa casa. Até ser devolvido para os córregos e rio da cidade, o dejeto passa por um longo caminho.

Funcionários limpando os tampões do esgoto que ficam na rua. (Foto: Marcelo Calazans)
Funcionários limpando os tampões do esgoto que ficam na rua. (Foto: Marcelo Calazans)
Cabrito encontrado na ETE Los Angeles. (Foto: divulgação/Águas Guariroba)
Cabrito encontrado na ETE Los Angeles. (Foto: divulgação/Águas Guariroba)

A engenheira civil Francis Faustino Yamamoto explica que o esgoto coletado nas residências passa por um sistema interligado na rua, depois é distribuído para as 26 estações elevatórias que existem na cidade. Daí por diante, cada fase por onde o esgoto passa tem um sistema de gradeamento, com espessura cada vez menor para que a sujeira seja retida.

Os detritos restantes são retirados manualmente, da mesma forma que é eliminado o lixo da rede de água pluvial. A diferença é que a água da chuva vai direto para os córregos da cidade. Já o esgoto passa primeiro pelas estações de tratamento da Capital, que são duas: a ETE Los Angeles e a ETE Imbirussu. “Mesmo assim, ainda chega resíduo na estação. Na ETE Los Angeles, a maior da cidade, é retirada 1 tonelada de lixo por dia”, destaca Francis. Depois de tratado, o efluente é lançado nos córregos e rio sem prejuízo ao meio ambiente, segundo a concessionária do serviço.

Alerta - A engenheira chama a atenção, também, para as pessoas terem cuidado com as ligações que armazenam a água pluvial. Os ralos onde a chuva escoa não podem ser conectados de forma nenhuma à rede de esgoto.

Essa situação, causada por desconhecimento ou ligações clandestinas, é irregular e provoca transtorno, principalmente quando chove. “A prática contribui com entupimento e o transbordamento do esgoto em vias públicas, pelos ralos e vasos sanitários. Além disso, pode danificar o sistema de abastecimento”, explica. A rede não tem capacidade para suportar o volume da água gerado pela chuva.

Além dos bueiros e do sistema de esgoto, o lixo urbano também está presente na rede de energia. Só este ano, a Enersul registrou 233 ocorrências de objeto estranho nos cabos, como por exemplo tênis pendurado pelo cadarço e linhas de pipas.

O que mais chamou a atenção, segundo a empresa, foi quando funcionários encontraram na fiação elétrica um quadro de bicicleta pequena e uma cadeira escolar. Empinar pipas próximo à fiação ou jogar objetos na rede, além do sério risco de acidentes, pode deixar ruas, bairros e até uma região inteira sem o fornecimento de energia.

Pipa deixada na rede pode provocar acidentes.  (Foto: Marcos Ermínio)
Pipa deixada na rede pode provocar acidentes. (Foto: Marcos Ermínio)
Tênis e outros objetos são encontrados constantemente na fiação elétrica. (Foto: Marcos Ermínio)
Tênis e outros objetos são encontrados constantemente na fiação elétrica. (Foto: Marcos Ermínio)
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